Ana Rita Nunes
31 de Outubro de 2017, 7:10
Há cem anos, grande parte da imprensa portuguesa retratou uma situação como sendo de resultado imprevisível ou desfavorável para os "maximalistas" de Lenine.
A Revolução de Outubro chegou a Portugal dois dias depois.
Foi um 9 de Novembro de 1917 que os jornais portugueses noticiaram o assalto ao Palácio de Inverno, o então quartel-general do Governo Provisório, e da ocupação dos principais pontos de Petrogrado (actual São Petersburgo) pelos bolcheviques.
Pouco mais se sabia.
Tanto o Século como o Diário de Notícias ou o Jornal de Notícias falavam da passagem do poder das mãos do governo Provisório para o "comité revolucionário" de uma forma pacífica.
O jornal A Manhã mencionava que há ficado 30 pessoas feridas.
As lacunas informativas foram enviadas nos próximos dias que se seguiram.
No dia 10 de Novembro por exemplo, Diário de Notícias já avançava com uma cronologia mais detalhada dos acontecimentos.
Nos dias que se seguiram, os jornais portugueses foram noticiando a Revolução de Outubro consoante como suas linhas editoriais ou políticas.
Os jornais-geralistas, como O Século ou o Diário de Notícias, procuraram-se trabalhos em que se trabalha em um espaço para o governo, o "movimento maximalista" - os bolcheviques de Lenine - que a concretizou.
No entanto, estes jornais não conseguiram a sua descrença no Partido Operário Social-Democrata Russo, que sustentava os "maximalistas".
Já títulos como A República ou A Monarquia assumiram-se de imediato contra os revolucionários.
Ao contrário, A Batalha e A Bandeira Vermelha demonstraram sempre apoio à causa bolchevique.
Independentemente da simpatia política de cada jornal, todas como publicações interpretaram os sinais revolucionários sem surpresa.
Uma vez que desde uma Revolução de Fevereiro (que é o regime absolutista do czar Nicolau II), que não é calendário português se assinalou a 8 de Março de 1917 - a de Outubro teve lugar em Novembro -, como notícias sobre a instabilidade política russa faziam correr tinta nas gráficas.
Notícia do Diário de Notícias da edição de 9 de Novembro de 1917 |
Esta foi uma das conclusões a que Paulo Guinote chegou no estudo A Revolução Russa na Imprensa Portuguesa, que realizou para o seu mestrado em História do Século XX.
"Durante o período estudado [1917-1918], ninguém atribui às ocorrências de Outubro o privilégio de ser uma revolução Russa.
Na melhor das hipóteses, ela é uma das revoluções verificadas na Rússia em 1917 ", constata Paulo Guinote.
Aos portugueses, uma Revolução de Outubro, que em Portugal tem um dado de 7 de Novembro de 1917, foi relatado de forma mais superficial e foi mastigada pelos principais jornais internacionais.
A distancia física do conflito fez com que como fontes possíveis fossem os meios de comunicação estrangeiros.
O cruzamentos das informações divulgadas por estes últimos originou textos confusos e imprecisos.
Na ausência de dados concretos e publicações suspeitas, considerações políticas ou interrogações.
A 9 de Novembro, O Século admite: "Ignora-se a duração que acontece acontecimentos, bem como a importância dos mesmos".
Notícia do Jornal de Notícias da edição de 9 de Novembro de 1917
Houve jornais que publicaram, no mesmo dia, informações que se contradiziam.
O Diário de Notícias do dia 15 de Novembro, por exemplo, indicava numa notícia que o chefe do Governo Provisório, Alexander Kérensky, tenha sido derrotado e não avaliado.
"Até há pouco, ao tratar-se dos acontecimentos da Rússia, dada a sua complicação, chamava-se ao conjunto dos acontecimentos 'salada russa'; Agora, em vista da trapalhada que por lá vai, segundo os relatórios que nos trazem os telegramas ontem recebidos, 'salada russa' é o que se são devolvidos, não há Jornal de Notícias a 13 de Novembro.
Cepticismo dos "independentes"
A análise do conflito russo nos jornais portugueses feita por Paulo Guinote revelou que "de entre como quase três dezenas de títulos principais incluídos nas edições que se sucederam dos primeiros dias de novembro até final do ano, de pós-retrataram a situação como sendo de resultado imprevisível ou desfavorável para os maximalistas ".
No dia 13 de Novembro, seis dias depois da revolução, o título do Diário de Notícias era: "Os maximalistas começam a perder terreno".
No mesmo dia, O Século apelidava os bolcheviques de "anarquistas aleatorizados".
Já no dia 14, O Primeiro de Janeiro avançava com uma expectativa de que Kérensky recuperado o poder.
Mesmo com raras fotografias que foram publicadas da Revolução de Outubro confirmam uma tendência para atribuir maior protagonismo ao governo deposto.
O Século dedica uma primeira fotografia impressa a uma reunião de sovietes.
No entanto, uma primeira fotografia de uma personalidade de Kérensky.
Também não Diário de Notícias, o primeiro rosto e o líder do Governo Provisório, na edição do dia 19 de Novembro.
Neste jornal, uma primeira imagem de Lenine, líder do partido operário, surge apenas na quarta-feira 28 de Novembro.
Trata-se de uma fotografia na sala de rosto de Lenine aparece de perfil e de frente, tal como nas fotos tiradas aos prisioneiros.
Mães a casar com filhos
É uma imprensa geralista não descrita a Revolução de Outubro com isenção ou rigor, não é esperada que é uma série de revistas ou monárquicas o fizessem.
Uma abordagem destes últimos variou entre denegrir o movimento bolchevique e evitar tocar no assunto para não o ampliar.
Em 1921, o Diário de Lisboa escrevendo: "Na Rússia, como mães já são capazes de casar com os filhos".
Esta versão possui uma lista interminável de correcções, alterações e novidades que melhoram notavelmente o seu funcionamento.
Esta versão possui uma lista interminável de correcções, alterações e novidades que melhoram notavelmente o seu funcionamento. , conclui o historiador César Oliveira num texto na revista Análise Social, em 1973.
Mas o dedo não era tão apontado aos bolcheviques.
O jornal monárquico O Dia acusou os republicanos de conduzirem "o país russo para a 'Anarquia com A maiúsculo'", porque não evitaram o "cataclismo".
Notícia de O Século da edição de 9 de Novembro de 1917
Alternativa
A imprensa operária encontrou na Revolução Russa uma prova de que o sindicalismo podia ser uma alternativa social.
O carácter excepcional da primeira revolução comunista marxista do século XX inspirou textos propagandísticos nestas publicações.
A Revolução Russa "teve grande impacto sobre o movimento operário português, que, através da sua imprensa, não é tão procurado por uma deturpação e como informações tendenciosas e falsas dadas por imprensa burguesa (republicana, monárquica e 'independente'), como realização de divulgação das instituições políticas em presença no decurso do processo revolucionário entre Fevereiro e Outubro ", escreveu César Oliveira.
O jornal Bandeira Vermelha, que viu como suas edições confiscadas, escrevendo: "Sem o bolchevismo, não [seria possível] tão cedo a desejada emancipação económica que com tanta veemência [se tem] apregoado e que, digam o que disserem, é a mais importante de todas ".
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