22 nov 2017 08:46
O diretor do Programa Africano no instituto de estudos britânico Chatham House considerou hoje que a onda de exonerações em Angola demonstra que o novo Presidente "rasgou o acordo de compromisso" negociado com José Eduardo dos Santos.
“Ao fazer isto [a onda de exonerações dos últimos dias], João Lourenço rasgou o Governo de compromisso negociado com (José Eduardo) dos Santos por alturas da sua tomada de posse como chefe de Estado, em setembro”, disse Alex Vines em entrevista à Lusa.
“O Presidente (João) Lourenço também demonstrou que a família dos Santos já não é intocável”, acrescentou o conhecido analista britânico, que é também diretor de Estudos Regionais e Segurança Internacional na Chatham House, o Instituto Real de Estudos Internacionais.
“A Sonangol é a principal mudança, mas as mudanças nos meios de comunicação social e nas relações públicas também levaram a demissões nos membros da família” do antigo líder angolano.
O Presidente de Angola, na última semana, tem-se multiplicado em exonerações nos principais cargos da estrutura de poder no país, desde a principal empresa, a Sonangol, até aos chefes de polícia e também na área judicial.
“A prioridade de João Lourenço foi a reforma económica, como a indústria petrolífera”, diz Vines, acrescentando que “o despedimento de Isabel dos Santos é parte desta estratégia que apontou aos principais pilares da economia angolana: o petróleo, com a Sonangol, a indústria dos diamantes, com a Endiama, e as finanças, com o Banco Nacional de Angola”, cujos líderes foram exonerados.
No geral, vinca Alex Vines, “isto significa que a família dos Santos vai ter de andar com cuidado e mostrar cada vez mais as suas capacidades tecnocráticas”, apontando ainda que “o erro de Isabel dos Santos foi que tinha pouca experiência na indústria petrolífera e subcontratou [a gestão] a consultores quando ela própria não estava preparada para se focar completamente na Sonangol até chegar aos últimos meses”.
O panorama para a família do antigo Presidente pode até piorar, considera este analista, salientando que apesar de José Eduardo dos Santos “ainda ser o presidente do Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA), está a perder força e com a saúde fraca”, por isso “não é certo quando o MPLA vai fazer um congresso para alinhar Lourenço como chefe de Estado e do partido” no poder.
“Quando deixar de ser presidente do MPLA, ou a sua saúde piorar, poderá haver mais pressão política sobre a sua família”, vaticina Vines.
Aumentar maioria do em 2022 é o principal objetivo de João Lourenço
"O principal teste para João Lourenço será em 2022, nas próximas eleições, para se ver se conseguiu melhorar a economia angolana e parar o declínio do apoio ao Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA)", disse Alex Vines em entrevista à Lusa.
O diretor de Estudos Regionais e Segurança Internacional na Chatham House, o Instituto Real de Estudos Internacionais, salienta que "para realmente estar seguro, o Presidente vai ter de mostrar que pode aumentar a maioria do MPLA", e isto é, assim, "o seu principal objetivo".
Desde que tomou posse, a 26 de setembro, na sequência das eleições gerais angolanas de 23 de agosto, João Lourenço procedeu a exonerações de várias administrações de empresas estatais, dos setores de diamantes, minerais, petróleos, comunicação social, banca comercial pública e Banco Nacional de Angola, anteriormente nomeadas por José Eduardo dos Santos.
A exoneração de Isabel dos Santos, filha do ex-chefe de Estado, do cargo de presidente do conselho de administração da petrolífera estatal Sonangol, aconteceu na quarta-feira passada e foi a decisão mais mediática, seguindo-se a polícia e as chefias militares.
General na reserva, João Lourenço, de 62 anos, tornou-se em setembro no terceiro Presidente da República de Angola, sucedendo a José Eduardo dos Santos, que continua a liderar o MPLA, partido no poder desde a independência, em 1975.
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