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quinta-feira, 30 de novembro de 2017

A PRIVATIZAÇÃO DA SOBERANIA NACIONAL: O CASO MANUEL VICENTE

Maka Angola
30 de Novembro de 2017

De forma patética, o novo ministro (mas velho secretário de Estado) das Relações Exteriores de Angola, Manuel Augusto, afirmou mais uma vez que o país “não se moverá nas acções de cooperação com Portugal (…) enquanto o caso [de Manuel Vicente] não tiver um desfecho”, adiantando que a solução seria entregar o processo à justiça angolana, no âmbito do acordo de cooperação judiciária entre Portugal e Angola.

Além disso, Augusto também proferiu palavras confusas sobre a razão de Estado e a submissão do poder judicial à razão de Estado, demonstrando exemplarmente que os “novos” democratas do governo não sabem verdadeiramente o que é o Estado Democrático de Direito. 
Num Estado Democrático de Direito, o poder judicial só se submete à Constituição e à Lei. A razão de Estado é um instrumento típico dos Estados europeus absolutistas dos séculos XVII e XVIII, nada tendo que ver com as modernas democracias. 
Ou melhor, que nada deveria ter que ver com as modernas democracias…

Aliás, enquanto foi secretário de Estado, Manuel Augusto habituou-se a observar a submissão portuguesa aos interesses dos dirigentes angolanos. 
De facto, a justiça portuguesa tinha uma longa tradição de deferência face ao poder político e, no caso de Angola, essa deferência traduzia-se em arquivar todos os casos que dissessem respeito aos líderes angolanos. 
Basta lembrar a decisão – tomada pela então directora do Departamento Central de Investigação e Acção Penal (DCIAP – principal órgão de investigação do Ministério Público português), Cândida Almeida – de não investigar os indícios de fraude fiscal e branqueamento de capitais que surgiram no âmbito da Operação Furacão (inquérito criminal dirigido ao sector financeiro por fuga ao fisco) em relação a Isabel dos Santos. 
Ou o constante arquivamento, por parte das autoridades judiciárias lusas, das queixas apresentadas por Rafael Marques, fazendo eco da vontade do então presidente da República Cavaco Silva, segundo o qual os assuntos de Angola deviam ser tratados em Angola.

Durante anos a fio, o poder judicial português foi cúmplice do mercenarismo político do governo de Lisboa face a Luanda. 
Por isso, não é difícil compreender o espanto de Manuel Augusto perante a mudança de atitude dos magistrados portugueses.

Até que ponto estamos perante um mero epifenómeno, ou perante uma atitude estruturalmente nova do judiciário português, ainda é uma questão em aberto. 
Mas o certo é que quer no Brasil, com o caso Lava-Jato, quer em Portugal, com a Operação Marquês, em que o ex-primeiro-ministro José Sócrates e o ex-primeiro banqueiro Ricardo Salgado são acusados, parece existir algum activismo judicial, saindo da típica letargia subserviente das magistraturas lusófonas.

Vamos acreditar que as magistraturas decidiram apenas obedecer à Constituição e à Lei, como deve ser.

O caso das acusações de corrupção e branqueamento de capitais a Manuel Vicente, bem como a investigação ao anterior governador do Banco Nacional de Angola, Valter Filipe, são os reais testes acerca do empenho de João Lourenço em combater a corrupção. Não são as detenções de um administrador da Autoridade Tributária e de um director nacional do Tesouro – arraia-miúda – que comprovam esse empenho. 
É no confronto com os interesses dos mais poderosos que se pode avaliar a fibra e a determinação de Lourenço. 
E o novo presidente, até ao momento tão bem encaminhado, parece agora patinar.

Por alguma estranha razão, Angola quer transformar o caso de Manuel Vicente numa questão de afirmação da soberania nacional e de protecção do Estado. 
Um erro.

Nenhum dos comportamentos imputados a Manuel Vicente está ligado ao exercício de funções soberanas ou sequer públicas.

A acusação a Manuel Vicente refere-se ao tempo em que este era presidente da Sonangol, e não vice-presidente da República, e teria pago a um procurador do Ministério Público português para arquivar uma investigação que dizia respeito aos fundos utilizados na compra de apartamentos no Estoril, Portugal.

Não está em causa nenhum acto soberano, do Estado, nem sequer a actuação enquanto presidente de uma empresa pública. 
O que está em causa é um acto privado de um cidadão que comprou uma casa para uso particular.

Há obviamente uma confusão conceptual na cabeça do ministro Augusto. 
Comprar uma casa em Portugal, mesmo no Estoril, não é um acto de soberania do Estado angolano.

Estamos portanto a assistir àquilo que Achille Mbembe – o insuspeito estudioso camaronês do pós-colonialismo – chamava de “privatização sem precedentes de prerrogativas públicas e da soberania”.

Quando as lideranças angolanas falam sobre a soberania, estão a falar de uma “soberania privada”, e não da soberania do Estado, e as imunidades que invocam referem-se às que consideram vinculadas aos seus assuntos privados.

Pode dizer-se que o caso Manuel Vicente e o tratamento político que lhe está a ser dado são paradigmáticos de privatização de prerrogativas públicas, de privatização da soberania, já que, em termos legais, os actos indiciados de Vicente não são actos públicos, mas privados, e ele está a usar todo o mecanismo de governo para se defender.

Sejamos claros: o caso de Manuel Vicente não envolve a soberania de Angola, mas sim – e tão-somente – a sua defesa privada. 
E para garantir a sua impunidade, recorre-se a expedientes de enorme abuso de poder.

Assim, se o ministro das Relações Exteriores e, em última análise, o seu chefe João Lourenço insistirem em recorrer aos mecanismos públicos do Estado para defender uma operação privada de um antigo dirigente, estarão a demonstrar que continua a não existir Estado de Direito em Angola, nem vontade real de combater a corrupção, mantendo-se a soberania nacional nas mãos dos interesses privados da elite dirigente.

Especialista acusa ministro angolano de violar leis sobre as comunicações no país

Fonte: Club-k.net
novembro 30, 2017

Luanda - Há alguns dias atrás, li com atenção e alguma profunda inquietação sobre os pronunciamentos do Senhor Ministro de tutela José Carvalho da Rocha quando disse que Com todo respeito Senhor Ministro, que lei é essa que outorga esta obrigação?
Fonte: Club-k.net

Em Angola, os serviços de Telecomunicações são regulados pela Lei no 8/01 de 11 de Maio - Bases das Telecomunicações.

Nesta mesma lei, o Ministério das Telecomunicações transgride muitos artigos e referidos pontos específicos sobre licenciamento, operação e até a partilha ou não de pontos de conecção (infraestruturas) dos operadores dos serviços de telecomunicação no território nacional, para além de eu discordar com veemência que neste momento haja necessidade de se ́ ́poupar ́ ́ o espectro radioeléctrico que abrange o nosso território nacional, uma vez que é sabido que dentro dos padrões internacionais, o uso do referido espectro radioeléctrico em Angola é tido quase nulo.

As tecnologias de base GSM (850, 900 – EGSM, 1800 – DCS, 1900 – PCS) todas operam em MHz e se levarmos em conta o espectro radioeléctrico que o país tem a disposição teremos um número de operadores mais do que necessários para dar cobertura à todo território nacional usando uma infraestrutura própria, i.e. alocando um particular espectro radioeléctrico a cada operador.

Porém, o que mais me aflige é o facto do Ministério talvez pretender se fazer passar de despercebido sobre a tipicidade técnica-operacional deste tipo de operador que supostamente exige-se por lei, uma vez que ignora as leis vigentes do país sobre a matéria.

Licenciar um novo operador móvel e que esteja sujeito a usar as infraestruturas de um outro operador, em termos técnicos este tipo de operador se denomina OPERADOR DE REDE MÓVEL VIRTUAL.

Um Operador de Rede Móvel Virtual em essência é: uma empresa que presta serviços de telefonia móvel, mas que não tem sua própria frequência licenciada em todo o espectro radioeléctrico, nem necessariamente possui toda a infraestrutura necessária para fornecer serviços de telefonia móvel.

Ora vejamos: O Senhor Ministro diz que “Se partilharmos as infraestruturas diminuímos os riscos, os investimentos a fazer são melhores”. 
Será mesmo? operadores de telecomunicações que operam no país o cumprimento da legislação que obriga à vai "exigir" aos partilha das infraestruturas.

Sejamos sinceros e assumamos, que dos dois operadores móveis existentes no país um deles irá em breve se subdividir e criar-se um operador virtual com uma designação diferente, mas que a infraestrutura será a mesma assim como a qualidade dos serviços, pois que, em termos reais, qualquer problema técnico que ocorrer no operador que detém a infraestrutura, irá afectar taxativamente no operador virtual o que per si não trará melhorias algumas tendo conhecimento do actual estado operacional dos nossos operadores móveis.

Diremos que, tendo em conta a composição ou a concepção física do operador real assim como a do virtual, tecnicamente teremos uma única rede, mas subdividida em duas redes lógicas. 
E, como engenheiros, podemos imaginar um circuito em série, no qual o primeiro elemento se for desligado, os restantes também irão abaixo e, é assim que estaremos a diminuirmos os riscos? 
Condicionando o funcionamento de um operador ao outro? 
Os operadores virtuais são fáceis de gerir, mas pecam muito quanto à sua dependência de uma outra rede, pois que estão sempre susceptíveis aos problemas dos operadores das infraestruturas. 
Quem estaria interessado em investir numa tecnologia do género tendo em conta as crónicas problemáticas técnicas que os actuais operadores móveis padecem neste país? Está mais do que óbvio que serão os mesmos que já existem e é aqui onde está o gato que deve ser desvendado.

Para que conferir o poder de domínio absoluto à UNITEL ou à MOVICEL sobre outros operadores?

A lei em epígrafe, no seu Artigo 1.o (Âmbitos e Objectivos) diz o seguinte:

Ponto – 1: Promover o investimento público e privado, estimulando o exercício da actividade em regime de concorrência sã, assente em regras transparentes, assegurando, no quadro das condições de licenciamento, a extensão de serviços básicos às zonas rurais e remotas, com padrões de qualidade e preços adequados

O Ministério da tutela quer fazer-nos crer que o senhorio se colocaria em pé de igualdade e concorrer com transparência com o seu inquilino? 
– Talvez sim! 
Mas conhecendo quem é este senhorio, tenho profundas dúvidas, pois basta vermos o actual estado das cimenteiras a nível nacional e a real causa para que chegassem ao ponto de paralisação.

Ponto – 2: Garantir que a concorrência entre operadores de serviços se baseie no princípio da igualdade de oportunidades sem quaisquer direitos exclusivos ou especiais.

Seria salutar que o Ministério provasse ao povo Angolano de que realmente neste momento não há espectro radioeléctrico disponível que possa ser alocado ao futuro operador a ser licenciado. 
Como engenheiros, podemos confrontar este importantíssimo dado técnico em conjunto, basta o Ministério se disponibilizar.

Caso contrário, estaremos diante duma prova irrefutável de que o Ministério das Telecomunicações e Tecnologias de Informação está a practicar um acto de protecionismo técnico dos interesses de alguém em detrimento dos do Povo Angolano que precisa se desafogar com o surgimento de um outro operador independente.

Diante desta transgressão da Lei, estou em crer que cabe aos órgãos de soberania do Estado agirem e corrigirem o que está mal para se melhor o que está bem em prol da população.

Artigo 6.o (Tutela das Telecomunicações)

Ponto – 1: Fazer cumprir a política do Governo em matéria de telecomunicações tendo em conta o pressuposto de que o Ministério está em transgressão do Ponto – 2, Artigo1.o, estaria em concomitância a transgredir o Ponto – 1 do 6.o Artigo da mesma Lei em referência.
Sendo assim, estendo o meu apelo ao Camarada Presidente da República General João Manuel Gonçalves Lourenço se pudesse olhar aos procedimentos do Ministério das Telecomunicações e Tecnologias de Informação para possível chamamento de responsabilidade à quem de direito pois, não se está a Cumprir com a Política do Governo em Matérias de Telecomunicações nem estaremos a Corrigir o Mal e Melhorar o que está bem nesta esfera, mas sim a garantir um monopólio aos mesmos que já conhecemos.

Ponto – 5: Normalizar e homologar os materiais e equipamentos de telecomunicações e definir as condições da sua ligação à rede de telecomunicações de uso público.

O Ministério das Telecomunicações e Tecnologias de Informação, ao escusar-se em alocar um espectro radioeléctrico ao futuro operador está mais uma vez a transgredir a lei, pois este provedor sendo virtual estará privado de aceder directamente à rede de telecomunicações de uso público, vulgo PSTN – Rede Telefónica Pública Comutada.

Artigo 8.o (Princípios de Regulação).

Ponto – 3: Garantir a expansão dos serviços de telecomunicações à toda extensão do País com qualidade e a preços acessíveis.

Ponto – 7: Salvaguardar, nos termos da lei a disponibilização dos serviços em livre concorrência.
Havendo uma relação do tipo senhorio-inquilino, o Ministério das Telecomunicações e Tecnologias de Informação não está a salvaguardar nos termos da lei a disposição dos serviços em livre concorrência nem garante à expansão dos serviços do futuro operador virtual para a prática de preços que sejam competitivos com o seu senhorio, pois este estará submisso às políticas técnicas e financeiras do seu senhorio dentro do mesmo mercado.

Artigo 29.o (Infraestruturas de Rede Privativas)

A Autoridade das Telecomunicações determina em diploma próprio as condições em que as redes privativas podem, a título excepcional ser ligadas à rede de telecomunicações de uso público, Ficando Vedada a Possibilidade de Interligação entre Privativas com Licenças Emitidas para Titulares Distintos.

Vemos que o Ministério das Telecomunicações e Tecnologias de Informação, inocentemente transgride a lei redondamente; pois o futuro operador terá uma licença diferente da de qualquer outro operador já existente no mercado, pelo que fica vedada (qualquer) possibilidade deste se interligar com qualquer dos já existentes, em outros termos, o futuro operador deverá merecer o seu próprio espectro radioelétrico e construir a sua própria infraestrutura para o seu funcionamento, garantindo-lhe uma independência total de funcionamento e concorrer com os outros em pé de igualdade.

No presente cenário, o Ministério das Telecomunicações e Tecnologias de Informação parece não só estar a pisotear a presente lei, mas sim claramente carece de uma lei que sustente os seus actos em autorizar operadores virtuais de rede móvel, pois tendo em conta a sua especificidade existencial e operacional, estes precisarão de uma outra cobertura legislativa que os protegesse contra os susceptíveis actos de concorrência negativa, políticas de pagamento de taxas de rendimento assim como practicar uma verdadeira política de abertura do mercado nacional acabando com a actual monopolização e melhorar os serviços que vão desde a sua qualidade à práctica de preços que poderiam ser reduzidos até 50% aos actuais.

Para tal, cabe ao Ministério da tutela elaborar e apresentar propostas-leis à Assembleia Nacional para a sua aprovação e possível homologação pela Sua Exa. Senhor Presidente da República de Angola, pois a actividade destes operadores virtuais terá impacto directo à vida social, económica e segurança nacional como um todo.

CORRIGIR O QUE ESTÁ MAL, MELHORAR O QUE ESTÁ BEM.

Eng.° Arão Pambo
Pós-graduado em Telecomunicações – Optoelectrónica

Jornal de Angola critica Isabel dos Santos e recusa ser "caixa-de-ressonância"

Fonte: Jornal de Angola
novembro 30, 2017


Luanda - O Jornal de Angola, detido pelo Estado angolano, volta hoje a criticar, em editorial, Isabel dos Santos, sobre o direito de resposta da empresária a um artigo do diário, recusando ser "caixa-de-ressonância" para fazer prevalecer "alguma iniquidade".
Fonte: JA

"O 'Jornal de Angola' é um órgão de informação de uma empresa pública [Edições Novembro EP] e procura no novo ciclo político não ser caixa-de-ressonância de cidadãos ou grupos económicos que querem fazer prevalecer alguma iniquidade, num indesejável quotidiano de promiscuidade entre o público e o privado", lê-se no editorial de hoje.

Intitulado "Ética, por favor", o editorial do diário estatal volta hoje ao diferendo com Isabel dos Santos, em torno do artigo assinado pelo novo diretor do Jornal de Angola, Victor Silva, de 19 de novembro, em que a gestão de Isabel dos Santos na Sonangol era criticada.

A empresária e filha do anterior chefe de Estado, José Eduardo dos Santos, enviou um direito de resposta ao jornal, que não o publicou alegando exceder, em tamanho, o artigo que lhe deu origem e factos não visados no mesmo. 
Isabel dos Santos divulgou na quarta-feira, nas redes sociais, o referido direito de resposta, na íntegra, e já hoje o Jornal de Angola publica a nova versão do mesmo.

"Sobre o extenso comunicado divulgado nas redes sociais muito se poderia apontar, mas não é muito importante para o 'Jornal de Angola' e seu diretor andar a fazer chicana na praça pública, sobre um assunto que porventura terá algo de capcioso. 
O 'Jornal de Angola' assume-se com o objetivo de informar e se puder ajudar a um esforço conjunto para melhorar a democracia fazendo-o com verdade e liberdade é uma vitória de que no futuro nos orgulharemos", lê-se no editorial de hoje.

Na versão inicial do direito de resposta, que a Lusa noticiou na quarta-feira, a empresária Isabel dos Santos afirma que a sua "competência não está em questão" e que não é "apropriado" relacionar ser filha do ex-chefe de Estado angolano e os resultados da liderança de 17 meses na Sonangol.

Isabel dos Santos foi nomeada presidente do conselho de administração da Sociedade Nacional de Combustíveis de Angola (Sonangol) por José Eduardo dos Santos, em junho de 2016, e exonerada este mês pelo novo chefe de Estado, João Lourenço.

"A sua afirmação [editorial de 19 de novembro], de que o meu estatuto de 'filha de um chefe de Estado' teria sido uma desvantagem para garantir o financiamento necessário para a reestruturação da Sonangol, é contrariada por factos facilmente verificáveis. 
De destacar que trabalhei ao longo da minha carreira profissional (20 anos) com esse estatuto, sendo que o mesmo nunca me impediu de desenvolver relacionamentos bancários com as principais instituições financeiras internacionais", acusa a empresária, no direito de resposta.

"A palavra nepotismo significa a promoção de uma pessoa incompetente para um determinado cargo pelo único facto de ser membro da sua família. 
Como a minha competência não está em questão, não será apropriado tentar estabelecer um vínculo entre as minhas relações familiares e os resultados do meu mandato", critica ainda, no direito de resposta dirigido a Victor Silva, que assumiu a liderança da Edições Novembro este mês, indicado por João Lourenço, o novo Presidente angolano.

No editorial de hoje, o Jornal de Angola recorda o "esforço" de resgate de "valores de respeito, solidariedade e harmonia social" do ex-Presidente José Eduardo dos Santos, ao mesmo tempo que aponta que "uma sociedade que se pretende construída na legalidade democrática deve fundamentar os seus valores, numa ética em que sejam salvaguardados princípios de convivência sã entre os seus cidadãos, independentemente da origem de classe ou estatuto".

"Vivem-se estados de depressão fruto da situação económica do País, mas também se vivem tempos esperançosos, e que o novo governo eleito pelos cidadãos possa promover o bem-estar prometido há tanto tempo, que apenas alguns usufruem, nalguns casos de forma até ostensiva", afirma ainda o editorial.

O texto do jornal estatal refere-se a Isabel dos Santos, como, "segundo a revista Forbes", a " maior fortuna de África", pelo que tem "responsabilidades acrescidas".

"Os privilégios de ostentação e de fortunas pessoais turbo-acumuladas não podem servir em circunstância alguma para as pessoas se colocarem em manifesta superioridade perante o cidadão comum, que sofre um quotidiano de miséria e que cada vez mais descrê das instituições", lê-se numa outra passagem do editorial.

Isabel dos Santos responde Director do Jornal de Angola

Fonte: Isabel dos Santos 
novembro 28, 2017

Luanda - Ao abrigo da lei da imprensa de Angola, pedimos-lhe que publique na íntegra o presente direito de resposta. 
Lemos com interesse o seu editorial do passado dia 19 de novembro. 
Por se tratar de um artigo publicado no Jornal de Angola, um órgão oficial de comunicação pública, parece-nos fundamental que as opiniões expressas nos seus editoriais sejam baseadas em factos verdadeiros e comprovados e que respeitem escrupulosamente as melhores práticas jornalísticas e à lei da imprensa, de acordo com a qual os cidadãos não devem ser difamados ou insultados.
Fonte: Isabel dos Santos

1. A sua afirmação de que o meu estatuto de “filha de um chefe de estado” teria sido uma desvantagem, para garantir o financiamento necessário para a reestruturação da Sonangol, é contrariada por factos facilmente verificáveis. De destacar que trabalhei ao longo da minha carreira profissional (20 anos) com esse estatuto, sendo que o mesmo nunca me impediu de desenvolver relacionamentos bancários com as principais instituições financeiras internacionais. 

Foi, aliás, durante a vigência do Conselho de Administração que liderei, que a Sonangol conseguiu finalmente estabelecer ligações bancários e ter contas abertas nos EUA (Estados Unidos de América)– situação que não havia sido possível durante muitos anos. 

Em Dezembro de 2016 a Sonangol lançou um concurso internacional para depósito de fundos em que participaram diversos bancos internacionais, tendo-se concretizado um acordo de parceria financeira com o Bank of America Merrill Lynch, o segundo maior banco Americano e nono maior do mundo.

Parece também haver uma profunda confusão entre o significado de nepotismo e o significado de PEP, tornando-se a mesma cada vez mais comum no debate público. Deveria caber à Comunicação Social informar e educar a opinião publica sobre temas desta natureza de forma responsável, em vez de incendiar polémicas infames que têm em si motivações políticas. Esse é o papel desempenhado pelas redes sociais.

Assim, e para que o público fique esclarecido, a palavra nepotismo significa a promoção de uma pessoa incompetente para um determinado cargo pelo único facto de ser membro da sua família. Como a minha competência não está em questão, não será apropriado tentar estabelecer um vínculo entre as minhas relações familiares e os resultados do meu mandato. 
Além disso, o conceito de PEP é usado no seu editorial de uma forma tendenciosa. Por definição, todos os membros dos Conselhos de Administração das Empresas Públicas, incluindo da Sonangol , são PEP’s, o que não afecta a sua capacidade de gerir relações bancárias em nome das empresas que representam.

2. A situação com que o CA que liderei se defrontou em Junho de 2016 era de extrema gravidade e de ruptura financeira: (i) a Sonangol não conseguia levantar financiamentos de médio/longo prazo nos bancos internacionais há mais de 2 anos, (ii) não pagava aos fornecedores de combustíveis (gasóleo e gasolina ) desde o início de 2015 , e tinha acumulado uma dívida de combustíveis de 1.6bi$ (um bilhão e seiscentos milhões de dólares americanos) e (iii) estava em incumprimento com os parceiros internacionais relativamente ao pagamento dos cash calls nos campos petrolíferos. 

iv) Pela primeira vez na história da empresa, a Sonangol não tinha cumprido com os clausulas dos contratos de financiamento a que estava obrigada aquando do fecho das contas de 2015. Por este facto, podia ser exigido pelos bancos o pagamento e reembolso imediato da totalidade das linhas de financiamento da empresa. 
v)Além deste avolumar de dívidas e da incapacidade de se financiar na banca internacional , o desempenho operacional da Sonangol colocava em grave risco a sustentabilidade da Empresa. Neste quadro, o novo CA da Sonangol despoletou um Programa de Transformação ambicioso, com medidas drásticas para proteger a Sonangol e assegurar a sustentabilidade de longo prazo da Empresa. As medidas de reestruturação implementadas a partir de meados de 2016 asseguraram a manutenção do apoio da banca internacional, bem como dos parceiros operadores petrolíferos, e fornecedores de combustíveis refinados, evitando consequências que poderiam ter sido gravíssimas para a Sonangol e o País.

3. A sua afirmação de que a Sonangol não teria recebido os financiamentos necessários para o seu plano de desenvolvimento é contraposta pelos factos a seguir apresentados:

a) Foi alcançado com os bancos um acordo de restruturação de várias linhas de financiamento bancárias de maturidade excessivamente curtas com prazos de 1 a 3 anos , reduzindo substancialmente o serviço da dívida, e permitindo alargar os prazos de maturidades da dívida bancária para 5 a 7 anos. 
Com efeito, em Dezembro de 2015, a Sonangol tinha quase USD 14 mil milhões de dívida bancária com um serviço da dívida incomportável , tendo de pagar a prestação de USD 3,6 mil milhões em 2016, e teria ainda de pagar a prestação de 3,4 mil milhões em 2017, isto fruto da Sonangol não ter conseguido refinanciar dívida há mais de 2 anos.

Após a reestruturação financeira feito pelo CA por mim liderado, a dívida bancária reduziu para USD 7 mil milhões a Junho de 2017, e o serviço da dívida desceu para 2,6 mil milhões em 2017, e prestação a pagar será 1,4 mil milhões em 2018;

b) Em Janeiro de 2017 foi concretizada a abertura de uma linha de financiamento de USD 500 milhões com o Afreximbank, um banco com quem a Sonangol não tinha previamente relações comerciais, e o Standard Chartered Bank;

c) Foram também mantidas todas das relações comerciais normais com bancos estrangeiros, com a abertura ou manutenção de contas em USD em vários bancos internacionais, nomeadamente o Standard Chartered Bank e o já referido Banck of America Merrill Lynch;

d)A 9 de Novembro de 2017, reunimos com 23 bancos internacionais em Londres, e estava acordado e em fase final de assinatura a estruturação de três novas linhas de financiamento no total de USD 2.250 milhões, marcando assim o grande regresso da Sonangol aos mercados financeiros internacionais, a ser concretizadas até final de 2017. Estas linhas têm maturidades a 5 e 7 anos permitindo assim alargar o perfil de maturidade da dívida: 
(i) Financiamento de USD 650M com Standard Chartered, Societé Generale, Natixis e Intesa; 
(ii) Financiamento de USD 1.200M com ICBC, China Minsheng e Standard Bank; 
(iii) Financiamento de USD 450M com Societé Generale, Natixis e ICBC Standard. Estas linhas estavam em negociação desde inícios de 2017, tendo o processo negocial e a crescente confiança dos bancos internacionais na recuperação da Empresa permitido descidas substanciais de taxa de juro e melhoria de maturidades.

4. No que diz respeito ao seu comentário sobre os resultados do relatório do sector dos petróleos, note-se que o grupo de trabalho por si mencionado não teve mandatado nos termos em referência, fazer a avaliação da gestão da Sonangol, mas sim tratou dos seguintes temas cinco específicos : 
i) Simplificação de Processos de Gestão das Concessões Petrolíferas;
ii) Revisão do Decreto Legislativo Presidencial nº 2/16, de 3 de Junho, sobre as Definições, Conceitos e aos Termos Contratuais e Fiscais;
iii) Regulamentação sobre os Princípios Gerais de Investimento para o Gás Natural;
iv) Análise dos Termos e Condições Contratuais aplicáveis a Actividade de Pesquisa, no âmbito do Decreto Presidencial nº 211/15, de 2 de Dezembro;
v) Abandono das Instalações Petrolíferas.

Este relatório foi preparado pelo Ministério dos Petróleos, Ministério das Finanças, e Sonangol, com a participação de seis empresas petrolíferas internacionais nomeadamente : ENI, Statoil, Total, Chevron, British Petroleum e Esso.

Por definição, este trabalho do relatório foi feito fora da Sonangol, e por razões obvias de soberania e conflito de interesses, não seria correcto serem seis petrolíferas internacionais a fazer uma auditoria ou controle de gestão da Concessionária Nacional, pelo que conforme já referi , o relatório não tratou da avaliação da gestão da Sonangol como empresa , mas sim de temas referentes ao sector petrolífero em Angola no seu todo.

Além disso, parece-nos surpreendente e prematuro evocar as conclusões parciais de um documento que ainda não foi tornado público, reforçando a convicção de que estamos não perante a divulgação objectiva e imparcial de informação, por parte da vossa publicação, mas antes de declarações especulativas.

5. Quanto às alegadas relações precárias com as companhias petrolíferas internacionais, estão disponíveis na Internet e poderá, assim, encontrar muitos comentários públicos dos líderes dessas mesmas empresas que afirmam que as reformas empreendidas pelo Conselho de Administração que liderei foram necessárias, benéficas, e conduzidas com profissionalismo, dentro de um espirito construtivo. Cito por exemplo o Sr. Patrick Pouyanné, CEO da Total “A Sonangol está a fazer exactamente o que fizemos na nossa empresa. Quando o preço do petróleo caiu, todos nós enfrentamos dificuldades, pelo que foi dada prioridade à transformação e ao equilíbrio das contas, o que é positivo. Agora que se estabeleceu uma base mais sólida, pode-se pensar no futuro e voltar a desenvolver-se.”

Cito ainda o Vice Presidente da Chevron Clay Neff: “Vimos as mudanças que a Sonangol está a fazer como muito boas. Há uma colaboração muito positiva entre a Sonangol e a Chevron, e os outros membros da indústria petrolífera , no sentido de continuar a melhorar o clima de investimentos em Angola….(em Outubro 2017)”

6. No que diz respeito à sua afirmação do agravamento da dívida, salientamos que a dívida total da Sonangol incluindo dívida bancária, cash calls em atraso aos operadores petrolíferos internacionais, e saldos em atraso a fornecedores de combustíveis importados, aquando da tomada de posse do CA que liderei, ascendia a quase USD 16 mil milhões, valor que no final de 2017 deverá cair para menos de 8 mil milhões. Não apenas se conseguiu reestruturar e alargar maturidades da dívida bancária e preparar o regresso às emissões de dívida internacional, como foram pagos a totalidade de cash call em 2016, e como ainda se assegurou um acordo de regularização de saldos em atraso com os operadores petrolíferos internacionais, e fornecedores de combustíveis importados (em ambos os casos os saldos em atraso antecediam a Janeiro de 2015), evitando consequências graves para a Sonangol e o País.

Em particular, no caso de cash calls dos blocos petrolíferos, referente aos anos 2016 e 2017, com a concretização das linhas de financiamento em conclusão, a Sonangol efectuara um investimento de USD 5,2 mil milhões em cash calls de forma a assegurar a estabilidade, continuidade, e volume da produção petrolífera.

É certo que durante este período de emergência, e perante a situação excepcional em que a empresa se encontrava, tinha já sido acordado em Dezembro de 2015 uma injecção de fundos do Accionista, que foram aportados entre 2015 e 2017. Com a normalização da relação da Sonangol com os bancos internacionais e conclusão das linhas de financiamento em curso, estarão reunidas as condições para começar o reembolso destes fundos do Accionista.

7. No que diz respeito à lentidão burocrática, alegadamente denunciada pelas empresas petrolíferas, note-se que os processos burocráticos com as companhias petrolíferas são os mesmos há décadas e, portanto, não são específicas deste conselho de administração. A única alteração a registar foi a existência de uma maior exigência e rigor na validação dos custos propostos pelas companhias de petróleo para operar nos blocos. 

Na equipa de gestão que liderei o foco foi colocado na redução dos custos operacionais e, por isso, verificou-se um maior detalhe na avaliação dos valores apresentados pelos parceiros. Como resultado desse esforço, o custo de operação em Angola diminuiu de US $ 14 para US $ 7 por barril em 17 meses, permitindo que grande parte da exploração de petróleo do país se tornasse economicamente viável e financeiramente sustentável pelos bancos internacionais. Angola é, assim, hoje um país mais atraente para investidores no sector petrolífero, pois um custo de produção baixo , significa maior retornos e rentabilidade.

8. Em conclusão, o trabalho desenvolvido permitiu ultrapassar uma situação de emergência e lançar um Programa de Transformação ambicioso, com medidas drásticas para proteger a Sonangol e assegurar a sustentabilidade de longo prazo da Empresa.

Ultrapassada a situação de emergência financeira, o CA estava já a construir o futuro da Sonangol, encontrando-se a desenvolver o plano de negócios para a nova refinaria e a trabalhar no Plano Director do gás que iria apresentar ao executivo no 1º trimestre de 2018. Adicionalmente, como a reestruturação do sector não se faz unicamente dentro da Sonangol, o CA preparou e apresentou ainda um plano com medidas estruturais tendo em vista a melhoria da competitividade do sector de O&G em Angola.

No interesse da transparência e informação pública , agradeço publicar na integridade este direito de resposta. 

Cordialmente,
Isabel dos Santos

Editorial de Jornal de Angola explains the departure of Isabel dos Santos

Angola
NOVEMBER 19, 2017  11:51
Diretor do Jornal de Angola recusa que haja um conflito político entre o Presidente angolano e José Eduardo dos Santos


O novo diretor do Jornal de Angola, Victor Silva, relaciona uma exoneração de Isabel dos Santos da Sonangol por ser uma "pessoa politicamente exposta", recusando que haja um conflito político entre o Presidente angolano e o líder do MPLA.

A posição surge artigo "Um falso problema", o seu primeiro editorial assinado no diário estatal, após a nomeação, pelo Presidente da República, para o cargo de presidente do conselho de administração das Edições novembro, que publica o Jornal de Angola.

"Anda parte do país meio atónita com o ritmo que o novo ciclo político vem imprimindo visando a normalização da vida de todos nós, um controle direto das principais fontes de recursos do Estado", começa por escrever o diretor da jornada.

Acrescenta que "o novo ciclo político, afinal, não tem feito mais do que foi prometido durante uma campanha eleitoral", sobretudo "na moralização da sociedade através do combate à corrupção, do fim da impunidade e da abertura de oportunidades iguais para todos".

"Por isso, não é a seguir as mudanças operadas nas principais empresas públicas, às quais são obrigados, não existem no setor financeiro", referente, para além disso: "A que seguirão, não se tem dúvidas, outras mais".

"O facto de uma transição em terça-feira, 13 de fevereiro de 2009, foi lançado em 19 de fevereiro de 2009. ] ", escreve o diretor do Jornal de Angola.

João Lourenço foi eleito a 23 de agosto como novo Presidente angolano, sucedendo a 38 anos de governação de José Eduardo dos Santos, no entanto, mantém-se na liderança do MPLA, partido que venceu como eleições.

Os seus primeiros 50 dias de governação, João Lourenço exonerou as administrações de todas as áreas nucleares do setor empresarial do Estado, como na banca comercial, diamantes, comunicação social e já esta semana nos petróleos.

Sobre a Sonangol, que se tornou o principal exemplo na governação de João Lourenço, com uma exoneração da filha do anterior chefe do Estado, o diretor do Jornal de Angola, afirma que "não é um problema para ser posta no facto de Isabel dos Santos ser filha" ex-Presidente da República ".

"Se calhar, ou talvez por isso mesmo, a petrolífera nacional não conseguiu os financiamentos externos necessários ao seu desenvolvimento por saber-se que não é o combate ao fundo de capitais há pessoas politicamente expostas, como chamadas PEP, que estão sob o radar do mundo financeiro mundial ", justifica Victor Silva.

Por isso, acusa, uma petrolífera estatal "viu agravar a sua dívida e complicar como relações com as operadoras estrangeiras".

"Ninguém tira o mérito de se ter conseguido baixar os custos de produção de ações, como um preço?", Mas uma falta de diálogo eo excesso de burocracia em um ponto em perigo a saúde da "galinha de ovos de ouro" porque há anos que não se fazem novas licenças, prospeções e, com isso, uma produção tendem a cair até a quantidade de reservas e idade de alguns poços ", acrescenta.

Diz mesmo ser inconcebível "que um dos maiores produtores africanos têm de importar quase todo o produto refinado", uma das críticas apontadas por João Lourenço na posse da nova administração da Sonangol, que passa a ser liderada por Carlos Saturnino.

"Tratou-se, portanto, de uma medida de gestão, pura e dura, que algumas forças, apanhadas sem discussão, procuram agora atirar para um alegado conflito político entre o Presidente da República e líder do MPLA, fomentando um forçado braço de ferro e pseudo divisões no partido no poder ", escreve o diretor do Jornal de Angola, não é seu editorial.

Isabel dos Santos despediu-se da Sonangol na quinta-feira e no dia seguinte esteve em Luanda uma inauguração de sua nova fábrica de cerveja, regressando assim a vida empresarial, para que Victor Silva prova "existe vida para além do Estado".

terça-feira, 28 de novembro de 2017

RAFAEL MARQUES DE MORAIS – O PRÓXIMO LIDER DA OPOSIÇÃO?

VOICE OF ANGOLA  07 Novembre 2017


Um novo amanhecer veio na política angolana. 
Rafael Marques de Morais, ativista político local, vê-se como a vaguarda dessa mudança. Rafael Marques é conhecido por publicar sob a imagem anticorrupção de seu site, Maka Angola, para promover sua própria marca, enquanto criticava outros políticos e empresários líderes que poderiam considerar carreiras políticas. 
Fontes próximas a Rafael Marques afirmam que ele tenha aspirações políticas a longo prazo e que ele se posicionou cuidadosamente para um papel político ao estabelecer conexões internacionais de alto nível para influenciar e ter suporte financeiro.

Rafael Marques recebeu centenas de milhares de dólares da instituição the National Endowment Democracy (uma instituição apoiada pelo governo dos EUA) só nos dois últimos anos (2014-2016: 250,000.00 USD). 
Ele aparece muitas vezes em prémios internacionais e busca apoio financeiro de patrocinadores como os EUA, a União Européia e George Soros e a Open Society. 
Apesar dessa imagem de exigência para com a transparência e a responsabilidade, Rafael Marques tem um duplo padrão quando se trata de como ele e Maka Angola são financiados por esses fundos e como eles são usados.


Está claro que Rafael Marques utilisa indevidamente a Maka Angola como um palanque para subverter a lideranca angolana e para contornar sua própria responsabilidade. 
Os seus artigos contra Manuel Vicente, o general Dino e o general Kopelipa (conhecido em Angola como “O Trio”), bem como Álvaro Sobrinho, chefe do BESA e a família Dos Santos, ajudaram a moldar o clima político em Angola e destacar Rafael Marques como o novo líder da oposição política do país.

Revolução em Angola

VOICE OF ANGOLA José António Saraiva

Depois dos filhos de Eduardo dos Santos, são demitidos ministros, gestores de empresas públicas, militares, responsáveis da comunicação social, altos funcionários da administração do Estado.

E isto tudo apenas dois meses depois de o novo Presidente, João Lourenço, tomar posse.

O que se passa em Angola? 
Isto faz-me lembrar, mais do que uma democratização, as ‘purgas’ que normalmente se sucedem aos golpes de Estado. 
É como se Lourenço tivesse descoberto uma grande conspiração contra ele – e estivesse a afastar os golpistas.

Isto também seria natural se o novo Presidente tivesse conquistado o poder através de um golpe. 
Mas João Lourenço recebeu pacificamente o poder das mãos de Eduardo dos Santos.

Como entender então esta sangria?

Só vejo duas hipóteses.

Primeira hipótese: Lourenço está a lutar desesperadamente pela sobrevivência, e temia que, se não ‘corresse’ com aquela gente, eles acabariam por ‘fazer-lhe a cama’;

Segunda hipótese: Lourenço está confortável com o poder que tem e sente-se com a força necessária para meter nos postos-chave pessoas da sua confiança.

No primeiro caso, se for uma luta pela sobrevivência, as demissões compreendem-se – mas significam que a situação em Angola está periclitante e em qualquer altura pode degenerar em guerra aberta.

No segundo caso, se for apenas uma manifestação de poder, parece-me pouco recomendável.

Estas demissões, com destaque para o afastamento dos filhos de Eduardo dos Santos, foram – em linguagem futebolística – uma ‘entrada a pés juntos’.

Ora, estas entradas podem ser punidas com cartão vermelho. 
E isso ainda é mais verdadeiro em África, onde as instituições não existem e a base do poder é instável.

Os próximos dias darão com certeza respostas a estas dúvidas.

GENERAL “ZÉ” MARIA QUER QUE DOS SANTOS REVELE “PARADISE PAPERS” DE JLO

VOICE OF ANGOLA  Folha 8
                                                22 Novembro 2017
O director do Programa Africano no instituto de estudos britânico Chatham House considera que a onda de exonerações em Angola demonstra que o novo Presidente, João Lourenço, “rasgou o acordo de compromisso” negociado com José Eduardo dos Santos. 
É possível. 
Mas Dos Santos tem muitas cópias (algumas espalhadas por vários areópagos) de um enorme dossier “top secret” de… João Lourenço, e o general José Maria mostra-se disposto a liderar um contra-ataque.

“Ao fazer isto [a onda de exonerações dos últimos dias], João Lourenço rasgou o Governo de compromisso negociado com José Eduardo dos Santos por alturas da sua tomada de posse como chefe de Estado, em Setembro”, disse Alex Vines em entrevista à Lusa.

“O Presidente João Lourenço também demonstrou que a família Dos Santos já não é intocável”, acrescentou o conhecido analista britânico, que é também director de Estudos Regionais e Segurança Internacional na Chatham House, o Instituto Real de Estudos Internacionais.

“A Sonangol é a principal mudança, mas as mudanças nos meios de comunicação social e nas relações públicas também levaram a demissões nos membros da família” do antigo líder angolano.

O Presidente de Angola, na última semana, tem-se multiplicado em exonerações nos principais cargos da estrutura de poder no país, desde a principal empresa, a Sonangol, até aos chefes de polícia e também na área judicial.

“A prioridade de João Lourenço foi a reforma económica, como a indústria petrolífera”, diz Vines, acrescentando que “o despedimento de Isabel dos Santos é parte desta estratégia que apontou aos principais pilares da economia angolana: o petróleo, com a Sonangol, a indústria dos diamantes, com a Endiama, e as finanças, com o Banco Nacional de Angola”, cujos líderes foram exonerados.

No geral, vinca Alex Vines, “isto significa que a família Dos Santos vai ter de andar com cuidado e mostrar cada vez mais as suas capacidades tecnocráticas”, apontando ainda que “o erro de Isabel dos Santos foi que tinha pouca experiência na indústria petrolífera e subcontratou [a gestão] a consultores quando ela própria não estava preparada para se focar completamente na Sonangol até chegar aos últimos meses”.

O panorama para a família do antigo Presidente pode até piorar, considera este analista, salientando que apesar de José Eduardo dos Santos “ainda ser o presidente do MPLA, está a perder força e com a saúde fraca”, por isso “não é certo quando o MPLA vai fazer um congresso para alinhar Lourenço como chefe de Estado e do partido” no poder.

“Quando deixar de ser presidente do MPLA, ou a sua saúde piorar, poderá haver mais pressão política sobre a sua família”, vaticina Vines.

José Maria não aceita

Pois é. 
Mas, até lá, como é que o clã dos Santos vai engolir a “traição” e o “desrespeito” de João Lourenço? 
O general António José Maria, afastado esta semana do Serviço de Inteligência e de Segurança Militar, terá já dito a José Eduardo dos Santos estar pronto para a “guerra”, pedindo “instruções” sobre o que pretende o ex-presidente.

José Maria passou muito tempo, sobretudo a partir do momento em que Eduardo dos Santos disse que não seria candidato do MPLA às eleições de Agosto e se aventou que o candidato seria João Lourenço, a reunir informações, dados, documentos, testemunhos (no país e no estrangeiro) sobre o actual Presidente da República.

“O Serviço de Inteligência e de Segurança Militar esteve em exclusivo a trabalhar, por ordem do general Zé Maria, numa espécie de Paradise papers of João Lourenço”, contou ao Folha uma fonte ligada ao general.

O Bureau Político do MPLA ainda está com a “espinha” chamada agora de João Lourenço atravessada na garganta. 
Mas certo é, igualmente, que quando se perde o Poder a maioria dos acólitos saltam a barricada. 
Parecendo que, nesta altura, José Eduardo dos Santos até o mais moderado, o cenário de implosão no partido e, por inerência, no país, continua em cima da mesa.

O general José Maria é dos que considera que as decisões em catadupa que estão a ser tomadas pelo Presidente da República, João Lourenço, são uma caça às bruxas no MPLA e uma lavagem da sua imagem, “quase parecendo que JLo nada tem a ver com o MPLA e que só agora chegou à política angolana”.

Mais do que o conteúdo dos pronunciamentos e das decisões já tomadas, o núcleo duro do MPLA que, curiosamente, conseguiu adquirir a simpatia e o respeito de militantes considerados moderados, contesta a avidez e o “ataque kamikaze” que relembra uma “tese marxista de que o importante não é a sociedade que se quer construir mas, apenas, a que se quer destruir”, diz uma outra fonte do F8.

João Lourenço tem, de facto, demonstrado que quer, pode manda, mesmo que isso mais não seja do que a passagem de um atestado de incompetência do anterior executivo ao qual, aliás, pertenceu enquanto ministro da Defesa e como alto dirigente do próprio MPLA.

“A decisão, revelada ontem, do histórico militante do MPLA e ex-membro do Comité Central, Ambrósio Lukoki, apelando para que José Eduardo dos Santos abandone a Presidência do partido, mais não é que a hipocrisia de quem, tendo muitos telhados de vidro, acredita que esses seus telhados são à prova de bala, mas não são”, comenta um outro histórico do MPLA exilado na Europa.

A interpretação de que João Lourenço só responde perante a Constituição, que solenemente jurou cumprir, esbarra e colide nas regras partidárias que fizeram jurisprudência nos últimos 38 anos e que dizem que todas essas decisões de Estado não podem contrariar a soberana orientação do partido.

Recentemente, talvez prevendo a inabilidade política de João Lourenço, Dino Matross disse sem meias palavras que “o Presidente da República subordina-se ao presidente do partido”, e que compete ao presidente do partido “propor e submeter, ao pronunciamento do Bureau Político, a composição orgânica e nominal do Executivo”.

Numa síntese linear e simplificada, dir-se-á que João Lourenço não deve primeiro obediência à Constituição, mas às orientações do partido. 
E nada disso tem sido feito, sobretudo quando as medidas, as reestruturações e os pronunciamentos do novo Presidente revelam perante a opinião pública que, afinal, o anterior Presidente não foi tão competente quanto se dizia, corroborado por alguns dos seus principais colaboradores, entre os quais o próprio João Lourenço.