Alberto João Jardim
LÍLIA BERNARDES 29/03/2015 - 08:09
Fonte social-democrata garante que o ex-líder do PSD/M, presidente da Fundação Social-Democrata (FSD), prepara-se para montar escritório na residência de família onde viveu até aos 30 anos e adquirida pela FSD por 140 mil euros.
Há muitos anos, Alberto João Jardim garantiu ironicamente aos jornalistas que no dia em que abandonasse o PSD Madeira e o governo regional iria “virar hippie”.
Um pouco tarde para se fazer membro de uma contracultura dos anos 1960, mas há sempre uma saída.
Afastado da campanha eleitoral, Alberto João deu o mote.
Vai andar “muito à solta”, o que significa poder integrar “movimentos populares que tenham ser feitos para travar a mesma burguesia inculta”.
De acordo com fonte social-democrata, Jardim prepara-se para reactivar o FAMA, sendo ele o representante número 1 deste “Fórum para a Autonomia da Madeira”, criado por figuras do PSD e que conta com personalidades da sociedade civil, algumas delas ligadas a partidos da oposição, disse ao PÚBLICO.
De acordo com a mesma fonte, conforme o andar da carruagem, o movimento poderá “transformar-se num novo partido, não sendo obrigatório que seja liderado por dr. Jardim”. Não nos podemos esquecer que Jardim, em 2008, anunciou que iria criar um novo partido, o Partido Social Federalista, para fazer “oposição séria ao país”.
Este tema chegou a ser discutido numa reunião do FAMA.
Nas declarações da sexta-feira, último dia de campanha eleitoral em que inaugurou um atuneiro no Caniçal, e parte de um cais de acostagem de navios na baía do Funchal, Jardim foi claro: “Há gente que está convencida que, pelo facto de eu sair das funções que neste momento ocupo, vamos voltar ao antigamente.
Estão enganados.
Domingo não é o fim da história.
Se calhar vai ser o começo de outra história ou de várias outras histórias”. Jardim, sublinhe-se, é presidente da FSD, instituição que adquiriu por 140 mil euros a antiga residência familiar onde Jardim viveu até aos 30 anos, com o objectivo de transformá-la em casa-museu, “tendo em conta a sua retirada em 2011”, lê-se, ainda, no site da fundação.
Mas em 2011, Alberto João foi novamente a votos, saindo, agora, seis meses antes de terminar o mandato.
Segundo a já citada fonte, logo após a tomada de posse do novo governo, prevista para 25 de Abril, Jardim prepara-se para dar-lhe uso, montar ali o seu próprio escritório, encher as prateleiras de medalhas recebidas ao longo de quase quatro décadas, livros da biblioteca privada, pinturas e serigrafias, bem como “outros símbolos e recordações das mais variadas colectividades portuguesas e estrangeiras”.
O objectivo será “dinamizar o papel da própria FSD”.
Falta saber como vai o actual líder do PSD regional, Miguel Albuquerque, gerir estas contas.
É que o PSD-Madeira tinha uma dívida na ordem dos seis milhões de euros.
E, segundo a Entidade das Contas e Financiamentos Políticos (ECFP), o seu capital próprio era negativo em quatro milhões de euros em 2009 (3,4 milhões em 2008), o que configura uma situação de falência técnica.
Apesar do seu vasto património, actualmente muito desvalorizado, não é menos grave a situação financeira da Fundação Social Democrata, com dívidas próximas das do partido e com as quais se confundem.
Em 2009, o PSD-M devia 216 mil euros à fundação e tinha a receber desta 553 mil euros, situação que a ECFP disse ter “dificuldade em compreender”.
Entre outras razões, apontou “ser o PSD arrendatário, na Madeira, de vários imóveis” que funcionam como sedes locais, expediente utilizado por Jardim para evitar que estas integrassem o património do partido nacional (PUBLICO, 30/12/2014).
Entretanto, dentro do PSD/M, são realmente poucos os que acreditam que o ex-líder possa vir a ocupar o lugar que lhe pertence como deputado na Assembleia da República, por um período de poucos meses.
“Armado em Mota Amaral?
Ele não se sujeita a isso”.
Também não acreditam que Jardim faça um ensaio como candidato a Belém, embora seja fácil recolher 7500 assinaturas.
“Não tem condições físicas e uma derrota estrondosa seria o fim da carreira”.
Pelo meio, ficou uma oportunidade perdida ao ter recusado o convite de Pedro Passos Coelho para número dois da lista às eleições europeias encabeçada por Paulo Rangel. “Estaria em Bruxelas com palco mediático assegurado”, referiu.
E este é o problema do homem que viveu sempre sob os holofotes.
E notou-se neste período de gestão.
Para além das decisões de gabinete (por exemplo, o aval de crédito de dez milhões ao Clube Sport Marítimo) foi um corrupio sobretudo na ponta final que irá continuar para a semana na ilha do Porto Santo onde costuma gozar férias da Páscoa e de Verão.
Para além das duas inaugurações de sexta-feira, Jardim chegou este ano a inaugurar uma rulote, as novas instalações do restaurante típico madeirense, propriedade de “um empresário seu amigo e de quem é cliente há muitos anos”, lê-se na agenda do site da presidência, participando ainda ontem, num jantar de celebração do 28.º Aniversário da Associação de Animação Geringonça (troupe de carnaval) e ali proferindo um discurso.
Na sexta-feira, ofereceu um jantar de despedida na Quinta Vigia, onde juntou governantes, directores regionais, presidentes de institutos e de empresas públicas.
Questiona-se que a despedida terá sido paga pelo erário público.
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