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segunda-feira, 20 de agosto de 2018

“Lamentável”, “ridículo” e “insultuoso”. Vídeo de Centeno incomodou partidos da geringonça

MÁRIO CENTENO
Helena Cristina Helena e Rita Dinis
20/8/2018, 15:22

João Galamba diz que vídeo de Centeno sobre fim do resgate à Grécia é "lamentável". Mariana Mortágua diz que discurso é "perigoso". 
Já Ascenso Simões ataca Galamba com "cheiro Syriza pré-histórico".

Depois de Varoufakis, a voz crítica sobre o vídeo de Mário Centeno a saudar o fim de oito anos de assistência financeira na Grécia é do socialista João Galamba. “Um vídeo lamentável que apaga o desastre que foi o programa de ajustamento grego e branqueia todo o comportamento das instituições europeias“, escreveu o deputado e antigo porta-voz do PS na sua conta de Twitter. Uma reação que suscitou muitos aplausos naquela rede social, incluindo por parte de dirigentes do Bloco de Esquerda, que não gostaram de ouvir o ministro das Finanças português defender a receita de austeridade aplicada por Bruxelas.

O ataque feroz de João Galamba incide sobre o vídeo que Mário Centeno, na condição de presidente do Eurogrupo, divulgou esta segunda-feira na mesma rede social, junto com mais mensagens, a saudar o fim da assistência financeira na Grécia e o regresso do país ao estatuto de pleno membro da União Europeia sem mais restrições.

Se o comentário de João Galamba foi, por um lado, aplaudido por várias personalidades, incluindo os bloquistas José Gusmão ou Fabian Figueiredo, também foi criticado duramente por parte de outros socialistas. 
Foi o caso do deputado Ascenso Simões, que saiu em defesa de Mário Centeno no Facebook, e que partiu ao ataque ao colega de bancada, que acusa de “radicalismo barato”. “Pensei que João Galamba já tinha esgotado as duas doses de radicalismo barato. 
Enganei-me! 
Bem, estamos na época estival e até um cheiro Syriza pré-histórico fica bem no bronzeado burguês de Galamba”, lê-se.


PSD e BE juntam-se às críticas a Centeno, PCP prefere criticar “pacto de agressão”

Críticas a que se juntam as reações de outros elementos dos partidos nacionais. 
Do lado do PSD, começam a surgir reações e comentários duros ao discurso de Mário Centeno sobre o fim do resgate grego. 
É o caso de Miguel Morgado, que acusa o presidente do Eurogrupo de ter “duas faces“: “passou 3 anos a apoucar a saída limpa portuguesa de 2014” e agora “desfaz-se em palavras doces para um país que sai devorado por problemas após 8 anos de bailout”, escreveu o deputado social-democrata.


Ou o caso de Duarte Marques, deputado social-democrata, que evidencia as contradições entre o que Centeno e Costa diziam da austeridade aplicada em Portugal entre 2011 e 2015 e o que dizem agora da austeridade aplicada na Grécia no mesmo período até ao dia de hoje. 
A primeira, segundo o deputado social-democrata, foi “desnecessária e imposta pelo governo PSD/CDS”, e a segunda foi “um programa de reformas estruturais bem conseguido, coordenado mas não imposto por Bruxelas, e mais eficaz”.


Também José Gusmão, do Bloco de Esquerda, não foi nada subtil nos comentários às mensagens de Mário Centeno. 
“Um vídeo ridículo“, “insultuoso para os gregos” e “esclarecedor para os portugueses“, escreveu o deputado bloquista num tweet.

Mariana Mortágua, a porta-voz bloquista para os assuntos financeiros, afirmou em declarações ao jornal Público que o que as palavras do ministro das Finanças em relação à saída da Grécia do programa de ajustamento são “perigosas” e revelam que há uma necessidade de se analisar criticamente as políticas da União Europeia. 
“É perigoso para o futuro de Portugal e da Europa porque ter um presidente do Eurogrupo que considera que a culpa da crise é dos gregos e não das políticas europeias, é sinal que está disposto a manter [a linha de rumo] das instituições europeias e as políticas de chantagem”, diz a deputada em declarações aquele jornal.

Instado a comentar as declarações de Mário Centeno sobre a saída da Grécia do programa de ajustamento financeiro da troika, fonte oficial do PCP preferiu criticar aquilo a que chama de “pactos de agressão contra Estados e povos” revestidos de planos de assistência financeira, deixando Mário Centeno de fora. 
“A propalada ‘saída’ dos países, seja apontada como ‘limpa’ ou não, é um embuste como a experiência do nosso país mostra. 
As limitações à soberania que decorrem da ‘vigilância’ a que se mantém submetido pelo FMI e a UE, e sobretudo a submissão às imposições orçamentais que impedem o desenvolvimento do país, e a resposta aos problemas nacionais comprovam-no”, lê-se na declaração dos comunistas.

“Tanta ironia neste vídeo”, escreve correspondente do Wall Street Journal

As redes sociais estão a ser inundadas com os mais diversos comentários ao discurso de Mário Centeno, mesmo a nível internacional. 
Uma das reações é assinada por uma correspondente do Wall Street Journal, Patricia Kowsmann, que encontra muita “ironia” no vídeo protagonizado pelo presidente do Eurogrupo. 
A jornalista, que já trabalhou a partir de Lisboa, Londres, Singapura e Washington, recorda que “o ministro das Finanças de um governo que criticou ferozmente a troika e denunciou a austeridade, pelo menos no papel, fala agora sobre os benefícios de tudo isso. 
E de como a Grécia pode inverter a sua marcha”. escreveu num tweet.


O ministro das Finanças português e presidente do Eurogrupo está a ser o alvo dos ataques de várias frentes desde o início desta segunda-feira, dia que marca o fim dos programas de assistência à Grécia. 
Para assinalar a data, Centeno apontou que, ao fim de oito ano, o país “reconquistou o controlo pelo qual lutou”, mas advertindo que tal também acarreta “responsabilidade” acrescida. 
Em várias mensagens publicadas na sua conta na rede social Twitter, e também no sítio de Internet do Conselho da União Europeia, no dia em que a Grécia sai formalmente do seu terceiro programa de ajuda externa, Centeno começa por sublinhar que “hoje é um dia especial para a Grécia”, pois chega ao fim “um trajeto longo e sinuoso”.

Uma das primeiras críticas públicas a estas declarações e ao posicionamento do governante português partiu do ex-ministro das Finanças grego Yanis Varoufakis, que acusou o vídeo de Centeno de parecer “máquina de propaganda norte-coreana”.

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