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quinta-feira, 16 de agosto de 2018

Exumar ainda vá que não vá. Ser herói? Isso nunca!

POLÍTICA
Redacção   F8
14 de Agosto de 2018
Alcides Sakala Simões, membro da Direcção da UNITA, saudou hoje, terça-feira, a iniciativa que visa – calcula-se – a retoma legal do processo de exumação e inumação dos restos mortais do fundador do partido, Jonas Savimbi.

Os restos mortais de Jonas Savimbi, morto em combate a 22 de Fevereiro de 2002, foram enterrados no dia seguinte, no cemitério municipal da cidade do Luena, sede provincial do Moxico.

Alcides Sakala falava ao Jornal de Angola, em reacção a um comunicado do Ministério do Interior em resposta às declarações do presidente da UNITA, Isaías Samakuva, que acusou o Executivo de estar a impedir a realização de um funeral condigno de Jonas Savimbi.

Isaías Samakuva, que falava sexta-feira última na cerimónia que assinalou o aniversário natalício de Jonas Savimbi, voltou a acusar o Estado angolano de manter Savimbi preso, mesmo depois de morto.

Em reacção, o Ministério do Interior recordou que o líder da UNITA escreveu, a 11 de Dezembro de 2014, uma carta ao então Presidente da República, José Eduardo dos Santos, a solicitar um interlocutor do Governo no processo de exumação e inumação dos restos mortais de Savimbi.

Segundo o comunicado, o então Chefe de Estado indicou o Ministério do Interior como representante do Governo no processo, enquanto a UNITA seria representada pelo então seu vice-presidente, Ernesto Mulato, na sua qualidade de coordenador da comissão das exéquias do líder-fundador da UNITA.

A nota precisa que o ministro do Interior reuniu-se, em Maio de 2015, com o vice-presidente da UNITA, Ernesto Mulato, acompanhado dos integrantes da comissão, incluindo um dos filhos de Jonas Savimbi, Rafael Savimbi.

“No encontro, a delegação da UNITA apresentou um caderno de encargo sobre as exéquias do Dr. Jonas Savimbi, que previa actividades até ao primeiro trimestre de 2016, e manifestou que fossem realizadas diligências no sentido de ser localizado o sítio onde foi enterrado o general António Dembo, bem como apresentar o cidadão que dizia que conhecia o local”, indica o comunicado.

O Ministério do Interior afirma, no seu comunicado, que isso não aconteceu, “não obstante terem ocorrido outros encontros, quer com o presidente Samakuva, com o vice-presidente Raul Danda, com o presidente da Bancada Parlamentar da UNITA, Adalberto Costa Júnior, entre outros, para a abordagem de questões pontuais”.

No comunicado, o Ministério do Interior volta a manifestar a sua disponibilidade de continuar a tratar do assunto, nos termos da orientação política do Executivo e dos resultados dos encontros mantidos com a direcção da UNITA.

Neste quadro, o Ministério do Interior escreveu ao presidente da UNITA a dar conta da sua disponibilidade em que o processo seja retomado.

Num outro sentido, o Ministério do Interior disse que a direcção da UNITA não enviou os documentos referentes ao processo, que não aborda o assunto no mecanismo da comissão criada e que, provavelmente, o então vice-presidente da UNITA, Ernesto Mulato, não tenha transferido o processo para o actual vice-presidente, Raul Danda.

Ao Jornal de Angola, Alcides Sakala Simões confirmou que a comissão, do lado da UNITA, continua a ser coordenada por Ernesto Mulato. 
“Vamos tomar novas iniciativas”, prometeu.

Recorde-se que o líder da UNITA, fazendo eco do sentimento generalizado dos militantes e simpatizantes do seu partido, lamentou que o Estado angolano (MPLA) continue a reter os restos mortais de Jonas Savimbi, facto que Isaías Samakuva disse constituir “um testemunho gritante da política de exclusão entre irmãos”. 
Isto, é claro, no ingénuo pressuposto de que o MPLA considera irmãos todos os que não militam nas suas fileiras.

Numa intervenção pública em Viana, destinada a assinalar que, se fosse vivo, Jonas Savimbi, primeiro presidente e fundador da União Nacional da Independência Total de Angola (UNITA), teria 84 anos, Isaías Samakuva acrescentou que a atitude do MPLA (partido que governa o país desde 1975) “simboliza a necessidade imperativa da genuína reconciliação nacional”.

“A prisão dos restos mortais do co-fundador da República de Angola constitui um testemunho gritante da política de exclusão entre irmãos e simboliza a necessidade imperativa da genuína reconciliação nacional, que a República ainda luta contra si própria e que os angolanos ainda não são um só povo, uma só Nação”, sublinhou Isaías Samakuva.

“Não há razão alguma para que o Estado angolano mantenha Jonas Malheiro Savimbi preso mesmo depois de morto. 
Porque é que os restos mortais de Jonas Savimbi foram capturados pelo Estado angolano? Porque é que se prende um morto”, questionou.

Para Isaías Samakuva, há que “ultrapassar” a situação e criar uma “nova atitude” perante a Pátria e perante o futuro, uma vez que, disse, uma “Angola unida e reconciliada será mais forte, mais legítima e mais rica”.

Nesse sentido, o líder da UNITA apelou ao Presidente angolano, general João Lourenço, para “capitalizar o momento histórico” e “potenciar as pontes de diálogo” para um novo pacto social “que conduza a uma efectiva reconciliação nacional”.

“Hoje, 50 anos depois, não devemos nunca mais perder de vista o essencial. 
O essencial é reconhecermos que todos os povos tiveram as suas guerras fratricidas e que não há guerra que não destrua. 
O essencial é reconhecer que, em todas essas guerras de irmãos, em todos os conflitos de família, não há apenas um único culpado. 
Das nossas guerras e destruições, dos futuros mutilados e dos sonhos destruídos, culpados somos todos, responsáveis somos todos e vítimas somos todos”, frisou.

Para Isaías Samakuva, a luta pela construção do país só será bem-sucedida se todos a fizerem com “patriotismo, sentido de nação plural e grandeza moral”.

Segundo o responsável máximo da UNITA, “não há razão alguma que justifique” que os feitos históricos de Jonas Savimbi, reconhecidos por África e pelo mundo, “não sejam reconhecidos formalmente pelo Estado angolano que ele próprio ajudou a erigir e do qual é co-fundador”.

“Savimbi foi um homem culto, abnegado e destemido, que marcou de forma decisiva e inapagável o curso da História política de Angola e da África Austral. 
Amado por muitos, odiado por outros, mas respeitado por todos, Savimbi deixou-nos um legado que devemos estudar”, sublinhou.

“Honrar hoje a memória de Jonas Malheiro Savimbi significa estabelecer imediatamente as autarquias locais. 
Significa fiscalizar e auditar a dívida pública, reduzir a inflação, parar com os roubos e com a impunidade daqueles que utilizam o Estado para se governarem a si próprios”, defendeu.

Para Isaías Samakuva, honrar Savimbi significa também “transformar radicalmente” os sistemas de educação, de saúde e nacional de segurança social, canalizar os investimentos produtivos para o interior do país, “parar o crescimento anárquico” de Luanda e promover a criação de cidades ecológicas, economicamente sustentáveis.

“O maior legado de Jonas Malheiro Savimbi é sem dúvida a conquista da nacionalidade angolana para todos os povos de Angola”, concluiu.

Folha 8 com Angop

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