sexta, 22 setembro 2017 13:41
Assinalam-se 38 anos de poder de José Eduardo dos Santos, desde 21 de setembro de 1979.
Para o novo Presidente eleito, João Lourenço, deverá ser difícil travar o enraizado clientelismo.
O novo Presidente de Angola, João Lourenço, toma posse a 26 de setembro, pondo fim ao regime de José Eduardo dos Santos, no poder desde 21 de setembro de 1979.
Apesar de ter sido o chefe de Estado cessante a escolher o seu sucessor, a transição política está a deixar José Eduardo dos Santos nervoso, diz o ativista angolano Luaty Beirão.
"Imagino que existe algum tipo de receio – o que é que será se perdermos agora o controlo disto? - imagino que isso exista.
Aliás, há sinais que mostram essa febre, esse nervosismo", observa o rapper Luaty Beirão.
Ainda assim, o clã do Presidente cessante não parece ter medo.
"Não sei até que ponto estão assustados ou com medo.
No fundo, sabem que ainda têm a coisa mais ou menos controlada.
Sabem que têm o controlo da situação", acrescenta o ativista.
Luaty Beirão lembra que aqueles que beneficiaram da rede de José Eduardo dos Santos tiveram tempo suficiente para se prepararem para uma nova era, garantindo a segurança dos seus rendimentos.
Afinal, já há muito que sabiam da saída do chefe de Estado.
Família e amigos no aparelho do Estado
Mesmo com José Eduardo dos Santos fora da presidência, os seus familiares mantêm uma forte presença no aparelho do Estado angolano.
A filha mais velha, Isabel dos Santos, lidera a petrolífera estatal, a Sonangol.
Segundo a revista Forbes, em 2016, os seus bens incluíam uma participação de 25% na Unitel, a maior empresa de telecomunicações do país, e 42% do Banco BIC.
O seu irmão, José Filomeno dos Santos, lidera o Fundo Soberano de Angola.
E há ainda as ex-mulheres, genros, sogros e primos de José Eduardo dos Santos, bem como generais, ministros e governadores, que também beneficiaram das ligações à família.
"José Eduardo dos Santos e os seus filhos privatizaram o Estado.
Há uma divisão dos bens do Estado entre a família presidencial, os generais e os ministros, os seus familiares e associados estrangeiros.
Praticamente não há fronteiras entre o público e o privado em Angola.
Não há distinção entre os dirigentes e os empresários nacionais", acusa o jornalista e ativista Rafael Marques:
Os lucros deste "saque dos fundos públicos", diz Rafael Marques, estão escondidos no estrangeiro, sobretudo em Portugal – país que o jornalista classifica como "a principal lavandaria de Angola" para o branqueamento de capitais.
Limitações do novo chefe de Estado
Mas muitos angolanos esperam que a rede de poder de José Eduardo dos Santos caia com a saída do Presidente cessante.
Afinal, o seu sucessor, João Lourenço, prometeu acabar com a corrupção e o nepotismo.
Mas falar não basta.
"A corrupção não se combate com discursos, mas sim com a punibilidade da prática. Corrupção é crime.
Tem de ser condenada, investigada e os responsáveis têm de ir para a cadeia", sublinha o rapper angolano MCK.
Ainda não é claro se João Lourenço será capaz de restringir os interesses do seu antecessor.
José Eduardo dos Santos abandona a Presidência, mas continua a liderar o partido no poder, o Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA), mantendo uma considerável influência política.
E há outras condicionantes no caminho do futuro Presidente.
"João Lourenço nem se quer pode mexer nas chefias do exército e da polícia nacional, porque foi aprovada uma lei para esse efeito.
É um Presidente sem poder de controlar o exército, a polícia e a economia.
É Presidente de quê?
Basicamente, é um servente da família presidencial", afirma o ativista e jornalista angolano Rafael Marques.
DW Africa
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