CRISE Se a bolsa correu mal em Portugal, na Rússia nem se fala.
Putin tem a crise do rublo e a descida do preço do petróleo a ameaçar a sua governação
Texto: ELISABETE TAVARES
Crimes, vilões, vinganças. Recordes, heróis, euforia. 2014 fica na história dos mercados. Para o bem e para o mal. Ah, e depois há os chineses
Há anos assim.
Em 2014 não faltou
nos mercados emoção, drama, tragédia e terror, crime e justiça.
Tanto no exterior
como em Portugal, foram 12 meses marcados por eventos históricos e alguns recordes.
A Bolsa portuguesa teve um dos piores anos de sempre.
O BES protagonizou uma das mais dramáticas e súbitas
falências da história.
E Alibaba invadiu
Nova Iorque.
E agora, tal como no
famoso jogo Minecraft (cujo dono foi este
ano comprado pela Microsoft), os investidores prepara-se para criar um novo mundo.
As condições mudaram.
O preço do petróleo,
instabilidade política e a atuação dos bancos centrais vão ditar as regras.
FEBRE
ALIBABA
No dia 18 de
setembro, a chinesa Alibaba completou a sua oferta pública inicial.
A estreia na Bolsa de
Nova Iorque tornou-se histórica.
É o maior IPO
(Initial Public Offer) de sempre, ultrapassando o do Agricultural Bank of China
em julho de 2010.
O negócio atingiu os
21,4 mil milhões de dólares (17,5 mil milhões de euros).
Com a venda adicional
de ações, além das que estavam
previstas, o valor de encaixe atingiu os 25 mil milhões de dólares (19,6 mil
milhões de euros).
Não surpreende.
O ano de 2014 está a
registar uma explosão de IPO.
Os bancos têm estado
ocupados.
Praticamente todas as
semanas há algum IPO de destaque a acontecer na Europa ou nos Estados Unidos.
Mas não são as empresas europeias ou norte-americanas que lideram as emissões.
Pela primeira vez
desde 2011, os chineses lideram nos IPO com 45,7 mil milhões de dólares de
valor encaixado (37,4 mil milhões de euros), face aos 6,4 mil milhões de
dólares (5,2 mil milhões de euros) registados em 2013 por esta altura, segundo
dados da Dealogic.
No total, as receitas
obtidas em estreias em Bolsa em 2014 foram as mais elevadas desde 2007: 7,1 mil
milhões de dólares (5,8 mil milhões de euros), mais 23% do que em 2013, de
acordo com a Dealogic.
Os Estados Unidos
lideram.
Seguidos da China.
O Morgan Stanley
lidera o ranking dos assessores de IPOs com uma quota de 8,5% do mercado,
seguido da Goldman Sacks e o JP Morgan.
Em geral, 2014 foi o
ano mais agitado desde 2007 em estreias em bolsa e emissão de novas ações com
as empresas a realizar operações de 865 mil milhões de dólares (708 mil milhões
de euros), segundo dados da Thomson Reuters.
Só em ofertas
públicas iniciais as empresas arrecadaram (204 mil milhões de euros) em todo o mundo.
Com as taxas de juros em mínimos, as empresas aproveitaram para atrair a
atenção dos investidores ávidos de retornos mais elevados.
As colocações em
bolsa subiram 50% face a 2013.
LOUCURA
DE CASAMENTOS E COMPRAS
O volume de fusões e
aquisições atingiu o máximo desde 2007: 3,2 biliões de dólares ou 2,6 biliões
de euros (leu bem).
Mais 27% do que em
2013.
O setor
da saúde é campeão
seguido das telecoms e do imobiliário,
segundo dados da Dealogic.
A oferta da Comcast
pela Time Warner Cable foi a maior do ano (69,8 mil milhões de dólares) com
conclusão prevista para janeiro de 2015.
O maior negócio
concluído ainda em 2014 coube à compra da Forest Laboratories pela Actavis por
28,4 mil milhões de dólares.
A Goldman Sachs é a
campeã no ranking de assessores
financeiros com negócios de 933,3 mil milhões de dólares, seguida da Morgan
Stanley e do JP Morgan.
DÍVIDA
MANIA
Os juros da dívida
soberana na Europa desceram a mínimos recorde.
Portugal lidera nas
valorizações.
Os juros da dívida a
10 anos rondam os 2,7%.
O risco do país
diminuiu com a saída de Portugal do programa de assistência financeira.
Apesar do caso BES.
BCE
VS FED
Draghi foi um dos
heróis do ano.
O presidente do BCE
anunciou medidas históricas para estimular o crescimento económico na zona euro
e combater a baixa inflação.
E em 2015 volta a
estar na ribalta.
Espera-se que o banco central
avance com compra de ativos.
Nos Estados Unidos, a
Reserva Federal começou a preparar uma subida das taxas de juro que deverá
acontecer em 2015, de forma lenta a gradual.
PETROCHOQUE
Os
preços do petróleo estão em mínimos de cinco anos.
E há
apostas que apontam que vão baixar ainda mais.
Para
já o barril de Brent ronda os 60 dólares, menos 20 dólares do que há um mês
atrás.
A
Arábia Saudita diz que não corta produção para estabilizar os preços.
Pelo
meio, várias economias exportadoras de petróleo correm o risco de implodir,
incluindo a russa.
SEM SALVAÇÃO
Nesta altura, Ricardo
Salgado deve sentir-se como na letra de Roads dos Portishead: “I got nobody on my side and surely that ain’t right”.
A comissão de
inquérito ao caso vai apurando o que se passou no Grupo Espírito Santo
e pelos testemunhos,
tudo estava centralizado no ex-presidente-executivo
do grupo.
Salgado foi
considerado o pior CEO pela BBC.
Fazendo ‘rewind’, um dos maiores e mais emblemáticos grupos financeiros
portugueses ruiu do dia para a noite.
O grupo escondia um mega
buraco que envolve Angola, venda de produtos alegadamente fraudulentos aos
clientes de retalho e contas em paraísos fiscais (além de alegadas ‘luvas’
relativas ao caso dos submarinos).
No dia 3 de agosto o
governador do Banco de Portugal anunciou a decisão de dividir o BES num banco
bom e num banco mau.
O BES desapareceu.
O banco e a Espírito
Santo Financial Group deixaram o PSI-20, que ficou reduzido a 18 cotadas.
Pelo meio,
investidores lesados preparam um mar de processos judiciais.
O que falhou?
Quem falhou?
Como foi possível?
TERROR
EM LISBOA
Pior só a Rússia.
A Bolsa portuguesa
teve em 2014 um dos piores anos de sempre.
O índice PSI-20 perde
cerca de 23%.
Enquanto na dívida
soberana Portugal está no topo das valorizações em 2014, no mercado acionista
a situação é
precisamente o inverso.
Cada tiro cada alvo.
Primeiro o BES,
depois a PT.
A somar, veio o
aumento de dívida da Mota-Engil e o adiamento da dispersão em Bolsa da
subsidiária Mota-Engil África (que acabou por estrear em Amesterdão com uma queda
estridente).
A Sonae Indústria
ajudou ao enterro da imagem da Bolsa portuguesa no exterior com um mega aumento
de capital que gerou uma dúzia de queixas no regulador CMVM.
“A cereja no topo do
bolo”, dizem responsáveis de investimento, foi a prisão do ex-primeiro-ministro
José Sócrates.
Vender Portugal no
estrangeiro não está fácil.
Nem tudo foi mau.
Foram negociados em
Lisboa mais 10 mil milhões de euros em ações do que em 2013.
O número de negócios
foi recorde: 7,5 milhões de negócios (um aumento de 38) face a 2013); 128,1 mil
milhões de ações negociadas (+122%),
38,2 mil milhões de euros movimentados (+33%).
A capitalização
bolsista do índice principal caiu 10 mil milhões de euros para 44 mil milhões
de euros.
BES, PT, Galp e JM
são os principais culpados por esta queda.
EDP e EDPR ajudaram a
minimizar os estragos.
Pelo meio, a estreia
em Bolsa da Espírito Santo Saúde e as Ofertas Públicas de Aquisição (OPA) sobre
esta e sobre a Portugal Telecom vieram animar a praça portuguesa.
E em plena crise do
BES/GES,
O Millennium bcp conseguiu realizar o maior aumento de capital de
sempre da Bolsa portuguesa.
O feito é digno de
registo.
Apesar disso, o banco
foi o único português a ter nota negativa no mais recente teste de stress do BCE. Veremos o que traz 2103.
CHINESES
A
era da china está aí e chega a Portugal, que como país resgatado tem estado em
saldos.
Depois
da entrada de investidores chineses da EDP, a Fosun comprou a Espirito Santo
Research, e reforçou na REN, entre muitos investimentos que fez no país.
Lá
fora, os chineses protagonizaram negócios emblemáticos de fusões e aquisições e
ainda marcaram pontos nas estreias em bolsa (como no Alibaba).
E
foi o ano em que ligou as bolsas de Hong Kong e Shangai a meio da ocupação
pró-democracia em Hong Kong.
EM MODI DE SUBIDA
A
Índia foi uma superestrela nos mercados no ano que agora termina.
O
novo primeiro-ministro Narendra Modi entrou em funções em maio e levou a bolsa
indiana aos píncaros de forma efusiva.
O
índice Sensex soma ganhos de 34% em 2014, uma das melhores performances entre
os mercados emergentes.
MULTAS BILIONÁRIAS
Os
bancos pagaram nos últimos seis anos mais de 200 mil milhões de euros em
multas.
Do
escândalo da manipulação da taxa Libor à alegada manipulação das taxas de
câmbio, as multas surgem como cogumelos à medida que é trazida para a luz do
dia a forma de atuação de muitos bancos no mercado. O fato com o pagamento de
multas os casos ficarem arquivados levanta dúvidas a quem gostaria de ver feita
justiça a sério.
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