FUTEBOL
Isabel Paulo, Hugo Tavares da Silva e Pedro Candeias
21 de Maio de 2018
Dois comunicados sobre segurança, duas reuniões de oposição, um documento que prova uma dívida e zero rescisões: Sporting continua partido mas com o plantel inteiro
O cenário era esperado por muitos, mas nenhum atleta do Sporting avançou com um pedido de rescisão do contrato, avança ao Expresso fonte oficial do clube.
A hipótese de rescisão coletiva surgiu após a invasão de 50 adeptos à academia de Alcochete, que resultou em agressões a jogadores, treinadores e staff.
Houve também, entre outros, o argumento de que os jogadores teriam esperado pela final da Taça de Portugal (1-2 vs. Desportivo das Aves) para avançarem com o processo, mas tal não se verificou esta segunda-feira.
Esse cenário, no entanto, não se adivinha fácil.
Apenas em duas situações haveria mais probabilidades de sucesso para a rescisão unilateral do contrato: se os atletas conseguirem provar que as agressões em Alvalade tiveram conivência do presidente ou responsáveis do clube ou SAD - caso contrário, será muito complicado alegar falta de condições psicológicas ou sentimento de insegurança no local de trabalho; a segunda via para a quebra de contrato, porventura mais facilitada pela natureza das publicações de Bruno de Carvalho nas redes sociais, é alegar falta de condições no trabalho por se considerarem vítimas de bullying.
Ou seja, os jogadores podem invocar que foram alvos de assédio moral e psicológico nos últimos tempos, nomeadamente quando foram chamados “meninos mimados”.
A Liga Portugal, contactada pelo Expresso, não confirma nem desmente os eventuais pedidos de rescisão por parte dos jogadores do clube lisboeta.
A Liga informa que qualquer denúncia contratual por rescisão unilateral ou por acordo das partes terá de ser comunicada ao organismo que rege o futebol profissional, mas que qualquer fuga de informação dá origem a uma multa até aos 20 milhões de euros ou até 4% do volume de negócios da entidade prevaricadora, ao abrigo da nova lei de proteção de dados, que se prepara para entrar em vigor.
Esta segunda-feira, numa espécie de balanço de fim de época, o Sporting publicou no seu site oficial um comunicado em que retira o apoio à Juve Leo, a principal claque do clube. “Na sequência dos gravíssimos acontecimentos ocorridos na Academia Sporting”, a direção do clube anunciou “a suspensão imediata dos benefícios” da Juventude Leonina.
Os leões anunciaram ainda um reforço de segurança em Alcochete e no Estádio José Alvalade.
Na mesma nota dá-se conta do requerimento de uma “audiência urgente com o primeiro-ministro”, já aceite, com o intuito de “discutir todos os assuntos relacionados com o combate à violência no desporto”.
Num segundo comunicado, a direção leonina especificou as novas medidas de segurança. “O ataque hediondo, classificado como ato de terrorismo pelas autoridades, ocorrido no passado dia 15 de maio”, escreve o clube no site, “veio obrigar a repensar o conceito da Academia”.
O Sporting compromete-se, entre outras coisas, a destacar “uma equipa de acompanhamento e proteção pessoal à equipa de futebol profissional”, a alargar o sistema de circuito fechado de televisão, reforçar a equipa de segurança da Academia com elementos qualificados com formação especializada em defesa pessoal e pedir uma auditoria por uma entidade independente às condições de segurança da Academia e estádio.
A vedação de todo o complexo da Academia será também revista.
“Com estas medidas adicionais de segurança”, garante o clube, “pretendemos proteger da forma mais eficaz a integridade de todos aqueles que trabalham e frequentam a Academia e o estádio”.
Está em marcha uma recolha de assinaturas para destituir Bruno de Carvalho e os restantes membros da direção do Sporting.
A Tribuna Expresso teve acesso ao requerimento que está a circular entre os sócios do Sporting, nomeadamente por WhatsApp.
Se a recolha de assinaturas se traduzir em mil votos, o documento será enviado a Jaime Marta Soares, presidente da mesa da assembleia geral.
“Os sócios signatários do presente requerimento, representando mais de mil votos, solicitam a V. Exa que, caso convoque uma assembleia geral para ser realizada no prazo de 30 dias, conforme anunciado publicamente”, pode ler-se no documento.
Essa assembleia geral, caso ocorra, vai ter a seguinte ordem de trabalhos: a “revogação com justa causa e efeitos imediatos do mandato” de Bruno de Carvalho, Carlos Vieira (vice-presidente), Rui Caeiro (vogal do conselho direito), José Quintela (vogal do conselho diretivo), Luís Roque (vogal do conselho diretivo), Luís Gestas (vogal do conselho diretivo) e Alexandre Godinho (vogal do conselho diretivo).
O requerimento invoca as seguintes razões para justificar o pedido de destituição por justa causa: “sucessão de atos lesivos para o clube, a desprestigiante atuação pública dos membros do conselho diretivo, a postura constante de divisão do clube, as suspeitas e investigações de corrupção no desporto, o incentivo a atuações agressivas e antidesportivas e a demissão massiva dos membros dos vários órgãos sociais, o afastamento de parceiros de longa data e a preocupante degradação do património do clube exigem uma reflexão urgente e conjunta dos sócios do Sporting Clube de Portugal”.
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