ITÁLIA
Jorge Almeida Ferbabdes
14 de Maio de 2018, 19:55
Di Maio e Salvini pediram ao Presidente Mattarella mais uns dias para chegar a acordo. Já haverá consenso em matéria económica.
Surge agora um novo obstáculo: o nome do primeiro-ministro
Note-se que, em matéria de programa, as duas partes anunciaram um acordo quase completo em matéria económica.
Mas há ainda grandes divergências no relativo à imigração, o que Salvini ontem confirmou. E não existe nenhum acordo sobre a política europeia.
Mattarella explicou que é sua prerrogativa nomear o primeiro-ministro.
Exige uma figura “proeminente” e não um nome de recurso.
Tornou patente que tenciona fiscalizar a acção governativa, no estrito respeito da Constituição.
O posicionamento da Itália na Europa e o equilíbrio financeiro estão entre as suas preocupações.
A fragilidade do acordo entre o Cinco Estrelas e a Liga reforçam a posição presidencial.
Diz um analista: “O Presidente Mattarella já colocou sob tutela o futuro governo”.
A imprensa segue a crise com algum humor.
O activismo de Di Maio presta-se à ironia.
Cito um cronista do La Repubblica.
“Quando Luigi Di Maio — o homem que trazia no bolso um contrato de governo já impresso para o fazer assinar por quem fizesse a melhor oferta — comunica que ‘estamos a escrever a História e só falta o nome do primeiro-ministro”, recorda aquele bom tempo em que anunciou no Facebook o seu casamento: ‘Está tudo pronto, igreja, recepção, loiças e a viagem de núpcias.
Agora só falta encontrar a noiva.”
ja.fernandes@público.pt
Di Maio e Salvini pediram ao Presidente Mattarella mais uns dias para chegar a acordo. Já haverá consenso em matéria económica.
Surge agora um novo obstáculo: o nome do primeiro-ministro
A formação do novo governo italiano permanece no impasse.
O que quase todos os dias muda são os nomes dos favoritos ao cargo de primeiro-ministro, nomes que no dia seguinte são desmentidos.
Começa a instalar-se um clima de desgaste e aborrecimento.
Apesar das longas e quase contínuas reuniões entre Luigi Di Maio, “chefe político” do Movimento 5 Estrelas (M5S), e Matteo Salvini, líder da Liga, não há “fumo branco”.
Di Maio e Salvini foram ontem novamente recebidos pelo Presidente Sergio Mattarella, em audiências separadas.
À saída do Quirinale, Di Maio tinha pouco a dizer: “Pedimos a Mattarella mais alguns dias para poder fechar definitivamente a discussão sobre os temas [programáticos].”
Deu uma justificação imbatível: “Estamos de acordo em andar depressa, mas tal como estamos a escrever o programa de governo dos próximos cinco anos, também é muito importante para nós fazê-lo o melhor possível.”
Horas depois, Salvini pouco mais acrescentou.
Ambos os partidos estão a negociar seriamente e com pressa.
Sabem que têm todo o interesse num consenso, quanto mais não seja porque uma ruptura levaria a inevitáveis eleições antecipadas.
Mattarella tem no bolso um “plano B”, um governo “neutral” para fazer aprovar o orçamento e, depois, realizar eleições.
Ambos poderão pagar um preço se falharem, sobretudo o M5S.
Os dois líderes recusam-se a indicar o nome do próximo primeiro-ministro pela simples razão de que ainda não puderam chegar a um acordo.
No domingo surgiram novos favoritos: o economista Giulio Sapelli, que foi professor de Salvini, e o jurista Giuseppe Conte, o primeiro próximo da Liga, o segundo do M5S.
A questão Sapelli
Conte já fazia parte da “lista de ministros” do Cinco Estrelas como futuro ministro da Administração Pública, que deveria reformar de alto a baixo.
Tem prestígio e é politicamente discreto.
Ao contrário, Sapelli é altamente controverso e fala muito.
No sábado publicou no jornal digital Il Sussidiario um artigo de elogio do programa de governo da Liga e do M5S.
Foi lido como uma declaração de candidatura.
Confirmou aos jornalistas ter sido contactado e disse estar disponível, desde que fosse ele a escolher o ministro das Finanças.
Horas depois, Di Maio desmentia secamente: “Não é o seu nome que será proposto à presidência.”
Sapelli resignou-se: “É porque mudaram de opinião.”
Embora já fora de questão, o seu nome suscitou imediatas reacções.
É um acérrimo crítico do euro e, sobretudo, um anti-germânico.
O artigo de sábado tinha como título “O verdadeiro plano M5S-Liga: desmontar a UE para a refazer.”
Duas semanas antes, publicara um outro com o título: “A Alemanha está a matar-nos, Trump e Putin podem salvar-nos.”
Nenhum dos dois partidos quer, neste momento, acrescentar às suas dificuldades uma querela europeia, assunto adiado.
Mas o caso Sapelli é significativo do clima e da possibilidade de surpresas.
Mas há ainda grandes divergências no relativo à imigração, o que Salvini ontem confirmou. E não existe nenhum acordo sobre a política europeia.
Mattarella explicou que é sua prerrogativa nomear o primeiro-ministro.
Exige uma figura “proeminente” e não um nome de recurso.
Tornou patente que tenciona fiscalizar a acção governativa, no estrito respeito da Constituição.
O posicionamento da Itália na Europa e o equilíbrio financeiro estão entre as suas preocupações.
A fragilidade do acordo entre o Cinco Estrelas e a Liga reforçam a posição presidencial.
Diz um analista: “O Presidente Mattarella já colocou sob tutela o futuro governo”.
A imprensa segue a crise com algum humor.
O activismo de Di Maio presta-se à ironia.
Cito um cronista do La Repubblica.
“Quando Luigi Di Maio — o homem que trazia no bolso um contrato de governo já impresso para o fazer assinar por quem fizesse a melhor oferta — comunica que ‘estamos a escrever a História e só falta o nome do primeiro-ministro”, recorda aquele bom tempo em que anunciou no Facebook o seu casamento: ‘Está tudo pronto, igreja, recepção, loiças e a viagem de núpcias.
Agora só falta encontrar a noiva.”
ja.fernandes@público.pt
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