Um blog de Economia Política e de Política Económica
Publicado em Julho 14,2014
O Dr. Passos Coelho
afirmou no final da semana passada que o dinheiro do contribuinte não devia ser gasto para
cobrir erros de empresas privadas, no caso do GES ou do BES, não se percebeu
bem. O Dr. Seguro, receoso de lhe ficar atrás em demagogia e insegurança,
assegurou-se repetindo- lhe a tirada quase tim-tim por tim-tim.
Como ambos aprovaram o empréstimo à banca
de uns seis biliões de euros do dinheiro da troika, aquele gritos
criptovirginais não serão tomados a sério, exceto pelas respetivas claques partidárias.
Os gritos sinalizam, em primeiro lugar mas não só, que estamos em pleno período
de caça aos gambuzinos.
A pergunta de
Coelho-Seguro é: «damos dinheiro aos privados?». A questão a pôr é
outra: ficamos melhor com a falência brusca do grupo GES? Ficamos melhor se a
PT entrar em semibancarrota? Quer
tenham sido cometido erros de gestão ou não.
Porque é-nos
impossível refazer o passado: o GES geriu bem? O Banco de Portugal fiscalizou
bem? A PT fez bem em comprar o papel comercial da Rioforte? A pergunta de
Coelho-Seguro pressupõe que podemos refazer o passado. Ora não podemos refazer
o passado. Só podemos fazer um futuro melhor se produzirmos uma análise
realista do passado. Por isso a questão a resolver é: como melhoramos a
situação, aceitando o princípio da realidade. Castigar erros reais ou supostos
dever feito mas apenas quando provados e quando a emenda não nos deixar pior do
que o soneto, isto é, quando o castigo não recair sobre todos nós.
Queira o
leitor anotar que não se trata de dar dinheiro a empresas privadas, mal ou bem
geridas:
trata-se sim de restabelecer um clima de
confiança (o contrário do que o Estado português tem feito em ambos os casos) -
e não de proceder a doações ou a subsídios.
Coelho-Seguro
parecem o perú a votar o Natal: se, sob o pretexto extraordinário de cumprir
Basileia 3, e manipulando a pobre da opinião publicada, proibirem o BES de
continuar a emprestar dinheiro aos seus clientes habituais nas condições
habituais, tendo em conta os seus balanços, se a TAP for impedida de ser
reembolsada no que investiu no papel da Rioforte, a crise económica voltará a
agudizar-se em Portugal. Os riscos de queda no imobiliário aumentarão. A crise
de confiança atingirá os nossos credores externos e o spreada umentará. O nível de vida cairá. O
orçamento do Estado será atingido. Por muito que agitem o espantalho do Dr.
Vítor Constâncio, será difícil responsabilizarem-no pela crise em curso e organizarem em 2015 as eleições do costume. Haverá quem ganhe com o agravar da crise, o eleitor é que não será. Nem os partidos rotativos.
ONE RESPONSE TO “CASO BES/PT: OS PERÚS VOTAM O NATAL”
Margarida Ponte Ferreira
Julho 14.2014 às 12:45 pm
Inteiramente de acordo sobre a necessidade de evitar
falências que ponham em causa o funcionamento do sistema e de restabelecer o
clima de confiança; mas o que não pode fazer-se é continuar a avalizar, pela intervenção “salvadora” do
Estado, a gestão irresponsável ou mesmo fraudulenta da Banca e outras empresas.
O Estado deverá salvaguardar os interesses nacionais mas não tem que intervir
em benefício dos acionistas que, esses, sabiam ou
deviam saber os riscos que corriam.
No final dos anos 8o e início da década de 90 os países
escandinavos tiveram uma grave crise da Banca. Na Noruega, os três maiores Bancos - foram à falência em
1990-1992 . Eis como essa séria crise bancária foi resolvida:
“By 1992 the three largest
Norwegian banks had all been nationalised. This was done by forcing the banks
to write down their nonperforming loans. The shares were written down
according to losses on the non-performing loans in the banks’ portfolio. This
loss of share capital was replaced with government capital.
This is the “Scandinavian model of crisis resolution”
that quickly restored well functioning banking in Norway, Sweden and Finland.
Notice, however, that that the subordinated debt in the capital base (leia-se depósitos) was not written down and was effectively
protected throughout the crisis. This was a consequence of the government’s
joint desire to avoid open bank failures, legal restrictions preventing writing
down of subordinated debt held by foreigners and the explicit aim to maintain
the banks as functioning concerns”. (Vide “Bank regulation and bank crisis”,
Norges Bank Working Paper 2009/18).
Em
suma, procedeu-se a uma nacionalização provisória
de entidades que, uma vez retomada a sanidade financeira, foram reprivatizadas:
o terceiro maior Banco, Focus Bank, foi reprivatizado em 1995, Kreditkassen, o segundo, em 2000 e o maior
Banco, Den Norsk Bank, já depois
disso. O Estado entrou com o capital, salvou os depósitos e a banca como tal,
mas os acionistas sofreram as perdas.
Nada que se compare ao caso BPN...
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