WILL ENGLUND
7 de Novembro de 2017, 7:01
Fidel Castro sobe ao poder em Cuba a 1 de Janeiro de 1959
Partindo da “Revolução de Outubro” de 1917, o comunismo varreu o globo. Hoje, a Coreia do Norte apresenta-se como o único verdadeiro sobrevivente.
Passou um século desde que os comunistas subiram ao poder pela primeira vez. Aconteceu na Rússia, cambaleante após três anos de guerra mundial e oito meses decorridos da deposição do czar Nicolau II.
Fora da Rússia, poucos achavam que o governo comunista conseguiria durar muito tempo. Mas o facto é que a Revolução de Outubro esteve na vanguarda – para usar uma palavra querida ao comunismo – de um movimento à escala mundial, que inspirou milhões de pessoas e repeliu ainda mais.
Em teoria, o comunismo puro implicaria a propriedade comum dos meios de produção e um enfraquecimento do Estado.
Pouco surpreendentemente, tal nunca foi alcançado.
Mas a ideologia que prometia derrubar o poder do capital e as distorções que a acumulação de capital provocava na sociedade atraiu seguidores por todo o mundo, desde Cuba à Coreia.
Os seus adeptos convenceram-se de que a construção do comunismo implicava o desenraizamento dos ideais capitalistas e a purga dos que se mantinham fiéis a um pensamento burguês ou contra-revolucionário.
Na demanda pela construção de um futuro comunista, milhões de pessoas foram feitas prisioneiras, e milhões mais morreram de fome ou executadas.
Até que tudo começou a desmoronar-se, pela mão do cinismo, da exaustão e das inevitáveis comparações com as prósperas economias de mercado do Ocidente.
O comunismo à escala mundial foi o inimigo mais temível da América nas décadas centrais do século XX.
Mas desde 1989 os países, um após o outro, foram ou abandonando inteiramente o comunismo ou empurrando-o discretamente para o lado, em busca dos mercados.
Hoje, existe apenas nas suas formas mais ténues.
Entre os países comunistas que restam, a Coreia do Norte é o único resistente feroz, mas até mesmo aí os mercados têm vindo a mudar a natureza da economia.
Apresentamos aqui uma linha temporal com os momentos marcantes na história centenária do comunismo no poder, um registo de um movimento que procurava a revolução mundial, a industrialização em grande escala e a criação de uma nova forma de sociedade.
Cresceu a partir de uma revolta urbana no noroeste da Rússia, espalhou-se por todo o mundo, entrou em putrefacção e, finalmente, foi desaparecendo como o gelo dos rios durante o degelo da primavera.
7 de Novembro de 1917
A Grande Revolução de Outubro
Os bolcheviques, uma facção revolucionária marxista liderada por Vladimir Lenine, tomam o poder na Rússia (o golpe deu-se a 25 de Outubro, no antigo calendário russo, daí o nome).
Após uma guerra civil brutal, os bolcheviques estabeleceram a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS), o primeiro governo comunista do mundo.
Os soviéticos tinham como objectivo exportar o comunismo para outras grandes nações industriais, o que fez deles párias entre os países capitalistas.
30 de Junho de 1929
Fundação de Magnitogorsk
O líder soviético Estaline ordenou a construção de uma nova cidade que abrigasse as maiores indústrias de ferro e de aço da União Soviética.
A medida fazia parte de um plano de cinco anos para libertar a Rússia da economia feudal e agrícola, transformando-a num gigante industrial.
Magnitogorsk, nos Montes Urais, foi construída com a ajuda de engenheiros americanos e inspirada em Gary, no estado norte-americano do Indiana.
Tornou-se um ícone das conquistas económicas soviéticas.
Mas a economia soviética tinha um lado negro: uma grande fome atingiu a Ucrânia, e milhões de homens e mulheres desapareceram nos gulags.
O trabalho forçado dos prisioneiros foi usado para construir canais, cortar madeira e extrair carvão.
Tropas soviéticas sinalizam a vitória na batalha de Estalinegrado, em finais de Janeiro princípios de Fevereiro de 1943
9 de Maio de 1945
Vitória sobre a Alemanha nazi
Os soviéticos foram quem mais sofreu com a II Guerra Mundial na Europa.
O seu triunfo final foi desde então explorado como um momento de glorificação e legitimação da URSS – e da Rússia que lhe sucedeu.
No final da guerra, Moscovo estabeleceu regimes comunistas amigáveis em toda a Europa Oriental, criando aquilo a que Winston Churchill chamou de Cortina de Ferro, e dando início à Guerra Fria.
1 de Outubro de 1949
Mao declara a vitória comunista na China
O longo conflito entre nacionalistas e comunistas acabou com uma quase total vitória comunista.
Mao Tsetung, líder do Partido Comunista, foi recebido em Moscovo como o tribuno do comunismo asiático.
Mas não passou muito tempo até que as tensões levassem a uma ruptura, separando os dois países mais importantes do comunismo.
Ao longo das décadas seguintes, milhões de chineses viriam a morrer de fome e em campos de trabalho.
Mao Tsetung proclama a criação da República Popular da China a 1 de Outubro de 1949
27 de Julho de 1953
Guerra da Coreia termina num impasse
Com a derrota do Japão na II Guerra Mundial, a Coreia tinha sido dividida entre o Norte Comunista, sob a alçada da União Soviética, e o Sul, aliado dos países ocidentais.
A Guerra da Coreia estalou em 1950, colocando os coreanos uns contra os outros e arrastando consigo os Estados Unidos e seus aliados de um lado, e a China comunista do outro.
A guerra terminou num impasse, embora até hoje a Coreia do Norte declare ter saído vitoriosa.
4 de Novembro de 1956
União Soviética esmaga a revolta na Hungria
Após a morte de Estaline em 1953, a ascensão de Nikita Khrushchev a líder soviético parecia anunciar uma diminuição da repressão.
Resistentes húngaros, ansiosos para se libertarem do domínio de Moscovo, lideraram uma revolta que levou ao colapso do seu governo.
O presidente Dwight Eisenhower elogiou-os, mas os Estados Unidos assistiram impávidos quando o exército soviético entrou no país e esmagou a rebelião.
1 de Janeiro de 1959
Fidel Castro sobe ao poder em Cuba
Castro e os seus revolucionários desceram das montanhas e derrubaram o regime corrupto de Fulgêncio Batista, que tinha fortes ligações ao crime organizado americano.
No início, Castro estava disposto a lidar com os Estados Unidos, mas confrontado com a hostilidade americana, rapidamente procurou apoio em Moscovo.
Foi um choque para os líderes americanos o estabelecimento de um regime comunista no hemisfério ocidental.
30 de Abril de 1975
A queda de Saigão
A guerra sangrenta e prolongada no Vietname, que tinha destruído a presidência de Lyndon Johnson e contribuído para a queda de Richard Nixon, terminou com uma vitória comunista.
Saigão foi rebaptizada, passando a chamar-se Ho Chi Minh.
O comunismo global estava no seu ponto mais alto da História, embora na época poucos suspeitassem disso.
31 de Agosto de 1980
Na Polónia, surge a Solidariedade
O primeiro sindicato independente na Europa Oriental do pós-guerra foi criado num estaleiro em Gdansk, e liderado pelo electricista Lech Walesa, entre outros.
No início, o governo de Varsóvia tentou negociar com o sindicato, mas pouco depois a união sindical foi ilegalizada.
Mas nunca chegou a desaparecer, e viria a ressurgir no ano fundamental de 1989.
4 de Junho de 1989
Protestos na Praça da Tiananmen esmagados
Os manifestantes pró-democracia ocuparam a praça central de Pequim, inspirados por um programa de mudanças que os líderes chineses vinham cautelosamente a implementar. Mas revelou-se uma provocação demasiado grande para o governo comunista, que enviou tropas e tanques para controlar a praça.
Centenas de pessoas, talvez milhares, perderam a vida.
A lição foi aprendida, e desde então não voltou a acontecer nada parecido na China.
Protestos na Praça Tiananmen em Junho de 1989
9 de Novembro de 1989
Queda do Muro de Berlim
Cinco meses depois, o líder soviético Mikhail Gorbachev comunicou ao governo comunista da Alemanha de Leste que Moscovo - preocupado com o declínio económico e o esvaziamento do fervor ideológico - não viria em sua ajuda para fazer frente aos crescentes protestos populares.
A Solidariedade já estava presente no governo da Polónia, e na Hungria assistia-se a um êxodo para a fronteira com a Áustria.
Mas quando o Muro caiu e os berlinenses se reuniram em alegres manifestações, ficou claro para o mundo que a era comunista na Europa Oriental tinha acabado.
19 de Agosto de 1991
O golpe falhado em Moscovo assinala o fim da URSS
Os soviéticos da “linha dura” tentam derrubar Mikhail Gorbachev, por medo de que suas políticas de glasnost e perestroika - abertura e reestruturação - colocassem o país em risco de se desmoronar.
O seu fracasso deu um grande impulso ao principal político anti-comunista russo, Boris Yeltsin, e levou à ilegalização do Partido Comunista algumas semanas depois. Efectivamente, a União Soviética desmoronou-se, e deixou de existir a 25 de dezembro de 1991.
Queda do Muro de Berlim em Novembro de 1989
16 de Agosto de 2010
Economia chinesa ultrapassa a do Japão
Os resultados apresentados neste dia pelo governo chinês mostraram que a China tinha ultrapassado o Japão, tornando-se a segunda maior economia do mundo.
O progressivo afastamento de Pequim do marxismo, em favor de um capitalismo centrado no estado, estava em andamento já há duas décadas, e apresentava agora resultados incríveis.
3 de Setembro de 2017
Pyongyang diz que pode atacar EUA com bomba de hidrogénio
Três gerações de liderança da família Kim transformaram a Coreia do Norte num estado-pária, mais parecido com uma monarquia do que com uma nação verdadeiramente comunista.
A introdução de algumas reformas - embora em menor escala do que na China ou no Vietname - ajudou a economia.
Mas a hostilidade em relação ao Ocidente, nomeadamente aos Estados Unidos, tem vindo a acentuar-se.
A Coreia do Norte vê as armas nucleares como o único meio de manutenção da sua soberania, diante do que chama de agressão americana.
Cem anos depois de Lenine ter chegado ao poder na Rússia, é o reduto mais problemático do comunismo.
Exclusivo PÚBLICO/The Washington Post
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