Powered By Blogger

quarta-feira, 5 de dezembro de 2018

Carta Aberta (e Pública) ao Presidente João Lourenço

Destaque MUKANDAS
Redação F8
5 de dezembro de 2018

Recordando os métodos de José Eduardo dos Santos durante 38 anos, hoje os “anónimos” servidores de João Lourenço voltaram a pôr como garras de fora. 
Não gostei do texto “Sociedade civil, João Lourenço e nós” e, como os votos de outros tempos, partiram para as ameaças, para as acusações.


Por Orlando Castro

Pela forma, mas também pelo conteúdo e pela escrita, percebe-se que são gente evoluída e que gravita junto de quem tem o Poder, tal a forma canina como se arrogam ter o dever de defender quem, de facto, não precisa de ser defendido por gentalha deste tipo – João Lourenço. 
Numa estratégia concertada, todas as ameaças tinham uma pergunta comum: “Quem é que o William Tonet julga que é?”.

Pois bem. 
Em vez de respondermos aos párocos do bairro, vamos directamente a “Deus”, evitando intermediários. 
Assim, permita-me V. Exa. Senhor Presidente da República, João Lourenço, que lhe relembre sinteticamente quem é William Tonet. 
Se, eventualmente, achar por bem fazer alguma pedagogia e passar a informação aos seus assessores que dizem, mentindo, que não lêem o Folha 8, esteja à vontade.

Em 1965, no Congo-Brazzaville, na base do Movimento, por orientação de Agostinho Neto, o ex-vice-presidente do MPLA, Matias Miguéis, foi enterrado vivo, tendo ficado a cabeça de fora durante dois dias para receber todo tipo de humilhações até sucumbir.

Não seria importante que o presidente do MPLA, João Lourenço, nos dissesse se sabe, se tem uma ideia ou se não quer saber, quantas crianças soldados e guerrilheiros assistiram a esta barbárie?

Em 1966, foi queimado numa fogueira, logo barbaramente, assassinado, na Frente Leste, o abnegado e valoroso comandante Paganini e mais seis outras pessoas, acusados de feitiçaria e tentativa de golpe contra a direcção de Agostinho Neto, em Brazzaville. 
Será prova de coragem varrer estes factos para debaixo do tapete?

Consta dos arquivos da PIDE, que repousam na Torre do Tombo, em Lisboa, que Guilherme Tonet fundou, em 1960, a FPLA (Frente Popular de Libertação de Angola), partido responsável pela manutenção dos núcleos de guerrilha em Luanda depois da sublevação do 4 de Fevereiro de 1961 e que foi ainda o criador de uma região militar, na zona dos Dembos e Piri, que viria posteriormente a converter-se na 1.ª Região Político Militar do MPLA. Guilherme Tonet partiu, consta também, para os húmus libertários, com seu filho primogénito (William Tonet), então com três anos de idade.

O cartão de pioneiro n.º 485, atesta William Tonet como sendo natural da 1.ª região político-militar do MPLA. 
Nas matas, as crianças não andavam a brincar à cabra-cega, eram “guerrilheiros-mirins”, servindo de antenas e carregadores dos guerrilheiros.

Na tentativa de abertura de mais uma frente, no Planalto Central, em 1968, o grupo de guerrilheiros foi preso, dentre eles Guilherme Tonet, que viria a ser desterrado para a cadeia de São Nicolau. 
Foi nestas bandas que William Tonet encontrou, estudou e conviveu com o actual Vice-Presidente da República, Bornito de Sousa.

Por tudo isso, brada aos céus a presunção (passiva ou activa) de monopólio da verdade de muitos altos dirigentes do MPLA que se arrogam a cometer, com total impunidade, o crime de difamação e violação primária da verdade quando dizem:

“O cidadão William Tonet nunca pertenceu ao movimento guerrilheiro, dirigido pelo MPLA, no período de luta pela independência nacional de Angola, nem integrou qualquer estrutura ou força governamental, que se tivesse envolvido directamente, na luta pela preservação da independência ou pela defesa da integridade do solo pátrio”.

Lembram-se os actuais, os anteriores dirigentes bem como o actual Presidente do MPLA de todos os membros que estiveram na comissão de redacção do congresso de Lusaka de 1974? 
William Tonet lembra-se. 
Quem mente?

Saberá o Presidente do MPLA, os nomes dos guerrilheiros que vieram, em 1975, no primeiro navio de cimento a partir de Cabinda? 
O MPLA deve assumir se tinha ou não nas suas fileiras crianças-soldados, antes e depois da independência. 
Isto para se aferir quem mente…

Em 1975, em Luanda, William Tonet fez parte do grupo de contra-informação, que “invadiu” o então hospital universitário de Luanda (actual Américo Boavida) e de lá retiraram, crianças mortas, corações, fígados e outros órgãos humanos, que serviam de objecto de estudo, aos alunos do curso de medicina, para os colocar nas Casas do Povo da FNLA, acusando-os de canibalismo e de comerem pessoas. 
Tese que vingou e perdura por muitos anos. 
Será que o MPLA já pediu desculpa aos angolanos e à FNLA, sobre essa mentira? 
Tonet penitenciou-se, ainda Holden Roberto estava em vida e junto da direcção da FNLA. Ngola Kabangu e outros podem confirmar.

Ainda em Luanda, no bairro Vila Alice, no quadro das actividades dos “Comités Ginga”, em 1975, antes da proclamação da nossa Independência, sob coordenação do nacionalista Guilherme Tonet, que organizava e ministrava cursos de formação de activistas pró-MPLA, dos quais se salienta o Curso de Monitores Político-Militares, participaram uma plêiade de jovens que mais tarde desenvolveram acções de realce em prol da construção da Pátria angolana.

O espaço reservado para as referidas aulas situava-se na residência de Guilherme Tonet, que na sua acção formativa contou com o apoio do seu filho primogénito William Tonet, cuja missão primordial se centrava na produção, impressão e distribuição dos materiais que serviram de apoio aos formandos.

Eis alguns nomes dos participantes nas actividades formativas levadas a cabo por Tonet: Ana Dias Lourenço, Luís Carneiro “Luisinho”, Evelize Fresta, Mariana Afonso Paulo, Ana Maria de Sousa Santos “Nani”, Pedro de Almeida, Fernanda Dias, Artur Nunes, Sara Bernardete Barradas e Maria da Conceição Guimarães.

Estes são alguns nomes dos muitos jovens que receberam formação política em prol do MPLA no período que antecedeu a proclamação da Independência Nacional e que integraram os múltiplos Comités de Autodefesa (braço armado embrionário do MPLA na cidade de Luanda) sob tutela dos Comités Ginga espalhados nos bairros como Sambizanga, Prenda, Golfe, Cazenga, Marçal, Rangel, Bairro Popular, Ilha de Luanda, Ingombota, etc..

William Tonet foi um dos comandantes que levou pioneiros de Luanda para o Largo 1.º de Maio, afim de servirem de porta bandeira, na noite de 11 de Novembro de 1975, data da proclamação da Independência. 
Um destes pioneiros, dentre outros, foi Toninho Van-Dúnem, ex-secretário do Conselho de Ministros.

Em 1976, era um dos integrantes do “estado-maior” das Comunicações da 9.ª Brigada das FAPLA, tendo sido nessa condição colocado, por orientação da Comissão Executiva do MPLA, no gabinete do Comandante Nito Alves, para a área juvenil e de mobilização em Luanda. 
Participou nas várias reuniões preparatórias e electivas, dos membros das Comissões Populares de Bairro. 
Foi autor, na campanha de diabolização do adversário político, mais temeroso da altura, da expressão, que viria a ser musicalizada: “Holden é como camaleão”! “Ele é lacaio do imperialismo internacional”, num dos comícios no campo de São Paulo, em Luanda! 
Alguém do MPLA pode desmentir isso?

Em 1977, por ocasião do 27 de Maio foi preso, sem culpa formada, pelo agente da DISA, Carlos Jorge, também conhecido por Cajó, acusado de fraccionismo, na companhia de seu pai, Guilherme Tonet, mais dois tios, que viriam a ser enterrados vivos.

William Tonet está registado com o n.º 5369/86, como Antigo Combatente, emitido no período de partido único, onde o rigor de pendor comunista era mais acentuado. 
O processo foi constituído e repousa nos arquivos da então Secretaria de Estado dos Antigos Combatentes, tendo sido emitido a 28 de Agosto de 1986, Ano da Defesa da Revolução Popular.

Nos anos 80 foi delegado da TPA (Televisão Popular de Angola) em Benguela. 
Trabalhou ainda a nível da JMPLA com a deputada do MPLA, Ângela Bragança e com o actual Presidente do Tribunal Supremo, Rui Ferreira.

Na qualidade de oficial de comunicações, especialista em intersecção militar, foi requisitado em nome do governo e na sua condição, para trabalhar, em diversas ocasiões com os generais Kundy Pahiama, Fernando da Piedade Dias dos Santos “Nandó” e Fernando Garcia Miala, então chefe da Casa Militar da Presidência da República.

Ainda na qualidade de oficial e no estado-maior de comunicações militares, sua especialidade, trabalhou, entre os anos 80 e 90, em muitas das grandes operações militares das FAPLA, nas regiões Sul, Norte, Leste e Sudoeste, na criação de linhas de intersecção, com os generais, Ngueto, Faceira, João de Matos, Armando da Cruz Neto, Jorge Sukissa, entre outros. 
Aliás nessa condição, com conhecimento do general João de Matos, foi impedido, por ordem militar do comandante-em-chefe, José Eduardo dos Santos, de se retirar da Frente Centro.

Em 19 de Maio de 1991, após quatro dias de negociações directas entre William Tonet e os líderes do MPLA e da UNITA, respectivamente José Eduardo dos Santos e Jonas Malheiro Savimbi, foi assinado no Alto Cauango, Luena-Moxico, o Primeiro Acordo de Paz de Angola, pondo fim a uma guerra de 57 dias, entre as tropas militares das FAPLA/MPLA e FALA/UNITA. 
Foram subscritores ou testemunhas oculares, Higino Carneiro, Nelumba Sanjar, Chilingutila, Mackenzi, entre outros.

Há, de tempos em tempos, que tomar-se a altura do Sol para que a rota se não extravie pela superfície movediça de factos e circunstâncias, num mar-alto sem referências nem horizontes. 
Também hoje, “Angola vagueia num mundo transformado e revolto, sem horizonte” nem pontos de referência angolanos.

quinta-feira, 1 de novembro de 2018

Tiago Fernandes deve orientar o Sporting frente ao Santa Clara

Sporting Clube de Portugal
Nuno Fernandes
01 Novembro 2018 — 19:26
Filho do antigo jogador Manuel Fernandes, que fazia parte da equipa técnica de José Peseiro, é para já a solução de recurso. 
E esta quinta-feira já deu o treino

Tiago Fernandes, filho do antigo jogador dos leões Manuel Fernandes, é para já o treinador interino do Sporting após o despedimento de José Peseiro. 
O técnico, que fazia parte da equipa técnica de Peseiro, foi a solução de recurso da SAD para substituir o ribatejano e esta quinta-feira já deu o treino em Alcochete.

Apesar de ser uma solução provisória, a verdade é que é bem provável que Tiago Fernandes se sente no banco dos leões no próximo domingo, na deslocação do Sporting aos Açores para defrontar o santa Clara. 
Isto porque a equipa viaja já no sábado para os Açores, e é pouco provável que até lá a SAD do Sporting já tenha contratado um novo treinador. 
Ou que pelo menos o eleito esteja em condições de pegar já imediatamente na equipa.

A SAD dos leões já tem alguns nomes em vista, mas este processo pode arrastar-se alguns dias. 
Embora seja ainda cedo para afirmar, pode até dar-se o caso de Tiago Fernandes orientar o Sporting no jogo de quinta-feira, em Londres, com o Arsenal, relativo à Liga Europa.

Tiago Fernandes está no Sporting desde a temporada 2011/12. 
Começou como adjunto dos iniciados, e em 2015/16 saltou para os juniores, onde se sagrou campeão nacional em 2016/17. 
Esta época, quando José Peseiro foi contratado, integrou a equipa técnica do ribatejano.

Sporting despede o treinador e os comentadores falam é do Benfica

Sporting Clube de Portugal
Hugo Gil
1 de Novembro de 2018

O Sporting despediu o treinador e o que vemos é um Correio da Manhã a apontar nomes para suceder a Rui Vitória.  
Depois disso, hoje vemos vários comentadores afetos ao Sporting a falar sempre no Benfica como se fosse o clube da luz o responsável.

Carlos Severino veio a público mostrar o descontentamento com a maneira como o presidente Frederico Varandas despediu José Peseiro. 
“O Sporting está em todas em competições e tem possibilidades de fazer uma boa época. Não podemos desvalorizar a herança. 
Não está em causa o despedimento, o que está em causa é a forma como foi despedido… foi à Bruno de Carvalho. 
Frederico Varandas devia ter feito uma conferência de imprensa e explicar as razões que o levavam a despedir José Peseiro. 
Antes tínhamos um excesso de comunicação, agora temos um défice de comunicação. 
O Sporting tem respeito pelas pessoas… este despedimento não foi à Sporting”, afirmou o comentador na TVI24, ‘soltando’ duas opções válidas para ocupar o lugar de José Peseiro, que acabou por ser despedido depois da derrota caseira (2-1) com o Estoril, em jogo a contar para a 2ª jornada do Grupo D da Allianz Cup.

“O futuro do Sporting tem que ser reconstruido, até porque a formação do clube já teve melhores dias. 
Já fomos ultrapassados pelo Benfica. 
E por falar no Benfica, quero apenas deixar uma nota: o Benfica quando está debaixo do foco, o Sporting puxa logo o foco para sim… é uma atração fatal. 
Mas em relação ao novo treinador, espero que o Sporting faça um esforço para trazer Leonardo Jardim. 
É a melhor opção. 
Mas ainda há o rui Jorge. 
Conheço-o bem, é o ideal para um projeto que aposte na formação. 
O Sporting tem que ter um projeto que assente na formação e que promova entradas cirúrgicas de jogadores de qualidade. 
Mas reafirmo que a minha escolha seria Leonardo Jardim. 
É um treinador que até pode trazer retorno no futuro”, enalteceu Carlos Severino.

José Peseiro despedido do Sporting

Sporting Clube de Portugal
Nuno Fernandes
01 Novembro 2018 — 10:28

Treinador não resistiu à derrota caseira com o Estoril por 2-1, para a Taça da Liga. Paulo Sousa é hipótese e Tiago Fernandes fica para já como interino

A informação foi avançada pelos jornais desportivos e confirmada pelo Diário de Notícias junto de fonte próxima do treinador. O presidente leonino despediu José Peseiro na madrugada desta quinta-feira na sequência da derrota em Alvalade, com o Estoril, no jogo para a Taça da Liga que os leões perderam por 2-1 em Alvalade. 
A SAD leonina ainda não tornou a informação oficial, mas o DN sabe que em breve será emitido um comunicado.

Esta, refira-se, é a primeira chicotada na I Liga, pois até ao momento, e quando já estão decorridas oito jornadas, nenhuma outra equipa do primeiro escalão tinha mudado de treinador.

José Peseiro deixou o Estádio de Alvalade após o jogo com o Estoril debaixo de assobios e protestos dos adeptos sportinguistas. 
E horas depois foi-lhe comunicado o despedimento. 
O técnico esteve no comando da equipa durante 14 jogos, somando nove vitórias, um empate e quatro derrotas.

Paulo Sousa é neste momento uma das hipóteses. 
O português está atualmente sem clube, depois de ter deixado a aventura na China, e segundo foi possível apurar viu recentemente o jogo entre o Arsenal e o Sporting em Alvalade. 
O nome de Leonardo Jardim também é do agrado dos dirigentes leoninos, mas o treinador que deixou recentemente o Mónaco é demasiado caro.

Ainda segundo foi possível apurar, Tiago Fernandes, filho de Manuel Fernandes, que integrava a equipa técnica de José Peseiro, vai orientar esta quinta-feira o treino do Sporting, com vista ao jogo de domingo diante do Santa Clara. 
E ficará como interino até ser encontrado o novo treinador.

José Peseiro regressou esta época ao Sporting pela mão de Sousa Cintra, o presidente da SAD durante a atuação da Comissão de Gestão, que pegou no clube durante três meses depois do vazio com a saída de Bruno de Carvalho. 
Mesmo ainda antes de ser eleito presidente, Frederico Varandas sempre defendeu que ia manter o treinador, apesar de não ter sido sua escolha. 
O DN sabe, contudo, que Peseiro nunca foi um treinador que tivesse a plena confiança da SAD leonina, e que viu o desagrado aumentar após a derrota do Sporting com o Portimonense, para a I Liga.

Mesmo o próprio Sousa Cintra, que o contratou depois de falhar outros alvos, como foi o caso do regresso de Jorge Jesus, deixou algumas críticas a José Peseiro numa recente entrevista ao jornal Record, relacionadas com a formação do plantel: "Ele fazia a leitura dos jogadores. 
Mas perdia muito tempo a analisar. 
Via, via, serve, não serve, houve ali alguma falta de decisão. 
Tenho enorme respeito pelo treinador, mas na escolha dos jogadores houve muita indecisão. Sim, depois não, depois sim, não, talvez. 
Poderíamos ter outro plantel, apesar de este ser bom. 
Houve muitas indecisões e perdemos dois ou três bons jogadores. 
As coisas são como são e eu também queria que ele apostasse na prata da casa."

"Peseiro sabe que pode não ser um treinador para uma época", disse Varandas na segunda-feira

Sporting Clube de Portugal
Nuno Fernandes
01 Novembro 2018 — 14:20
Presidente do Sporting concedeu uma entrevista ao programa de podcast de Daniel Oliveira onde já colocava a hipótese da saída do treinador e falava sobre um eventual regresso de Leonardo Jardim a Alvalade

A entrevista foi feita na segunda-feira de manhã, ou seja, antes do despedimento de José Peseiro na madrugada desta quinta-feira. 
Mas durante a conversa com Daniel Oliveira (o comentador público, não o apresentador), no programa de podcast 'Perguntar Não Ofende', Frederico Varandas, treinador do Sporting, já dava algumas pistas sobre o facto de o treinador poder estar a prazo.

Leia aqui algumas das passagens da entrevista onde Varandas fala de José Peseiro.

[Peseiro vai ficar até ao fim da época?] "O futebol muita vezes é injusto e há pessoas que têm tolerância e outras que não. 
O José Peseiro foi escolhido por uma Comissão de Gestão, uma situação extremamente difícil, uma pré-época complicada, uma época conturbada. 
Mas a verdade é que há treinadores que têm mais margem de erro do que outros. 
Lembro-me do que se disse quando José Peseiro foi anunciado pela Comissão de Gestão. O Peseiro ter estado nos primeiros lugares nas quatro primeiras jornadas nada melhorou do ponto de vista do universo sportinguista."

"Não há justiça no futebol, não há passado. 
Há uma coisa que não abdico. 
Sou presidente e tenho que defender os interesses do Sporting. 
Muitas pessoas que votaram em mim diziam-me 'agora é correr com o Peseiro'. 
Eu sei o que significa mudar um treinador a meio de uma época, sei os riscos que isso tem, mas sei também as vantagens que pode ter. 
Mas há uma coisa. 
No dia em que porventura decidir mudar alguém, seja treinador, ou não, tenho de salvaguardar a hipótese de podermos melhorar."

"Peseiro é o treinador do Sporting. 
Mas obviamente que ele sabe o que é o futebol português, sabe que está dependente dele. Sabe que pode não ser um treinador para uma época, obviamente [...] 
Não existe nenhum treinador que venha para o Sporting que não esteja sob pressão dos adeptos [...] 
Depois da entrevista que dei ao Expresso quis logo falar com José Peseiro. 
Entendo que tenha sido uma entrevista pouco simpática. 
Expliquei-lhe porquê. 
E o Peseiro concordou comigo [...] 
Não fui eu que escolhi este treinador. 
Se é o meu treinador? 
É o treinador do Sporting Clube de Portugal, enquanto for treinador do Sporting, é o meu treinador."

Na mesma entrevista, Frederico Varandas foi questionado sobre a possibilidade de Leonardo Jardim poder regressar ao Sporting. Eis a resposta.

"O facto de ser amigo do Leonardo Jardim não é um dado adquirido de que ele virá para o Sporting. 
Não misturo relações pessoais com profissionais. 
É um grande treinador e eu estou convencido que o Sporting um dia vai ter o Leonardo Jardim. 
Mas quando vier não será por dinheiro. 
O que está mais em causa é o regresso psicológico dele a Portugal. 
Já tem grandes clubes europeus interessados e os chineses a dar-lhe a lua. 
Nem todas as pessoas se movem só por dinheiro. 
Não tenho a menor dúvida. 
Mas Leonardo jardim não está preparado, não quer regressar a Portugal no curto prazo."

sábado, 20 de outubro de 2018

Do cadastro de Dilma ao homem que esfaqueou Bolsonaro: as imagens falsas que iludem os brasileiros no WhatsApp

PRESIDENCIAIS BRASIL 2018
Claudia Carvalho Silva
19 de Outubro de 2018, 21:11 

O WhatsApp tem sido a plataforma mais utilizadas para difundir
 informação  falsa durante a campanha presidencial brasileira
Um estudo feito pela equipa de verificação de factos Lupa conclui que a maioria das imagens partilhadas na rede social WhatsApp durante a campanha para as presidenciais brasileiras são falsas ou são apresentadas fora do seu contexto. 
O PÚBLICO mostra alguns exemplos.





O Brasil está dividido a pouco mais de uma semana das presidenciais e o seu futuro decide-se também nas redes sociais. 
O jornal Folha de São Paulo revelou na quinta-feira que há suspeitas de que várias empresas estarão a financiar o envio no WhatsApp de centenas de milhões de mensagens com notícias falsas contra o candidato presidencial Fernando Haddad e o seu Partido dos Trabalhadores (PT), num esquema que visará beneficiar o candidato de extrema-direita Jair Bolsonaro.

A pedido da Universidade de São Paulo e da Universidade Federal de Minas Gerais, a agência Lupa, uma equipa de verificação de factos, analisou o grau de veracidade das 50 imagens mais partilhadas em 347 grupos de WhatsApp entre 16 de Agosto e 7 de Outubro – e chegaram à conclusão de que só quatro das imagens eram totalmente verdadeiras. 
O fenómeno é transversal, e “o problema das notícias falsas no Brasil transcende as divisões políticas”, lê-se num artigo de opinião que autores do estudo publicaram no New York Times.

Das 50 imagens analisadas (que habitualmente incluem legendas a reforçar uma determinada mensagem política), há oito que são totalmente falsas. 
Nove são sátiras ou estão associadas a artigos de opinião (ou seja, não reflectem factos). Noutros 16 casos, as fotografias são verdadeiras mas são associadas a teorias da conspiração ou são apresentadas fora do seu contexto. 
Os restantes exemplos analisados incluem afirmações exageradas ou impossíveis de serem provadas, refere a agência Lupa. 
O PÚBLICO reuniu alguns exemplos de imagens e notícias falsas que circularam na rede.

Dilma Rousseff com Fidel Castro
Uma das imagens que foi partilhada pelo menos 78 vezes nos grupos analisados é a de uma montagem em que a antiga Presidente do Brasil, Dilma Rousseff (PT), surge ao lado do ditador cubano Fidel Castro numa visita a Nova Iorque. 
A fotografia original (que pode ser vista aqui) foi tirada pelo fotógrafo John Duprey em 1959, quando Rousseff tinha apenas 11 anos — ou seja, trata-se de outra pessoa e não da antiga chefe de Estado brasileira.

O homem que atacou Bolsonaro numa foto com Lula
Outra imagem que circulou tanto no Facebook como no WhatsApp mostra Adélio Bispo de Oliveira – o homem que esfaqueou o candidato presidencial Jair Bolsonaro no início de Setembro – num comício com Lula da Silva. Trata-se de uma montagem. Oliveira nunca esteve no comício e a imagem registada pelo fotógrafo Ricardo Struckert foi manipulada digitalmente.

A fotografia manipulada (à esquerda) e a fotografia original (à direita)

Direitos homossexuais e pedofilia
Uma imagem partilhada pelo menos 53 vezes nos grupos analisados pela Lupa apresenta uma criança a beijar um adulto na boca durante uma marcha pelos direitos dos homossexuais. 
"Esse é o direito que eles querem. E se você não concordar, irão lhe chamar de homofóbico", lê-se na legenda. 
Outra legenda que costuma acompanhar a imagem é de que são "pessoas" que "não votam em Bolsonaro". 
A intenção implícita é de associar a luta pelos direitos dos homossexuais no Brasil à apologia da pedofilia, mas nem a fotografia foi tirada no Brasil (é de Nova Iorque e foi registada em Junho de 2015), nem há qualquer prova de que retrate um acto pedófilo (uma vez que beijar uma criança nos lábios é um gesto de afecto habitual em alguns países e culturas, não tendo necessariamente um cariz sexual).

A ficha criminal de Dilma Rousseff
Outra das imagens falsas que circulou no WhatsApp (e que também já tinha circulado durante a campanha para as presidenciais de 2010) foi o suposto registo criminal de Dilma Rousseff, com uma fotografia sua, em que é referido que esteve envolvida no assassínio do norte-americano Charles Rodney Chandler e noutros actos atribuídos a grupos terroristas.



claudia.silva@publico.pt

Justiça mantém silêncio sobre pedidos de impugnação da candidatura de Bolsonaro

PRESIDENCIAIS BRASIL 2018
Sofia Lorena
19 de Outubro de 2018, 20:59
Bolsonaro depois de votar na primeria volta, a 7 de Outubro

O candidato do Partido dos Trabalhadores à presidência do Brasil começou o dia a manifestar confiança na Justiça do país e acabou a criticá-la. 
“Ele foge dos debates, não vai poder fugir da Justiça”, afirmou Fernando Haddad no tempo de antena radiofónico do PT. 
“Ele” é Jair Bolsonaro, seu rival na segunda volta das eleições, a 28 de Outubro. 
Horas depois, num encontro com apoiantes no Rio de Janeiro, Haddad criticava o “silêncio absoluto” do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) sobre “o caso do WhatsApp”.

Tudo começou na quinta-feira, com uma investigação do jornal Folha de São Paulo onde se revela que há empresas a contratar o envio, através do WhatsApp, de milhões de mensagens e notícias falsas contra Haddad, num esforço concertado para beneficiar Bolsonaro. 
As informações divulgadas pelo diário serviram de base a três pedidos de investigação que deram entrada no TSE – dois deles, o do PT, e o do PDT, de Ciro Gomes, pedem a impugnação da candidatura de Bolsonaro.

O TSF esteve reunido durante a tarde e chegou a marcar uma conferência de imprensa para falar do caso, mas adiou esses esclarecimentos para domingo sem mais explicações. “Temos uma Justiça analógica para lidar com problemas virtuais”, afirmou ainda Haddad, numa acusação que não andará longe da verdade. 
Um dia depois da primeira volta a presidente do TSE, Rosa Weber, admitia que as autoridades ainda estavam “aprendendo a lidar com fake news”, um fenómeno que, disse, “não é de fácil compreensão nem prevenção”.

Presidenciais Brasil 2018

Presidenciais Brasil 2018 PT pede impugnação da candidatura de Bolsonaro Empresários pró-Bolsonaro pagam milhões de mensagens no WhatsApp. Esquema ilegal é revelado pelo jornal Folha de São Paulo. O Tribunal Superior Eleitoral pode aceitar investigar o caso mas nunca haverá conclusões antes da segunda volta, a 28 de Outubro.


Segundo o trabalho da Folha, uma série de empresas, algumas próximas do candidato do Partido Social Liberal (PSL), terão acabado de fechar contratos com agências de marketing especialistas no envio de mensagens em massa. 
“Eles preparam uma grande operação para a semana que antecede a segunda volta”, escreve o diário, adiantando que em causa estão contratos no valor de 12 milhões de reais cada (2,8 milhões de euros).

As agências implicadas no alegado esquema seriam a Quickmobile, Yacows, Croc Services e SMS Market – todas receberam uma notificação extrajudicial do WhatsApp para pararem de enviar mensagens em massa. 
O WhatsApp baniu ainda várias contas associadas a estas empresas. 
O mesmo aconteceu com o senador eleito Flávio Bolsonaro, filho do candidato, que denunciou ter sido banido da rede “do nada, sem nenhuma explicação”, perdendo a conta onde tem “milhares de grupos”.

A comprovar-se, este esquema pode ser considerado financiamento ilegal de campanha eleitoral – as empresas não podem doar dinheiro a campanhas. 
“Não temos necessidade de fake news para vencer Haddad, as verdades chegam”, reagiu Bolsonaro no Facebook, onde tem mais de sete milhões de seguidores. 
Mais tarde, ouvido pelo site O Antagonista, afirmou não ter qualquer “controlo sobre as empresas simpatizantes” .

Mas Bolsonaro pode ser responsabilizado mesmo sem esse “controlo”. 
É “a figura do beneficiário consentido, alguém que está sendo favorecido e não toma providências para que a conduta ilícita seja interrompida”, afirmou, citado pela Folha, o advogado Luciano Santos, director do Movimento de Combate à Corrupção Eleitoral. 
“Uma vez beneficiado, ele também é responsável, do meu ponto de vista. Deveria, no mínimo, ser investigado”, defende o especialista em Direito Renato Ribeiro de Almeida.

Vaga final
Na acção apresentada pelo PT ao TSE lê-se que “tais condutas são ilegais uma vez que consubstanciam, a um só tempo, doação de pessoa jurídica [o tal financiamento ilegal], utilização de perfis falsos para propaganda eleitoral e a compra irregular de cadastros de usuários”. 
De acordo com a Folha, as agências contratadas estariam a usar listas de contactos reunidas para fins comerciais, e que não podem ser usadas com fins de propaganda política.

Para além disso, todo o dinheiro gasto de alguma forma da campanha tem de ser declarado.

Mauro Paulino, director do instituto de sondagens Datafolha, reforçou as dúvidas sobre estes bombardeamentos de notícias falsas, lembrando no Twitter que “os inquéritos eleitorais deram conta de uma vaga no momento final” da campanha para a primeira volta a favor de Bolsonaro. 

A 6 de Outubro, véspera da eleição, circularam rumores sobre Haddad (que teria promovido a homossexualidade nas escolas) e alertas a avisar os partidário do PT que poderiam perder o emprego ou o cartão de eleitor se votassem em Haddad. 
No Brasil, 120 milhões de pessoas usam o WhatsApp diariamente e 90% mais de 30 vezes por dia. 
E entre os 147 milhões de eleitores, 66% consome e partilha notícias e vídeos sobre política através desta plataforma. 
Entre o eleitorado de Bolsonaro, que inclui a grande maioria das pessoas de classe média e alta, 81% usa o WhatsApp.


“Apto” para debates
Um dos empresários implicado pela investigação da Folha é Luciano Hang, proprietário da Havan, que durante a campanha para a primeira volta foi filmado a coagir os seus funcionários a votarem em Bolsonaro. 
Hang nega tudo e diz que vai processar o jornal.

Caso o TSE aceite pronunciar-se sobre alguma das acções agora movidas contra a candidatura que lidera as sondagens para ser eleito daqui a uma semana, não há prazo para que essa acção seja depois julgada. 
Na prática, o processo pode prolongar-se por um ano, altura em que, com toda a probabilidade, Bolsonaro será Presidente do Brasil. 
Assim, seria o mandato a ser posto em causa, já não a ilegibilidade.

A sondagem mais recente, da Datafolha, dá a Bolsonaro 50% das intenções de voto, contra 35% para Haddad. 
Outro dado do mesmo inquérito indica que 73% dos brasileiros querem o candidato do PSL nos debates, mas já se sabe que Bolsonaro continuará sem participar em nenhum.

Apesar de já ter recusado ir em debates antes do ataque com uma faca que sofreu a 6 de Setembro, o candidato tem justificado essa ausência com recomendações médicas – na verdade, cinco médicos do Hospital Albert Einstein, onde foi submetido a duas cirurgias, acabam de o considerar “apto”, afirmando que “o comparecimento de Bolsonaro nos debates depende dele”.

slorena@publico.pt

Fake news: no Brasil, “as pessoas não querem mais saber dos factos, só das convicções”

PRESIDENCIAIS BRASIL 2018
João Ruela Ribeiro
em São Paulo 20 de Outubro de 2018, 17:20
Milhões de brasileiros vão votar no próximo domingo, depois de passarem meses a receber notícias falsas através do WhatsApp. 
O PÚBLICO falou com jovens que estudam jornalismo numa época em que os factos se tornaram numa questão de opinião.

Há uns dias, o pai de Amanda, uma universitária de São Paulo, veio ter com ela assustado com uma fotografia que tinha recebido através do WhatsApp. 
Nela estava reproduzido aquilo que se dizia ser uma página de um livro escrito por Fernando Haddad, o candidato do Partido dos Trabalhadores (PT) às eleições presidenciais. 
“Eram instruções que tinham sido escritas pelo Lenine sobre como tomar o poder para criar uma ditadura socialista, a primeira era ‘corrompa a juventude através da libertação sexual’”, recorda Amanda. 
A estudante de Jornalismo de 20 anos na Universidade de São Paulo (USP) teve dificuldade em acreditar. 
Em cinco minutos percebeu que “era tudo falso”. 
“Não era verdade que isso estava escrito no livro do Haddad, nem que o Lenine tinha escrito essas instruções”, concluiu.

Amanda e o pai depararam-se com uma das milhares de notícias falsas que têm circulado entre os eleitores brasileiros e que se tornaram numa marca da profunda polarização e agressividade que marcam a política nacional. 
Desde a Guerra Fria que são difundidos prospectos com o título “As regras comunistas para a revolução”, um documento apócrifo que remonta à I Guerra Mundial. 
Mas os cinco minutos dispensados por Amanda ao texto parecem ser um fosso para os milhões de brasileiros que resumem a sua informação aos conteúdos partilhados em grupos de WhatsApp.

É difícil dizer com certeza científica até que ponto é que as informações partilhadas no WhatsApp (uma aplicação de mensagens instantâneas detida pelo Facebook) têm um efeito no comportamento eleitoral. 
Mas há dados que sugerem que essa influência é assinalável. 
Há mais de 120 milhões de utilizadores do WhatsApp no Brasil, tornando o mercado brasileiro num dos principais a nível mundial. 
Uma sondagem do instituto Datafolha do início de Outubro mostrava que 44% do eleitorado dizia ler notícias através desta rede e quase um quarto afirmava partilhar nela conteúdos políticos.
                               Ler o artigo no publico.pt >

“O WhatsApp ganhou muita confiança dos brasileiros por ser encriptado, por ser gratuito e por dar uma garantia de que apenas as pessoas que pertencem ao grupo vêem as mensagens”, diz ao PÚBLICO a ex-jornalista e professora da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio), Marília Martins. 
Nos últimos anos, a justiça eleitoral tem travado uma luta afincada para desactivar contas de utilizadores de Facebook que espalhem desinformação, mas no WhatsApp, onde os grupos são fechados, a tarefa é mais difícil.

Na quinta-feira, o jornal Folha de São Paulo revelou que empresários apoiantes do candidato de extrema-direita Jair Bolsonaro tinham financiado pacotes de disseminação de mensagens por grupos de WhatsApp contra o seu adversário. 
Os contratos feitos com empresas especializadas na difusão em massa de conteúdos nas redes sociais foram avaliados em 12 milhões de reais (três milhões de euros). 
O PT apresentou uma queixa junto do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) alegando que a campanha de Bolsonaro não só contribuiu activamente para a manipulação do espaço público, mas que também é acusada de financiamento ilegal – desde 2015 que são proibidas doações de empresas a campanhas eleitorais, a chamada “caixa dois”.

                           Ler o artigo no publico.pt >

Bolsonaro diz não ter responsabilidade pelas acções dos seus apoiantes. 
“Não tenho controle se tem empresário simpático a mim fazendo isso”, afirmou na sexta-feira. 
O TSE adiou para este domingo uma conferência de imprensa sobre o assunto, mas a imprensa brasileira considera muito improvável que haja uma decisão final da justiça eleitoral em breve.
                                Ler o artigo no publico.pt >

A WhatsApp anunciou que baniu cem mil números no país e a Polícia Federal instaurou ontem um inquérito para apurar a disseminação, por empresas, de mensagens em massa relativas à disputa presidencial.

É inegável que é Bolsonaro quem mais tem beneficiado com este domínio do WhatsApp sobre o espaço de discussão pública no Brasil. 
Sem praticamente qualquer tempo de antena na rádio e na televisão – outrora um factor determinante para o sucesso de qualquer candidatura – e sem uma máquina partidária bem instalada o capitão reformado contou como poucos com a militância nas redes sociais.

Este processo não começou agora e nem sequer com Bolsonaro. 
As redes de grupos no WhatsApp que hoje o apoiam “foram construídas ao longo de duas campanhas que foram muito populares: a campanha pelo impeachment de Dilma Rousseff [ex-Presidente, do PT] e as redes de mobilização e apoio à greve dos camionistas”, explica o professor de Políticas Públicas da USP, Pablo Ortellado. 
Estes grupos são “muito heterógeneos”, diz o especialista, juntando eleitores de perfis muito diferentes, ao contrário dos grupos de apoio ao PT que “só têm eleitores convertidos e militantes políticos”. 
“Quem comandava essas redes passou a apoiar o Bolsonaro e ele herdou essa infraestrutura”, afirma.

A estas redes pré-existentes, a campanha de Bolsonaro juntou grupos mais militantes, criados de propósito para as eleições presidenciais. 
“A fusão dessas redes gerou essa máquina de propaganda muito eficiente, que conseguiu derrotar campanhas muito mais ricas”, conclui Ortellado.

Laços de família cortados
Foi com este pano de fundo que o PÚBLICO conversou com estudantes de jornalismo da universidade mais prestigiada do Brasil. 
Encontramos Amanda sentada ao computador numa das salas do departamento de Jornalismo e Editoração da Escola de Comunicação e Artes da USP. 
Veste uma T-shirt dos Sonic Youth e em cima da mesa tem um livro da bielorrussa Svetlana Alexievich, escritora que recebeu o Prémio Nobel da Literatura em 2015 pela sua obra em que cruza a ficção e o jornalismo. 
Amanda decidiu ser jornalista aos 15 anos e não se sente desanimada pelo actual clima de desinformação no Brasil.

“Dá vontade de oferecer informação de qualidade”, diz Amanda, embora admita que nota uma “desvalorização do trabalho do jornalista”. 
Ninguém parece querer abandonar a carreira, apesar das dificuldades. 
“Acho que a única forma de vencer isto é com jornalismo”, diz Bruno, um estudante de 21 anos, que está no segundo ano do curso.

Não há brasileiro que por estes dias não tenha o bolso carregado de notícias falsas e estes estudantes sentem um certo dever em tentar alertar para isso. 
Bruno diz que depende do grau de proximidade com a pessoa em questão. 
A primeira coisa que faz quando alguém partilha uma notícia falsa num grupo onde está é procurar saber se a informação já foi verificada por um dos muitos sites especializados, como a Agência Lupa do grupo da Folha, ou o Projecto Comprova. 
Porém, Bruno não se lembra de alguém ter reconhecido estar errado. 
“Geralmente, quem mandou a notícia ou não diz nada, ou manda outras imagens que não têm nada a ver, acusam o Lula, por exemplo. Desviam o assunto.” 
O estudante deixa uma conclusão pouco animadora para um futuro jornalista: “As pessoas não querem mais saber dos factos, só das suas convicções.”

Ana Carolina e a irmã têm em curso uma campanha junto da família para que não votem em Bolsonaro. 
Procuram links para desmontar as notícias falsas propagadas pelos seus apoiantes, mas não estendem a campanha a toda a família. 
“Temos um pouco de medo porque a família não é muito unida e receamos provocar atrito”, explica a estudante de 20 anos. 
A grande vitória foi ter convencido o próprio pai, que na primeira volta tinha votado em Ciro Gomes, candidato do centro-esquerda, mas que se preparava para votar em Bolsonaro daqui a uma semana.

“Resolvemos dizer ‘pai, senta com a gente, vamos conversar’
Ele tem duas filhas mulheres, além da minha mãe. 
Eu disse que achava que se o Bolsonaro ganhasse no segundo turno [dia 28 de Outubro], eu ia ter medo de sair de casa no dia seguinte”, explica Ana, referindo-se à onda de violência levada a cabo por apoiantes do ex-capitão do Exército logo após a primeira volta. 
Ana Carolina diz que ela e a irmã ficaram felizes com o desfecho: “Ele disse que vai anular o voto. Menos mal.”

joaoruela@publico.pt