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quinta-feira, 28 de junho de 2018

Sporting. Gelson e Bruno ponderam voltar, Leão estuda hipótese, William e Dost podem ser vendidos

SPORTING
Bruno Roseiro  27/6/2018, 16:41
Gelson Martins, Bruno Fernandes e Bas Dost rescindiram; todos podem voltar atrás, uns ficando em Alvalade e outro sendo vendido
Prioridade da SAD do Sporting tem passado pelas conversas com os jogadores que rescindiram contrato. Entre os contactos feitos, há pelo menos três elementos que podem voltar a Alvalade.

Os novos elementos no comando do Sporting após a destituição do Conselho Diretivo em Assembleia Geral, nomeadamente Sousa Cintra enquanto líder cooptado da SAD no lugar retirado a Bruno de Carvalho, têm colocado grande parte das atenções no futebol em dois grandes temas: a questão do treinador, que não será Sinisa Mihajlovic; e nos jogadores que rescindiram de forma unilateral contrato com os leões nas últimas semanas. 
E já existem algumas boas notícias sobre o último tema.

De acordo com informações confirmadas pelo Observador esta quarta-feira, existem dois jogadores, para já, que deram sinal de poderem recuar na intenção de apresentarem a revogação do seu vínculo: Gelson Martins e Bruno Fernandes, que estão nesta altura a disputar o Campeonato do Mundo na Rússia, mostraram disponibilidade para se sentarem à mesa com os responsáveis verde e brancos no final da competição e analisarem a melhor forma de contornar o problema. 
Além destes, Rafael Leão também se encontra a estudar essa possibilidade de voltar atrás, depois de ter sido dado como certo no Benfica por alguma imprensa, facto negado pelo advogado que representa o jovem avançado, Mário Fontemanha.

Depois, existem outros casos de elementos que, não abdicando da intenção de sair do Sporting, admitem poder tentar chegar a acordo para uma saída que consiga ser benéfica para todas as partes. 
Nesta situação encontram-se Bas Dost, que terá recebido abordagens de Espanha e da Alemanha além de um recente interesse de um conjunto da Turquia; Battaglia, que já depois de ter apresentado a rescisão teve uma proposta inferior a dez milhões de euros que chegou a Alvalade e foi recusada; e, ainda por confirmar, William Carvalho, internacional português que considera que o seu percurso nos leões chegou ao fim mas que estará disposto a encontrar uma plataforma de entendimento para deixar cair a rescisão, ser vendido e resolver o problema. 
As situações de Daniel Podence (que pode ficar no clube) e Rúben Ribeiro também serão resolvidas, ou não, nos próximos dias.

Em relação a Rui Patrício, como o Observador explicou ontem, a situação é diferente: os leões preparavam-se para dar entrada na FIFA com um pedido de indemnização de 54,7 milhões de euros mas conversas entre o agente Jorge Mendes e intermediários em nome do Sporting acabaram por trazer a questão de novo para o ponto de partida, quando o Wolverhampton, que entretanto já assinou contrato com o guarda-redes. 
Assim, o conflito entre as duas partes poderá ficar solucionado com o pagamento por parte dos ingleses de 18 milhões de euros, valor da última oferta feita pelo conjunto que subiu à Premier League.

No que toca ao treinador, e até agora, a única certeza que existe é a vontade de rescindir contrato com Sinisa Mihajlovic, técnico que assinou contrato com o Sporting cinco dias antes da Assembleia Geral que destituiu o Conselho Diretivo liderado por Bruno de Carvalho, alegando o período experimental para não ter de pagar qualquer compensação ao antigo treinador do Torino. 
Nos últimos dias foram saindo alguns nomes na imprensa, como Inácio, Carlos Queiroz ou Carlos Carvalhal, e o Correio da Manhã avançou mesmo que o atual diretor geral seria já a solução escolhida. 
Ainda não existe uma decisão final sobre o tema e o Observador sabe que chegaram inclusive a existir abordagens exploratórias com outras opções no estrangeiro, embora seja provável a manutenção de alguém com o perfil de Inácio, que conhece bem o clube e o momento que atravessa.

Sporting vai recorrer a todos os mecanismos legais para impedir CAP de avaliar saídas para clubes nacionais

SPORTING
Bruno Roseiro  28 de Junho de 2018
Rui Patrício rescindiu com o Sporting mas é o único que já assinou por outro clube: o Wolverhampton de Nuno Espírito Santo

Sporting quer Comissão Arbitral Paritária (CAP) afastada dos processos relativos às rescisões de jogadores e tem preparada uma série de ações para combater qualquer decisão que venha a ser tomada.

O Sporting irá recorrer a todos os mecanismos legais disponíveis caso a Comissão Arbitral Paritária (CAP) avalie uma eventual mudança de algum dos jogadores que rescindiram contrato com os leões este Verão para qualquer clube nacional. 
De acordo com os responsáveis verde e brancos, além do que está veiculado com a nova lei (que defende que o órgão deverá avaliar apenas os formalismos do processo sem dar outro tipo de pareceres), a Comissão não reunirá os preceitos legais para avaliação destes casos face ao conflito de interesses existente entre alguns dos membros que fazem parte da CAP.

Olhando para a avaliação o raio da ação, as alterações legislativas feitas no ano passado acabaram por retirar a competência da CAP de fazer esse tipo de julgamentos sobre a justa causa ou não em rescisões unilaterais, devendo cingir-se à confirmação de todas as conformidades administrativas do processo. 
Dessa forma, essa decisão transitou para o Tribunal do Trabalho ou para o Tribunal Arbitral do Desporto (TAD), embora existam receios que a CAP vá mais além do que esse âmbito.

Como explicou fonte próxima do processo ao Observador, o Sporting tem a convicção que existem vários dados para defender essa ideia de que a CAP não terá a imparcialidade e independência necessárias para avaliar os casos em questão, sobretudo se for instada a pronunciar-se num cenário de uma eventual saída de jogadores que rescindiram de forma unilateral pelo clube, casos de Rui Patrício (que entretanto já se vinculou com os ingleses do Wolverhampton, que subiu à Premier League), Podence, Gelson Martins, Bruno Fernandes, William Carvalho, Rafael Leão, Battaglia, Dost e Rúben Ribeiro.

Desta forma, e caso venha a haver qualquer decisão por parte da CAP, os leões terão preparadas uma série de ações que passam pela impugnação dos atos dos seus membros mas também por queixas junto da Ordem e responsabilização cíveis, de forma mais específica contra os árbitros Lúcio Correia e Madalena Januário. 
Recorde-se que Ricardo Nascimento, o presidente da CAP, renunciou ao cargo por considerar que os restantes membros não reuniam condições de imparcialidade. 
O jornal Record chegou mesmo a avançar que, na carta de saída, foi feita referência a esses conflitos de interesses.

Por um lado, Lúcio Correia fez variadas intervenções públicas sobre o tema das rescisões unilaterais dos jogadores do Sporting. 
Madalena Januário é sócia do escritório de Tiago Rodrigues Bastos (CRBA), advogado do Sindicato de Jogadores que esteve no processo de rescisões e é também árbitro nomeado pelo mesmo órgão para o Tribunal Arbitral do Desporto. 
Em paralelo, os leões poderão também alegar que as primeiras cartas de rescisão apresentadas por Rui Patrício e Podence, por exemplo, tinham em anexo páginas com o carimbo da CRBA. 
Madalena Januário ficou também como relatora do processo do guarda-redes.

PSD. Três juntas fazem adjudicações superiores a um milhão a empresas de militantes

Operação Tutti Frutti
Rui Pedro Antunes  28 Julho 2017

Juntas de freguesia do Areeiro, Estrela e Santo António, lideradas pelo PSD, fizeram avenças a militantes ou contrataram empresas de militantes em valores que totalizam mais de um milhão de euros.

Adjudicar o tratamento de jardins de Lisboa a uma empresa com sede em Barcelos de um “amigo” do partido por 13.530 euros/mês, contratar a prima para coordenadora da área que se tutela na junta, ligar a um amigo para montar um gabinete de comunicação porque é mais rápido ou, simplesmente, não publicitar ajustes diretos de centenas de milhares de euros. 
Estes são alguns dos atos de gestão de três juntas de freguesia lideradas pelo PSD no concelho de Lisboa que — entre avenças e contratos atribuídos por ajuste direto a empresas de militantes do partido — gastaram, no total, mais de um milhão de euros desde o início do mandato. 
Um dos presidentes de junta contratou a empresa do presidente do seu núcleo, do qual ele próprio é o vice-presidente.

1 - Ajustes diretos: a maçã que cai sobre a cabeça de Newton

Um dos mais proeminentes presidentes de junta do PSD é Luís Newton, tesoureiro da concelhia de Lisboa. 
A relação com a oposição na Estrela tem sido conflituosa, por PS e PCP insistirem na falta de transparência da junta de freguesia: uma junta como a Estrela poderia ter cerca de 400 ajustes diretos publicitados no site Base.gov (pela média das outras juntas de Lisboa e a dimensão que tem), mas tem apenas 22.

Quando foi questionado, em fevereiro, numa reunião da Assembleia de Freguesia sobre a razão de não serem publicitados tantos contratos por ajuste direto, o presidente da Junta de Freguesia da Estrela culpou a lei e o site Base.gov. 
Esta segunda-feira, em resposta ao Observador, Luís Newton voltou a fazê-lo: como são ajustes diretos inferiores a 5 mil euros, não são publicitados pelo site governamental. 
“A Junta de Freguesia da Estrela tem 116 contratos carregados no Portal Base, fui informado que só estão visíveis 22 contratos dado que os restantes são ajustes diretos simplificados. 
Isto porque o Código dos Contratos Públicos refere que os ajustes diretos simplificados têm de ser publicados mas não publicitados”, explica Newton ao Observador.

Mas nem todos os contratos que foram omitidos são de baixo valor (exemplo disso é uma lista à qual o Observador teve acesso com mais de 20 contratos entre os 5.368 euros e os 259.860 euros feitos pela junta que não estão no Base.gov). 
E mais: muitos desses contratos não publicitados foram feitos a empresas de militantes do PSD. 
Um contrato por ajuste com a Ambigold no valor de 162.362 mil euros (132 mil euros aos quais acresce IVA) foi celebrado a 28 de junho de 2014, mas só publicitado no Base.gov a 24 de julho de 2017. 
Ou seja: mais de três anos depois de o contrato ter sido celebrado, mas apenas três dias depois de o Observador ter enviado as questões sobre a Ambigold ao presidente de Junta de Freguesia da Estrela.

A Ambigold Invest tem como sócio-gerente Carlos Reis, antigo líder da JSD/Braga, que se candidatou a líder da JSD nacional contra Duarte Marques em 2010, e perdeu. 
Carlos Reis — filho de Fernando Reis, ex-presidente da câmara de Barcelos, uma das maiores concelhias do partido — não só é militante do PSD como é também amigo do deputado Sérgio Azevedo e até têm uma empresa juntos com o mesmo nome em Moçambique (chama-se Ambigold InvestMoz, Limitada), que foi criada a 29 de novembro de 2012.
Constituição da empresa registada no boletim da República de Moçambique de 29 de novembro de 2012.
Luís Newton admite, em declarações ao Observador, que conhece “pessoalmente” Carlos Reis, mas destaca “que esse facto não pesou nos processos de contratação da junta” e acrescenta que “se tal pesasse então não teriam sido preteridos para outras empresas com propostas mais vantajosas para a Junta de Freguesia em anos posteriores.”

O autarca explica ainda que, “para todos os processos de contratação pública da junta de freguesia da Estrela são criados cadernos de encargos que devem ser integralmente cumpridos e são convidadas várias empresas para apresentarem as suas propostas. 
Às que cumprem o referido caderno de encargos é feita uma seleção com o critério da proposta mais baixa“. 
No entanto, no caso da Ambigold, não há qualquer concorrente registado no Base.gov. 
Ou seja: a empresa terá sido, pelo menos segundo o que consta no portal, a única concorrente.

A ligação a Carlos Reis dá-se também por via de Sérgio Azevedo que é amigo de Newton e até foi com ele à China, pago pela empresa Huawei, num caso também relacionado com a junta de freguesia da Estrela, noticiado esta quinta-feira pelo Observador.

Sérgio Azevedo, vice-presidente da bancada parlamentar do PSD, explica ao Observador a ligação empresarial a Carlos Reis. 
“Fiz uma viagem com o Carlos a Moçambique porque tínhamos um projeto social que consistia na criação de um campo de jogos desportivo para jovens carenciados na Praça dos Continuadores, em Moçambique, e para isso criámos uma empresa, numa espécie de simplex para empresas que existe em Moçambique.”

No entanto, conta Sérgio Azevedo, “era necessário ter parceiros desportivos que financiassem o projeto. 
Cheguei a apresentá-lo na Benfica TV, mas não arranjámos parceiros e o projeto nunca foi avante. 
A empresa está aberta, mas nunca teve atividade e eu declarei-a no meu registo de interesses como deputado. 
Assim que cheguei a Portugal declarei logo esse interesse, eu lembro-me que até fazia parte do Grupo de Trabalho de Registo de Interesses da Assembleia da República.” 
Carlos Reis reitera que se tratava de um projeto social, embora admita que havia “objetivos empresariais” na ida para Moçambique, já que “significava a entrada no mercado lusófono.”

Indiscutível é que são todos militantes do PSD, passaram juntos pela mesma geração da JSD e são próximos, como companheiros de lutas internas. 
Uma dessas provas é que integraram os três a mesma lista ao Conselho Nacional no último Congresso do PSD, em abril de 2016. 
Carlos Reis encabeçava a lista C, que tinha como número dois Sérgio Azevedo e como número oito Luís Newton (a lista elegeu sete conselheiros, sendo que é o primeiro suplente quando algum dos sete primeiros falta ao CN).
Lista C ao Conselho Nacional do PSD, no Congresso de abril de 2016
O contrato da Ambigold com a junta de freguesia da Estrela (o tal de 162.362 mil euros) é o segundo maior que a empresa tem registado no Base. 
O maior é de 243.540 euros com câmara de Vila Nova de Famalicão (também liderada pelo PSD), embora também haja outro contrato elevado (159.408 euros) com o município de Santa Maria da Feira (igualmente do PSD). 
Carlos Reis, em declarações ao Observador, explica que no caso de Vila Nova de Famalicão e de Santa Maria da Feira tratou-se de “um concurso público internacional que a Ambigold ganhou por ter a melhor proposta.”

Mas também há outra junta de freguesia do PSD que contratou a empresa de Carlos Reis. A Junta de Freguesia de Santo António, liderada por outro militante da mesma fação de Newton no PSD/Lisboa: Vasco Morgado (vice-presidente do Núcleo Ocidental do PSD/Lisboa) contratou a Ambigold por 49.442,74 euros (incluindo IVA) para “realização de obras no Jardim Marcelino Mesquita“, na Praça das Amoreiras. 
Há aqui uma nuance relativamente a Newton: o contrato assinado por Morgado foi publicado quatro meses depois no Base.gov e não três anos depois de ser assinado. 
Sobre este assunto, Vasco Morgado explica que a Ambigold “fez um parque infantil” e que não lhe interessa se o Carlos Reis é “militante na Buraca, em Xabregas ou no Algarve. 
Isso diz-me pouco!”

A mesma junta atribuiu ainda um contrato à Ceresport Invest, uma empresa unipessoal que é propriedade de Carlos Reis, e que chegou a aparecer na lista de “outras dívidas a terceiros” da junta de freguesia de Santo António com um valor de 45.722 euros. 
Vasco Morgado explicou ao Observador que o contrato acabou por ser “cessado por inoperância da empresa. 
Não presta, não fica. 
Na altura apresentou o melhor preço, entrou. 
Não prestou um bom serviço, saiu. 
E não interessa se é militante do PSD.” 
A empresa juntava no objeto social a gestão de carreiras de jogadores de futebol e limpeza de valetas e jardins.

Carlos Reis afirma que a maior parte dos clientes da sua empresa não são autarquias, mas sim “clubes e empresas privadas”, destacando que em Lisboa a Ambigold “também trabalha com juntas de freguesia do PS como Benfica ou São Domingos de Benfica” e com todo o tipo de clientes, dando como exemplo um contrato recente com um clube de Râguebi. 
Além disso, explica o ex-líder da JSD de Braga explica que “muitos contratos não estão publicados no Base porque, ou são com privados, ou não chegam aos cinco mil euros, não sendo publicitados.”

Voltando à Junta de Freguesia da Estrela, Luís Newton também contratou empresas de um outro militante e ex-candidato a uma junta de freguesia nas listas do PSD. 
A Credescor, Lda é uma empresa de construção que tem como sócio-gerente (e dono de 75% da empresa) Adelino Wenceslau Crespo, militante do PSD e candidato a presidente de junta da Freguesia de Campo de Ourique nas listas do PSD (partido que representa atualmente na Assembleia de Freguesia).

Ora, a Credescor aparece na lista de contratação administrativa em dois contratos que, juntos, rondam os 100 mil euros (um de 19.001, 40 euros em março de 2014 e outro de 81.226 euros em março de 2015). 
Mais uma vez, nenhum dos contratos aparece no Base.gov e são claramente superiores aos cinco mil euros que Luís Newton dá como justificação. 
Luís Newton e Adelino Crespo foram colegas enquanto candidatos a juntas de freguesias vizinhas em outubro de 2013, além de que o dono da Cresdecor representa o mesmo partido de Newton na junta de Campo de Ourique, que é vizinha da Estrela.

Newton tornou-se todo-poderoso na Junta de Freguesia assim que tomou posse, fazendo aprovar uma norma em que passava a ter o poder de aprovar todas as despesas inferiores a 5 mil euros. 
Para tudo o que for até 4.999 euros, Newton nem sequer precisa da aprovação dos outros membros executivo e muito menos da Assembleia de Freguesia. 
Decide sozinho. 
A oposição tem criticado a opção, mas não conseguiu evitar.

O presidente da Junta de Freguesia da Estrela explica ao Observador que esta autorização se trata de “uma delegação de competências para o Presidente efetuar despesas relacionadas com a operação da junta até um determinado limite (neste caso 5.000 euros)”. Luís Newton acrescenta ainda que “estas autorizações de despesa são feitas para assegurar que as reuniões de executivo não são inundadas com propostas de autorização de despesa para pagamento de contas correntes mensais (água, luz, telecomunicações, etc), mas sim para discussão de projetos estratégicos”. 
E diz ainda que a autorização “concedida é das mais baixas nas juntas de Lisboa.

2 - A empresa do ex-candidato à junta acusado de corrupção
A empresa do ex-candidato à junta acusado de corrupção
Mas há mais ligações na junta de freguesia da Estrela a empresas geridas por sociais-democratas. 
De acordo com uma listagem de contratação administrativa da junta de freguesia da Estrela de 2015 — como o Observador noticiou esta quinta-feira — a empresa Informantem, cujo presidente do Conselho de Administração é Henrique Muacho foi contratada a 1 de maio de 2014 para serviços de “aluguer informático”: um contrato com um valor inicial de 2.178 euros. 
É depois registado um primeiro pagamento de 26.146 euros, aos quais se juntam 14.786,02 euros registados como “trabalhos a mais”.

Assim, em 2015, ano da viagem de Newton à China, a junta terá pago 40.932 euros à empresa presidida por Henrique Muacho. 
Esses contratos não constam do portal base.gov, onde devem ser publicadas as adjudicações das entidades públicas. 
Luís Newton não respondeu às perguntas sobre este tema específico enviadas pelo Observador. 
Luís Newton admite, igualmente, que conhece “pessoalmente” Henrique Muacho, mas deixa claro que isso não pesou na contratação.

Henrique Muacho, que foi apresentado por Sérgio Azevedo a Luís Newton, era atualmente candidato pelo PSD à junta de freguesia de Póvoa de Santo Adrião e Olival de Basto, mas foi afastado na quarta-feira, depois de Fernando Seara ter sido alegadamente surpreendido por um processo judicial em que Muacho estava envolvido. 
Mas o caso era público e já tinha sido noticiado. 
O gestor foi acusado pelo Ministério Público num caso de corrupção que tinha como figura de topo João Correia, ex-diretor da Direção-Geral de Infra-Estruturas e Equipamentos (DGIE) do Ministério da Administração Interna. 
O MP alegava que, durante três anos, João Correia teria montado uma teia com amigos e “irmãos” da maçonaria, de forma a arrecadar milhares de euros em dinheiros públicos. 
Um desses cúmplices seria Henrique Muacho, acusado na altura pelo MP de sete crimes.

O empresário e ex-candidato a autarca em Odivelas era um dos dez membros do grupo de convívio “Os Pingas”, que tinha ligação a duas empresas que teriam beneficiado do esquema alegadamente montado por João Correia. 
As empresas eram a Nextinforman Infraestruturas, SA, da qual era presidente do Conselho de Administração, e a S.T.M.I. – Sociedade Técnica de Manutenção Informática, Lda, onde era gerente. 
Esta última empresa tinha ainda uma participação maioritária na Tetmei (empresa ligada no processo a outros arguidos). 
Ao que o Observador apurou após já todos os arguidos terem sido ouvidos em julgamento, este aguarda agora sentença.

3 - Primeiro fizeram negócio, depois tornaram-se ‘vice’ e presidente do núcleo
Os ajustes diretos aqui referidos andam em torno do círculo de poder de um dos três núcleos do PSD/Lisboa. 
O PSD/Lisboa está divido em três núcleos: o Central, liderado pela fação da família Gonçalves, que tem a Junta de Freguesia das Avenidas Novas; o Oriental, presidido por Paulo Quadrado; e o Ocidental, controlado pela fação de Luís Newton e de Sérgio Azevedo, que tem na sua área de influência as juntas da Estrela e de Santo António, por exemplo.

Na junta de Santo António dá-se o caso concreto de o presidente da junta — que é vice-presidente do Núcleo Ocidental do PSD/Lisboa — ter contratado uma empresa de Nuno Firmo, presidente do mesmo núcleo social-democrata. 
O próprio Nuno Firmo lembra ao Observador: “Os contratos com a empresa são antes de termos concorrido à direção do núcleo”. 
O presidente do Núcleo Ocidental esteve envolvido na história de caciquismo revelada pelo Observador a 20 de julho, sobre as eleições na distrital a 1 de julho.

Mas as histórias de Firmo são antigas. 
Em 2012, vários estudantes do ISEG acusaram Nuno Firmo (que tem Sérgio Azevedo como mentor desde a “jota”) de promover a falsificação de fichas de militantes da JSD a partir da faculdade, para votarem em 2010 na antiga Secção I, liderada por Sérgio Azevedo, nas diretas que elegeram Pedro Passos Coelho. 
O Ministério Público chegou a abrir uma investigação por suspeitas do crime de falsificação, mas o caso foi arquivado em outubro de 2015: não foi possível “apurar com a necessária certeza indiciária a intervenção dos arguidos nos factos denunciados”, pode ler-se no despacho de arquivamento.

Vasco Morgado — que admite ao Observador conhecer Sérgio Azevedo “desde pequenino” — contratou então a empresa Nuno Firmo, homem de mão de Newton e Sérgio Azevedo na presidência do Núcleo Ocidental. 
São dois ajustes diretos (publicados no site Base) que a junta de freguesia de Santo António fez à NTW-Web Technology, Lda, de Nuno Firmo: um de 4.800 euros de 13 de fevereiro de 2014 e outro de 1 de janeiro de 2015, no valor de 19.200 euros (a ambos ainda acresce IVA, o que atira os valores totais para os 29.520 euros). 
Ambos os contratos tinham como justificação “aquisição de serviços de apoio, análise, pesquisa, apresentação de relatórios, consultadoria de gestão e otimização de processos administrativos e logísticos, por via informática”.

Como justifica Vasco Morgado ter contratado a empresa daquele que se tornaria mais tarde presidente do seu núcleo, e de uma direção de que faz parte? 
O presidente da junta de freguesia explica o seguinte, em declarações ao Observador: “A NTW trabalha connosco porque temos de ter ferramentas para obter mais financiamento. Porque tenho de ir buscar dinheiro para projetos mais específicos, como é o caso do Parque Mayer, que é uma coisa mais pesada do ponto de vista técnico. 
Precisamos de uma empresa mais especializada para conseguir o máximo de financiamento possível. 
E por isso isso fomos buscar gente da nossa confiança”. 
No Base também não há indicação que tenham existido outros concorrentes.

Nuno Firmo garante ao Observador que a sua contratação pela junta de freguesia de Santo António não é “coisa de tacho”, mas sim “trabalho efetivo”. 
Diz ainda que se dá melhor com “autarquias do PS” do que com as do seu próprio partido. E que no concelho de Lisboa só trabalhou com duas juntas: a do seu vice-presidente e a de Penha de França, que é do PS (e com quem fez dois contratos: um de 44.280 euros, outro de 8.856 euros). 
“O meu técnico oficial de contas pode confirmar-lhe que são só essas duas juntas que aparecem no Base”, acrescenta Firmo. 
O dirigente social-democrata garante ainda: “Uma coisa é a minha atividade partidária, outra é a minha atividade empresarial. 
Trabalho com autarquias de qualquer cor partidária. 
Nunca tive qualquer favorecimento por ser do partido.”

4 - Cal Gonçaves é o “Pogba” de Santo António
Na adjudicação a empresas lideradas por quem tem cartão de militante, Vasco Morgado contratou também a Heidelconsult, empresa de José Cal Gonçalves, militante do PSD que foi presidente da junta de freguesia dos Anjos e chefe de gabinete do ex-presidente de câmara Carmona Rodrigues.

O presidente da junta de Santo António explica ao Observador que Cal Gonçalves “foi contratado como jurista e como foi presidente de junta e chefe de gabinete do presidente da câmara, tem um currículo vasto na área das autarquias.” 
Vasco Morgado diz ainda que esta contratação é “feita à Mourinho, não importa o clube de onde vem o jogador. 
Importa contratar os melhores. 
O Mourinho contratou o Pogba, eu contratei o Cal Gonçalves. 
O facto de ele estar ligado ao partido é uma condição supérflua.” 
Esta empresa de Cal Gonçalves também teve uma adjudicação de 24 mil euros em 2014 na Junta de Freguesia das Avenidas Novas, da responsabilidade de Daniel Gonçalves — pai de Rodrigo Gonçalves, chefe da fação do PSD rival de Sérgio Azevedo e de Luís Newton.

Foi também um militante do PSD, Arnaldo Costeira — que agora é candidato pelo PSD à junta de freguesia dos Olivais — que Vasco Morgado escolheu para criar um gabinete de comunicação da junta de freguesia. 
Supostamente, Arnaldo tinha no currículo ter trabalhado na junta da Estrela, com Newton, entre outubro de 2013 e novembro de 2014, como “coordenador de Comunicação e Imagem”, mas esse contrato também não foi publicitado.

O presidente da junta de freguesia de Santo António explica ao Observador que Arnaldo Costeira foi contratado para “um serviço de montagem do gabinete de comunicação. 
Isto de ir à procura de um consultor de comunicação à velocidade que as juntas andam é complicado. 
Conhecia-o, liguei-lhe, ele tinha saído da universidade, e pedi-lhe. 
Montou o gabinete e depois foi à vida dele.” 
No caso da passagem pela junta da Estrela, não há registo público do contrato de Arnaldo Costeira, mas no caso de Santo António a contratação foi publicitada no Base: um ajuste direto no valor de 25.092 euros.

Vasco Morgado contratou ainda para a junta militantes do PSD: Rosa Sousa, Luísa Silva, Tiago Ferraz e Filipa Mendes. 
Ao Observador garante que não faz “contratações por as pessoas serem do PS, PSD, do Sporting ou do Benfica. 
Tenho cá militantes do PS a trabalhar. 
Porque eu não pergunto a militância com quem trabalho. 
Tenho gente aqui mais à esquerda e mais à direita. 
Não ligo ao cartão do partido. 
A minha coordenadora para a área da educação, até é ligada ao PS. 
Tem currículo, é boa no que faz, fiquei com ela.”

Quanto a Tiago Ferraz e Filipa Mendes, Morgado desafia o Observador a acompanhar o trabalho deles durante um dia para ver como são competentes. 
“Por serem militantes dá a entender que é coisa de tacho, mas basta ver o trabalho deles para perceberem que não é tacho, nem panela de pressão, é gente de trabalho.” 
O Tiago, explica o presidente de junta, é “coordenador para a área do licenciamento, e a Filipa coordenadora para a limpeza urbana. 
Eles dão o litro. 
A Filipa até noites trabalha e veio comigo de S. José. 
Só muito depois de trabalhar com ele é que soube que ela é do PSD, que ela também não fala muito.” 
O Observador não apurou o valor destas avenças.

5 - A antiga “jardineira” licenciada da JSD/Lisboa

No caso da junta de Freguesia da Estrela, a juntar a contratos com empresas do PSD, entre os avençados da junta de freguesia estão também outros militantes do partido. 
Uma delas é Mafalda Ascensão Cambeta, que além de assessora na junta de freguesia da Estrela é também assessora no gabinete de vereadores do PSD na Câmara Municipal de Lisboa e membro da Assembleia de Freguesia de Campo de Ourique (onde está também Adelino Crespo, da Cresdecor). 
Embora o contrato de Cambeta com o gabinete dos vereadores do PSD esteja publicado no Base.gov, a contratação da jovem dirigente do PSD pela junta da Estrela não consta no portal dos contratos públicos. 
Cambeta ganha 1.700 euros brutos por mês no gabinete da vereação, mas não é público o seu vencimento na Estrela.

Mafalda Cambeta foi presidente da concelhia da JSD/Lisboa e é muito próxima de Luís Newton, controlando a parte da “jota” afeta ao presidente da junta de freguesia da Estrela nas guerras internas. 
Quando a junta de freguesia de Campolide era liderada por Fausto Jorge Santos, do PSD, Mafalda chegou a ser contratada como “jardineira da junta”, quando era estudante de Direito. 
Com Cambeta, ainda havia outro militante a ganhar como “jardineiro” embora também não fosse essa a sua área profissional ou de formação. 
O Jornal de Lisboa chegou a noticiar que essa relação laboral de Cambeta com a junta de Campolide durou, pelo menos, entre novembro de 2008 e outubro de 2009. 
Newton chegou a ter um conflito na ERC com este mesmo jornal por este órgão se ter recusado a publicar um direito de resposta.

Já em abril de 2017, Mafalda Cambeta voltou a ser envolvida em polémicas, com uma notícia na revista Sábado que revelava que faltou a uma reunião da Assembleia Municipal de Lisboa a 7 de dezembro, mas alguém falsificou a sua assinatura (efeito: recebeu senha de presença). 
A presidente da Assembleia Municipal, Helena Roseta, não quis “gastar energias” com o assunto e tudo passou.

Questionado sobre a sua colaboradora na junta, Newton explica ao Observador que “Mafalda Cambeta foi convidada em 2014 para implementar na Estrela o projeto de Atividades de Interrupções Escolares que ela tinha desenvolvido com sucesso na junta de Santa Isabel. 
Nessa altura o projeto envolvia, em média, cem crianças e dez a doze monitores.” 
O presidente da junta explica que a sua companheira de partido até “esteve como voluntária desde 2014 até há cerca de ano e meio [portanto, até 2015], uma vez que o projeto cresceu na Estrela e hoje envolve anualmente mais de três mil crianças e mais de cento e cinquenta monitores”. 
Newton acrescenta ainda que “o sucesso destas iniciativas também é público e o trabalho dela é reconhecido por todos os pais das crianças”.

6 - Contratar a prima para a área que tutela

A junta de freguesia do Areeiro, liderada por Fernando Braamcamp, também fez ajustes diretos de milhares de euros a empresas de militantes do PSD. 
Como uma diferença face a Newton: as publicações estão no portal Base.gov. 
Um dos casos mais bicudos naquela junta — numa área que já pertence ao Núcleo Oriental do PSD/Lisboa, dominada por Paulo Quadrado, aliado da fação de Newton e Sérgio Azevedo nas eleições para a distrital a 1 de julho — é uma contratação de uma militante que é também familiar de quem a contratou (a ala de Azevedo e Newton chegou a promover Quadrado a presidente interino da concelhia de Lisboa, numa tentativa de afastar Rodrigo Gonçalves desse cargo, que considera esse “golpe” anti-estatutário).

Em três ajustes diretos, entre 2014 e 2017, a junta de freguesia do Areeiro contratou a militante do PSD Mónica Clemente de Brito Leitão para “coordenação da área da Ação Social” da junta de freguesia do Areeiro. 
O problema é que quem no executivo da junta tem esse pelouro é a prima da contratada, Patrícia Brito Leitão, eleita nas listas do PSD. 
A junta pagou assim à militante e prima da dirigente 81.180 euros (66.000 euros, aos quais acresce IVA) entre 2014 e 2017. 
Ao Observador, o presidente da junta limitou-se a dizer que Mónica Leitão, independentemente de ser prima de Patrícia Leitão, “é muito competente”.

Há ainda outros militantes do PSD avençados na junta de freguesia do Areeiro, cujos contratos constam do site Base.gov: Diogo Cunha, com três contratos no valor de 98.400 euros (80.000 mais IVA) como consultor jurídico; Manuel Cerejeira Torres a quem a junta pagou 70.848 euros por “tarefas diversas” e “serviços de apoio ao executivo”, através de ajustes diretos; a militante Ana Cristina Leite foi contratada num ajuste direto de 29.520 euros para “serviços de economato” durante 891 dias; e ainda o militante Vítor Fernandes, contratado por 9.594 euros como monitor das escolinhas de futebol da freguesia do Areeiro.

Quanto a empresas lideradas por militantes do PSD, a junta liderada de Fernando Braamcamp contratou a Galvão&Flor, do militante social-democrata Nuno Vicente dos Reis, em três contratos que custaram à junta 122.306 euros (99.436 euros, aos quais acresce IVA). 
Dois destes contratos foram para reparação de mobiliário urbano e outro para uma obra no projeto de intervenção local da junta “Areeiro por ti”.

A empresa Odragom, Lda, da militante do PSD Paula Teresa Duarte Silva, também teve dois contratos por ajuste direto com a junta de freguesia do Areeiro: um contrato de 181.421 euros (147.497 mais IVA) numa empreitada de requalificação da Conservação do Edifício do Posto de Limpeza do Arco do Cego e um outro no valor de 13.253 euros (10.775 euros, mais IVA) para requalificação de arruamentos na Praça Francisco Sá Carneiro.

Questionado sobre todas estas contratações, Fernando Braamcamp deu uma resposta única ao Observador, onde justifica que “as contratações de colaboradores pela junta de freguesia do Areeiro cumprem os ditames da legislação aplicável, respeitante à contratação pública”. 
Ora para o presidente da junta de freguesia do Areeiro “não há lugar, portanto, a situações de favor ou de discriminação, seja de que tipo for, relativamente a quem foi contratado para exercer funções na junta de freguesia do Areeiro.”

Fernando Braamcamp explica ainda que “os critérios para a contratação são claros e constam dos concursos públicos lançados para o efeito, permitindo assim, a escolha em condições de igualdade e imparcialidade, bem como de transparência e publicidade.” Quanto aos militantes contratados, o autarca acrescenta que “não será demais referir o facto de ter havido pessoal proveniente das antigas Juntas de Freguesia do Alto do Pina e de São João de Deus, extintas pela recente reorganização administrativa da Cidade de Lisboa, que transitou para a Junta de Freguesia do Areeiro.”

Quanto às empresas contratadas, Fernando Braamcamp garante que “foi observada a legislação aplicável, tendo sido escolhidas pela sua competência e por serem reconhecidas no mercado” e destaca que “os contratos estão publicados no Portal Base.gov, cumprindo as mais elementares regras de publicidade dos contratos, que a lei obriga.” 
O presidente diz ainda que estas empresas “prestam serviços a várias juntas de freguesia do concelho de Lisboa, cujos executivos têm diferentes “cores” partidárias e, inclusivamente, à Câmara Municipal de Lisboa.” 
As situações — como se pode verificar no portal Base — são aqui distintas, pelo que a generalização não corresponde a todos os casos verificados pelo Observador. 
Por exemplo, é verdade que a Odragom de Paula Silva tem contratos com juntas de freguesia PS, mas também é verdade que o seu maior contrato registado no Base foi estabelecido com a junta de freguesia do Areeiro: 181.421 euros.

7 - Mais de um milhão de euros para militantes nas três juntas

Segundo as contas do Observador — e sem contar com outros eventuais contratos com as mesmas características — estas três juntas de freguesia geridas pelos sociais-democratas adjudicaram a empresas de militantes do PSD ou estabeleceram avenças no valor de 1.050.279 euros. Por junta:

Fernando Braamcamp, no Areeiro, 596.982 euros com militantes sociais-democratas.
Luís Newton, na Estrela, gastou, pelo menos 303.521 euros;
Vasco Morgado, em Santo António, 149.776 euros;
Luís Newton, na resposta ao Observador, destaca que muitas das questões levantadas neste artigo constavam de um “email anónimo” que anda a circular: “[Foi] enviado recentemente para vários militantes do PSD, com o intuito de procurar difamar e enlamear o trabalho autárquico que tenho procurado promover”. 
Lembrou ainda que em 2014 e 2015 consolidou uma nova estrutura de “compliance” na junta e que se orgulha “igualmente de ser das poucas juntas de freguesia que tem as suas contas auditadas por um Revisor Oficial de Contas desde 2015 (2015, 2016 e, certamente no próximo ano, as de 2017)”.

Vasco Morgado também garante que se riu a olhar para o email, já que vê tudo como algo fabricado por rivais. 
Também Fernando Braamcamp, com as justificações que deu, considera que “as denúncias de favorecimento partidário não têm provimento, por falta de fundamento.”

Sérgio Azevedo e Luís Newton são as figuras mais influentes do Núcleo Ocidental do PSD/Lisboa, sobretudo pelos cargos que ocupam: um é vice-presidente da bancada do PSD na Assembleia da República, outro é presidente de uma importante junta de freguesia do concelho de Lisboa. 
O presidente (Nuno Firmo) e o vice-presidente do núcleo (Vasco Morgado, presidente da junta de freguesia de Santo António) são próximos de ambos. Newton é também o tesoureiro da concelhia do PSD/Lisboa.

O Núcleo Ocidental foi liderado até junho de 2015 por Luís Newton, que já tinha liderado a secção D — antes da extinção das secções do PSD em 2011 e da criação dos três núcleos e de uma concelhia. 
O antigo dirigente da JSD, que preside à junta da Estrela, foi assessor do grupo parlamentar do PSD e assessor do secretário de Estado da Cultura, Francisco José Viegas.

Nessa vida de Newton, houve uma história caricata. 
A 17 de abril de 2013, o Jornal de Negócios noticiava que era feita uma retificação no Diário da República para estabelecer que assessor do PSD não era licenciado. 
Depois do escândalo de Miguel Relvas foi publicado em DRE a indicação que onde se lia “licenciado Luís Pedro Alves Caetano Newton Parreira – (…) nomeado para a categoria de assessor do grupo parlamentar do Partido Social Democrata”, devia ler-se “Luís Pedro Alves Caetano Newton Parreira – (…) nomeado para a categoria de assessor do grupo parlamentar do Partido Social Democrata”. 
Ou seja: para retirar a palavra licenciado.

Esta não era, de resto, a primeira vez que Newton teve problemas com títulos. 
Em março de 2007, numa subdelegação de competências dada pelo vereador Paulo Moreira, era apresentado como “Eng. Luís Pedro Alves Caetano Newton Parreira” num despacho publicado em Boletim Municipal. 
Ora, se não era licenciado em 2013, também não era em 2007.

O Núcleo Ocidental representa uma fação que está alinhada com o líder Passos Coelho e com o atual presidente da distrital, Pedro Pinto. 
Já antes estavam com Miguel Pinto Luz, antigo líder distrital, delfim e vice-presidente de Carlos Carreiras na Câmara de Cascais. 
O atual coordenador autárquico e o seu inner circle continuam a influenciar quase toda a distrital do PSD de Lisboa. 
Isto com exceção do núcleo central do PSD, que é controlado pela família Gonçalves. 
A guerra de fações teve mais uma batalha nas últimas eleições para a distrital laranja, a 1 de julho.

Sérgio Azevedo é, além de dirigente da bancada do PSD (foi reeleito a 19 de julho vice-presidente na lista liderada por Hugo Soares), também o líder da bancada do PSD na Assembleia Municipal de Lisboa. 
Deputado desde 2011, na altura de fazer a lista de deputados indicados pela concelhia Lisboa antes das legislativas de 2015, Sérgio Azevedo foi apontado com naturalidade. Também foi líder da extinta secção i, na baixa lisboeta.

Artigo atualizado às 18h48, com declarações do proprietário da Ambigold e ex-líder da JSD/Braga, Carlos Reis e acrescentado às 22h20 a informação que o contrato de Arnaldo Costeira com a junta de freguesia de Santo António foi publicado no site Base.gov e tem como valor 25.092 euros.

Como os caciques do PSD estão a ser investigados na Operação Tutti Frutti /premium

Operação Tutti Frutti
Luís Rosa  27 Junho 2018

Adjudicações superiores a 1 milhão de euros de juntas de freguesia de Lisboa a militantes do PSD estão no centro da Operação Tutti Frutti -- que cruza com o caso Huawei. 
PS também está na mira do MP.

Os contratos adjudicados por três juntas de freguesia lideradas pelo PSD a empresas de militantes sociais-democratas estão no centro da Operação Tutti Frutti. 
Estão em causa montantes superiores a 1 milhão de euros e suspeitas de corrupção, tráfico de influências e participação económica em negócio. 
Luís Newton, presidente da Junta de Freguesia da Estrela e Carlos Eduardo Reis, dono de uma sociedade de Barcelos que lucrou com tais adjudicações, são dois dos principais suspeitos do inquérito coordenado pela 9.ª Secção do Departamento de Investigação e Ação Penal (DIAP) de Lisboa e coadjuvado pela Polícia Judiciária (PJ). 
As casas e locais de trabalho de ambos foram alvo de buscas.

A relação entre estas adjudicações e o alegado financiamento partidário ilícito do PSD também está a ser investigada. 
Os investigadores da Operação Tutti Frutti detetaram fluxos financeiros entre algumas empresas de militantes sociais-democratas e a campanha eleitoral autárquica do partido em Lisboa, que poderão configurar o crime de financiamento proibido, por não respeitarem as regras de financiamento partidário, que é essencialmente público desde há vários anos. Daí, as buscas judiciais que foram feitas à sede nacional do PSD — o que motivou uma conferência de imprensa de José Silvano, secretário-geral do partido, para afirmar que a direção nacional liderada por Rui Rio era alheia a toda a situação.

Contudo, tal como o Observador noticiou em primeira mão, o DIAP de Lisboa e a PJ consideram que, neste momento, os dirigentes nacionais que fizeram parte das diversas direções nacionais lideradas por Pedro Passos Coelho — os factos em investigação abrangem um período entre 2012 e 2017 — não estavam a par das alegadas situações de financiamento proibido, que foram detetadas pela investigação da Operação Tutti Frutti.

Nesta matéria, existirão também situações relacionadas com o pagamento de quotas em massa de militantes, a propósito de campanhas internas do PSD, em Lisboa e noutras zonas do país, onde a luta entre caciques tem sido cada vez mais intensa nos últimos anos.

O caso, contudo, poderá ser ainda mais abrangente. 
Durante esta quarta-feira, foram realizadas mais de 70 buscas judiciais que envolveram três juízes de instrução criminal, 12 magistrados do Ministério Público, cerca de 200 elementos da Polícia Judiciária, peritos informáticos e financeiros. 
Os investigadores visitaram sete juntas de freguesia em Lisboa (Estrela, Santo António, Estrela, Alvalade, Parque das Nações, Penha de França e Benfica), mas visitaram também as autarquias de Barcelos, Santa Maria de Feira e Ponta Delgada, tendo realizado buscas noutros concelhos como Famalicão, Vila Nova de Gaia, Póvoa do Lanhoso, Marinha Grande, Golegâ, Cascais, Loures, Oeiras e Faro.

Na capital, as instalações da distrital do PSD, da Federação da Área Urbana de Lisboa (espécie de distrital socialista) e a concelhia do PS também foram alvo de visita por parte dos investigadores, o que indicia que as suspeitas de financiamento partidário ilícito poderão ser alargadas aos socialistas. 
O Expresso afirma que os investigadores terão apreendido essencialmente emails na concelhia socialista.

A revista Sábado, que deu o exclusivo do pontapé de saída da Operação Tutti Frutti logo ao início do dia, noticiou igualmente que os gabinetes de Fernando Medina, presidente da Câmara de Lisboa, de Manuel Salgado e de Duarte Cordeiro, vereadores de Medina, terão sido alvo de buscas a propósito de um contrato-programa assinado entre a autarquia e o Belenenses a propósito da construção de um Rugby Park. 
Houve também buscas domiciliárias realizadas a Sérgio Azevedo, deputado e ex-vice-presidente da direção parlamentar do PSD, e ao seu escritório de advogados.

Trata-se, portanto, de uma verdadeira operação judicial a nível nacional que, apesar de não ter levado à constituição de arguidos, não vai certamente ficar por aqui.

O Observador contactou esta quarta-feira Carlos Eduardo Reis, mas o social-democrata recusou prestar declarações. 
Já as tentativas de contacto telefónico junto de Luís Newton não tiveram qualquer sucesso.

A pista de Barcelos

Como ponto de partida para compreendermos o alcance da Operação Tutti Frutti temos um conjunto de notícias que foram reveladas em primeira mão pelo Observador e que incluem precisamente Luís Newton, presidente da Junta de Freguesia da Estrela, e Carlos Eduardo Reis, sócio único e gerente da empresa Ambigold Invest — Equipamentos e Serviços, Lda. Outros sociais-democratas como Vasco Morgado, presidente da Junta de Freguesia de Santo António, também são protagonistas desta história.

A sede da Ambigold foi alvo de buscas judiciais em Barcelos. 
Os domicílios de Carlos Eduardo Reis no Porto e em Barcelos também foram alvo de buscas.

De acordo com um trabalho do Observador, publicado a 28 de julho de 2017, estas duas juntas de freguesia e a junta do Areeiro, também liderada pelo PSD, adjudicaram ajustes diretos a diversas empresas de militantes sociais-democratas num valor total mínimo de 1.050.279 euros.

Só no caso da Junta de Freguesia da Estrela estava em causa um total de 303.521 euros. Um dos principais contratos adjudicados prendia-se precisamente com a Ambigold Invest de Carlos Eduardo Reis. 
Trata-se de uma empresa com sede em Barcelos, especialista em serviços de jardinagem, que ganhou um ajuste direto de 13.500 euros por mês da junta liderada por Newton, para tratar da manutenção e da reabilitação dos espaços verdes na jurisdição da freguesia da Estrela. 
No total, e durante um ano, o contrato vale 162.362 euros (com IVA). 
Pormenor: o contrato original foi assinado a 28 de junho de 2014 mas só foi publicado no site base.gov.pt três dias depois de o Observador ter contactado Luís Newton com questões sobre o mesmo, incluindo o facto de o contrato não ter sido publicado no portal da contratação pública, como manda a lei.

Ao Observador, Luís Newton admitiu que conheceu “pessoalmente” Carlos Reis, mas assegurou “que esse facto não pesou nos processos de contratação da junta. 
Se tal pesasse, então não teriam sido preteridos para outras empresas com propostas mais vantajosas para a Junta de Freguesia em anos posteriores”, afirmou.

A Ambigold também foi contratada, em Lisboa, pela Junta Freguesia de Santo António, liderada por Vasco Morgado. 
Por 49.442,74 euros (IVA incluído), a sociedade de Carlos Eduardo Reis obrigou-se a realizar obras no Jardim Marcelino Mesquita, na Praça das Amoreiras. 
Em declarações ao Observador, Morgado afirmou que a empresa de Barcelos tinha feito “um parque infantil”, acrescentando que considerava irrelevante a condição de militante social-democrata de Reis, fosse “militante na Buraca, em Xabregas ou no Algarve. 
Isso diz-me pouco!”

O mesmo raciocínio foi aplicado por Morgado quando comentou um segundo contrato assinado com outra empresa de Carlos Eduardo Reis, a Cersport Invest, Unipessoal, Lda. Contratada por 45.722 euros, não ficou bem vista, tendo o contrato cessado “por inoperância da empresa. 
Não presta, não fica. 
Na altura, apresentou o melhor preço, entrou. 
Não prestou um bom serviço, saiu. 
E não interessa se é militante do PSD”, afirmou Vasco Morgado ao Observador.

Em Lisboa, a Ambigold foi igualmente contratada por Juntas de Freguesia lideradas pelo PS, nomeadamente pela de Benfica e de São Domingos de Benfica. 
Esse era o principal argumento apresentado por Carlos Eduardo Reis ao Observador, para refutar qualquer favorecimento político por parte das juntas lideradas pelo social-democratas. 
Com efeito, só com a Junta de Benfica a Ambigold realizou contratos de cerca de 300 mil euros entre 2014 e 2015. 
Já em São Domingos de Benfica, a empresa de Barcelos apenas ganhou dois contratos em 2017 no valor de cerca de 20 mil euros.

Quem é Carlos Eduardo Reis?

Filho de Fernando Reis, ex-presidente da Câmara de Barcelos, Carlos Eduardo Reis é um dos três filhos do ex-autarca modelo do PSD no Minho. 
Tal como o pai e um dos irmãos, tentou desde cedo lançar uma carreira política. 
Começou na Juventude Social Democrata (JSD), chegando a líder da JSD de Braga, onde conheceu aquele que é ainda hoje o seu arqui-rival: Hugo Soares, futuro líder da JSD e líder parlamentar como sucessor de Luís Montenegro.

Carlos Eduardo ainda tentou uma candidatura à liderança nacional da JSD, concorrendo contra Duarte Marques, atual deputado do PSD, mas não teve sucesso.

Desde aí, e apesar de ter apostado numa carreira empresarial com a ajuda da fortuna da família materna, Reis tem apostado numa prova de vida partidária, pela via da apresentação regular de uma lista ao Conselho Nacional nos congressos do PSD, sendo, neste momento, membro desse órgão nacional do partido — uma espécie de Parlamento do PSD. 
Carlos Eduardo Reis foi ainda diretor de campanha da última candidatura autárquica social-democrata (perdedora) à Câmara de Barcelos.

Tal como o Observador noticiou em julho de 2017, Carlos Eduardo Reis encabeçou uma lista ao Congresso Nacional no Congresso de 2016 da qual fazia parte Luís Newton como número oito e Sérgio Azevedo como número dois.

Acresce que Carlos Eduardo Reis e Sérgio Azevedo foram sócios na Ambigold InvestMoz, Limitada — uma sociedade de direito moçambicana que foi criada a 29 de novembro de 2012. 
“Fiz uma viagem com o Carlos a Moçambique porque tínhamos um projeto social que consistia na criação de um campo de jogos desportivo para jovens carenciados na Praça dos Continuadores, em Moçambique, e para isso criámos uma empresa, numa espécie de simplex para empresas que existe em Moçambique”, explicou Azevedo ao Observador.

O contexto político

Sérgio Azevedo é o outro elemento desta equação política, que está sob escrutínio judicial do DIAP de Lisboa e da PJ. 
Deputado e ex-vice-presidente da bancada parlamentar do PSD, Sérgio Azevedo foi igualmente alvo de buscas domiciliárias e no seu escritório de advogados, sendo amigo de Carlos Eduardo Reis e de Luís Newton.

Azevedo e Newton eram figuras influentes, como o Observador recordou no verão do ano passado, do Núcleo Ocidental de Lisboa do PSD. 
Trata-se de um dos três núcleos que compõem o concelho partidário social-democrata, sendo os restantes dois o Central (que é liderado pela família de Rodrigo Gonçalves) e o Oriental (sob a ‘tutela’ de Paulo Quadrado).

Ora, as juntas de freguesias da Estrela (liderada por Luís Newton) e de Santo António (liderada por Vasco Morgado) fazem parte do Núcleo Ocidental de Lisboa, sendo que Nuno Firmo (figura próxima de Sérgio Azevedo) era então o presidente do Núcleo Ocidental e Vasco Morgado o vice-presidente. 
Na altura, Newton era o tesoureiro da concelhia do PSD de Lisboa e  já tinha liderado esse mesmo Núcleo Ocidental.

Como o Observador noticiou em julho de 2017, a Junta de Freguesia de Santo António contratou uma empresa de Nuno Firmo chamada NTW — Web Tecnhology, Lda, através de dois contratos em 2014 e 2015 por valores totais de cerca de 25 mil euros (valores sem IVA) para “aquisição de serviços de apoio, análise, pesquisa, apresentação de relatórios, consultadoria de gestão e otimização de processos administrativos e logísticos, por via informática”.

Firmo confirmou os contratos ao Observador, mas enfatizou que os mesmos eram anteriores à liderança do Núcleo Ocidental de Lisboa, enquanto que Vasco Morgado comentou os contratos da seguinte forma: “A NTW trabalha connosco porque temos de ter ferramentas para obter mais financiamento. 
Porque tenho de ir buscar dinheiro para projetos mais específicos, como é o caso do Parque Mayer, que é uma coisa mais pesada do ponto de vista técnico. 
Precisamos de uma empresa mais especializada para conseguir o máximo de financiamento possível. 
E por isso isso fomos buscar gente da nossa confiança”.

Nuno Firmo garantia ao Observador que não estava em causa “coisa de tacho” e acrescentou que se dava melhor com “autarquias do PS” do que com as do PSD. 
“Uma coisa é a minha atividade partidária, outra é a minha atividade empresarial. Trabalho com autarquias de qualquer cor partidária. 
Nunca tive qualquer favorecimento por ser do partido”, afirmou.

A viagem à China a convite da Huawei

Sérgio Azevedo e Luís Newton, por seu lado, estão também envolvidos noutro caso que também foi revelado pelo Observador. 
Em fevereiro de 2015, Newton (presidente da Junta de Freguesia da Estrela desde 2013), Azevedo (então deputado e vice-presidente da direção parlamentar do PSD) e Ângelo Pereira (então vereador do PSD na Câmara de Oeiras) viajaram para a China durante cinco dias a custas da empresa de telecomunicações Huawei.

O objetivo era apresentar à Huawei um serviço bandeira criado por Newton na junta: o Geoestrela — plataforma que permite que os cidadãos do bairro da Estrela comuniquem à junta qualquer problema que detetem no espaço que está sob a jurisdição de Luís Newton.

Qual a relevância dessa viagem na Operação Tutti Frutti? 
Ao que o Observador apurou, a viagem à China é vista pelo DIAP de Lisboa e pela PJ como um indício de uma contrapartida que terá sido dada a Luís Newton pela sua atuação como presidente da Junta de Freguesia da Estrela

O caso foi noticiado pouco depois de três secretários de Estado do Governo de António Costa terem apresentado a demissão, antes de serem constituídos arguidos pelos Ministério Público pelo alegado crime de recebimento indevido de vantagem por terem viajado para França para assistirem a jogos do Euro 2016, com tudo pago pela petrolífera Galp.

No caso Huawei, havia ainda o pormenor de o convite para a viagem à China ter tido o envolvimento de Henrique Muacho, outro militante do PSD que tinha contratos com a Junta de Freguesia da Estrela. 
Entre 2014 e 2015, uma empresa de Henrique Muacho terá recebido cerca de 40 mil euros por serviços prestados à junta liderada por Newton. 
Muacho tentou ainda arranjar parceiros para o serviço Geoestrela antes dele ter sido criado mas não teve sucesso.

Muacho era o candidato pelo PSD à junta de freguesia de Póvoa de Santo Adrião e Olival de Basto, mas foi afastado quando foi noticiado que tinha sido acusado pelo Ministério Público num caso que envolvia João Correia, ex-diretor da Direção-Geral de Infra-Estruturas e Equipamentos do Ministério da Administração Interna, que foi acusado de ter montando um alegado esquema de corrupção com amigos e “irmãos” da maçonaria para alegadamente favorecer determinadas empresas. 
Um desses cúmplices seria Henrique Muacho.

João Correia foi condenado em abril de 2018 condenado a sete anos de prisão efetiva por crimes de participação económica em negócio, abuso de poder e falsificação de documentos. 
Henrique Muacho, por seu lado, foi condenado a uma pena de prisão suspensa de 2 anos 3 meses por um crime de participação económica em negócio e ao pagamento de uma indemnização cível de 122.251, 79 euros de forma solidária com mais quatro arguidos.

As outras contratações da Ambigold?

A Ambigold de Carlos Eduardo Reis trabalhou ainda com outras autarquias que também foram visitadas esta quarta-feira pela Polícia Judiciária. 
Uma delas é a de Vila Nova de Famalicão, um bastião do PSD, onde o município local contratou a empresa do filho de Fernando Reis em 2016 por 243.540 euros (valor com IVA) para prestar serviços de conservação e manutenção de espaços verdes do Parque da Devesa.

Já a autarquia de Santa Maria da Feira, autarquia liderada pelo PSD que não terá sido alvo de buscas judiciais, contratou a Ambigold por 159.408 euros (valor com IVA) para prestar “serviços de manutenção dos espaços verdes ajardinados e prados e dos caminhos pedonais, passeios, bermas, sarjetas e valetas do complexo do Europarque” — um dos principais parques empresariais do norte do país.

Carlos Eduardo Reis fez questão de enfatizar ao Observador que estes dois contratos foram ganhos por concurso público internacional por “a Ambigold ter a melhor proposta”.

Acrescentadas as penas a que João Correia e Henrique Muacho foram condenados em abril de 2018 e corrigida informação de que Carlos Eduardo Reis é o filho mais novo de Fernando Reis, ex-presidente de Câmara de Barcelos.

Bruno de Carvalho: “Nunca quis ser um populista”

BRUNO DE CARVALHO
Observador  28 de Junho de 2018  - 13:30


Bruno de Carvalho voltou ao Facebook para esclarecer que "nunca quis ser um populista" e para apelar a que todos possam participar nas eleições para a direção do Sporting, marcadas para 8 de setembro.

“Hoje foi o primeiro dia em que consegui despir a camisola de Presidente do Sporting CP”, começou por dizer Bruno de Carvalho numa longa publicação no Facebook, partilhada esta quinta-feira. 
O presidente destituído do Sporting rompeu o silêncio e começou por agradecer aos 30% dos sócios que votaram pela sua continuidade na direção durante a Assembleia Geral de sábado e “aos seis leais companheiros de Direção”.

“Nunca quis ser um Líder populista. 
Um demagogo de frases feitas, que age para seu benefício e que quer levar as massas por promessas ocas mas apelativas”, rematou Bruno de Carvalho, que tinha até esta quarta-feira para responder à nota de culpa que levou à sua suspensão.

Bruno de Carvalho admitiu que a sua “pressa de devolver alegrias ao universo sportinguista pode ter sido entendida por alguns como ação de um populista e que dividiu as gerações”, considerando que foi “pouco hábil na democracia, pois não tinha mãos a medir num trabalho e objetivo de recuperação desportiva, financeira, de imagem”.
Um ditador arrogante mas afinal era só um Líder apaixonado e disposto a dar a vida pelo nosso Clube. Mas o discurso levou a que muitos Sportinguistas se afastassem, mesmo não percebendo o porquê… nem eu percebi, até esta reflexão.”, disse Bruno de Carvalho no Facebook.
Sobre as eleições marcadas para o dia 8 de setembro, com Frederico Varandas, Fernando Tavares Pereira e João Benedito (avançado pela imprensa) já na corrida para a presidência do Sporting, Bruno de Carvalho pediu para se “encarar cada lista com o respeito que merece”, apelando para “que se acabe com este processo disciplinar e se permita aos sportinguistas ouvirem todos os que quiserem falar e decidirem o futuro do clube e da SAD”, incluindo “o último Presidente e o seu Conselho Diretivo”, se tal for essa a sua decisão. 

Leia a mensagem de Bruno de Carvalho na íntegra:

Hoje foi o primeiro dia em que consegui despir a camisola de Presidente do Sporting CP. Olhar para trás e de forma calma olhar para tudo.

Tenho de começar logo com um primeiro agradecimento especial aos quase 30% que votaram na nossa não destituição. 
Nem vale mais discutir se foram mais ou não. 
Vale a pena agradecer, do fundo do coração, a estes Sportinguistas que mostraram toda a sua confiança, gratidão, carinho e reconhecimento pelo trabalho feito e que estava a continuar a ser realizado. 
Depois um enorme agradecimento aos 6 Leais companheiros de Direcção e ao Fernando Carvalho, guerreiro resistente do CFD.

E estes 5 anos? 
Do popular ao populista. 
Do discurso – forma versus conteúdo – às tomadas de posição. 
Forma construtiva ou destrutiva de agir. 
Nunca quis ser um Líder populista. 
Um demagogo de frases feitas, que age para seu benefício e que quer levar as massas por promessas ocas mas apelativas. 
Pelo contrário, sempre quis ser um Líder popular, com os pés assentes na terra, com um discurso mobilizador que voltasse a devolver o orgulho e respeito a um Clube que estava adormecido, resignado e sem energia. 
E aqui acho que começou um pouco a confusão entre ser popular ou populista.

Era fundamental ter um discurso forte para “acordar” os Sportinguistas e lhes devolver a crença de que podiamos de facto voltar a ser o Grande Sporting! 
Um discurso ambicioso, virado para dentro e para fora, demonstrando ao Mundo que estávamos aqui para vencer tudo e exigir de volta o que tinhamos perdido: Respeito.

Isto abriu uma guerra geracional que não era de todo o pretendido. 
Temos uma geração que conseguiu ter a sorte de ver um Sporting CP a ser o crónico vencedor e sem precisar de ter um discurso de “combate”. 
Esta geração conseguiu ver o Sporting CP vencer com a possibilidade de ter um discurso “estadista”. 
Depois temos uma geração que pouco ou nada viu o Sporting CP ganhar. 
Que estava habituada a ser gozada, com o Sporting CP a ser considerado um Clube amigo e simpático. 
Uma geração que quer ser feliz.

Estas gerações distintas não têm de estar antagonizadas. 
Têm todos apenas de perceber e entender os desafios do Séc. XXI para um Clube que, dos grandes, era o mais pequeno e o mais endividado.

A minha pressa de devolver alegrias ao Universo Sportinguista pode ter sido entendida por alguns como accão de um populista e que dividiu as gerações. 
Mas nunca foi essa a minha intenção. 
Prometemos um Clube que voltasse a ser a Maior Potência Desportiva Nacional e conseguimos esta época provar isso, de forma inequívoca. 
Voltar a ser um Clube de ADN eclético e fizémos o Pavilhão. 
Que se podia ser competitivo no futebol e manter a maioria da SAD (e com lucros constantes). 
Isto não são tiques de um populista, são actos de uma equipa que se quis de matriz popular e que cumpriu sempre as suas promessas, conseguindo uma mobilização nunca vista no Clube, com a Missão Pavilhão, a unificação da Curva Sul no Estádio e estarmos quase na meta dos 180.000 Associados.

Mas confesso que se olhar bem, se olhar profundamente, a pressa com que tudo foi feito, o trabalho 24h/24h que não permitiu um sentido mais diplomático de actuação, pode ter deixado uma imagem errada a muitas pessoas. 
Fui pouco hábil na diplomacia, pois não tinha mãos a medir num trabalho e objectivo de recuperação desportiva, financeira, de imagem, que tem uma dimensão de necessidade e de empenho que ninguém imagina.

O discurso? 
A vontade de fazer sempre mais, e mais e mais, levou a que o discurso não fosse moderado. 
E era necessário ter tido a habilidade de não criar desgaste e ruptura com esse discurso. Mas a verdade é que, quanto mais sucesso mais e maiores os ataques sofridos. 
Quanto mais ataques mais necessidade de defender o Clube com unhas e dentes. 
Quanto mais se defendeu o Clube com unhas e dentes mais o discurso começou a parecer destrutivo, belicista, nunca apaziguador… 
Um ditador arrogante mas afinal era só um Líder apaixonado e disposto a dar a vida pelo nosso Clube. 
Mas o discurso levou a que muitos Sportinguistas se afastassem, mesmo não percebendo o porquê… 
Nem eu percebi, até esta reflexão. 
Afinal, o conteúdo era aparentemente 100% correcto, os objectivos até estavam a ser cumpridos (excepção ao futebol sênior profissional), o sucesso ia aumentando, mas com isso também a imagem de um ditador, belicista e incapaz de se proteger. 
As minhas tomadas de posição nunca quiseram refletir o que sou na realidade, mas tão somente o que, dia a dia, tinha de ir superando para resolver todos os problemas herdados e os constantes obstáculos que nos eram colocados. 
Foco total no trabalho e foco 0 no tratamento da imagem pessoal / política / institucional do Presidente. 
Sempre acreditei que os resultados tudo superassem, até porque todo o discurso e tomadas de posição eram para o Clube chegar ao sucesso. 
O Clube chegou ao sucesso e a minha imagem pessoal ficou totalmente deturpada ao olhos de muitos. 
E são as pessoas que têm culpa? 
Algumas ajudaram, alguma comunicação social contribuiu, mas o maior culpado fui eu que, na busca constante da Glória do Clube, me esqueci de mim próprio e da forma que deveria projectar a minha imagem.

O meu desejo é simples, que se acabe com este processo disciplinar e se permita aos Sportinguistas ouvirem todos os que quiserem falar e decidirem o futuro do Clube e SAD. 
E neste momento é muito importante não provocar mais fragmentações do Universo Leonino! 
Vamos encarar cada lista com o respeito que merece, pois querer servir o Clube não é um “crime” mas sim um acto de paixão.

Vamos ter a humildade de reconhecer as nossas virtudes e os nossos defeitos. 
Vamos ter a humildade de receber de braços abertos todos os que queiram apresentar o seu projecto para o Sporting CP. 
Apelo novamente para que parem com os processos disciplinares em curso, e que deixem aos Sportinguistas a liberdade de se candidatarem e aos outros de poderem escolher quem querem, no próximo dia 8 de Setembro, a liderar o Clube, incluindo o último Presidente e o seu CD, se tal for a nossa decisão.

A demonstração que somos um Grande Clube em tudo é deixar todos, os que assim o quiserem, sem decisões de “secretaria” contrárias, ir a eleições e ver o seu projecto ser aprovado ou reprovado por quem manda: os Associados.

Já agora importa realçar que os Sportinguistas, no máximo, teriam decidido na última AG que queriam novas eleições e não que fossemos suspensos ou expulsos de associados, e com isso afastados das mesmas. 
Somos um país livre e democrático e por isso deixemos a liberdade de candidatura e voto aos sportinguistas.

Foi bom poder fazer este exercício claro sobre 5 anos, onde afinal existiram mesmo falhas que lamento, que apesar de achar que são de pormenor a verdade é que contribuí para muitos erros de percepção e de raciocínio, que são legítimos e devem ser respeitados e devidamente ponderados. 
Obrigado por 5 anos de puro prazer e orgulho em servirmos o Clube que amamos e a família que adoptámos como nossa: os Sportinguistas!