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sábado, 31 de janeiro de 2015

PS espera “desanuviamento” do clima em relação à Grécia

João Galamba, na sequência da visita do presidente do parlamento europeu, Martin Schulz, espera um "desanuviamento do ambiente político"
30/1/2015, 0:57
LILIANA VALENTE

O Partido Socialista aprovou uma declaração na reunião da comissão política em que defende que as instituições europeias devem manter um "clima de confiança" com os gregos.

Numa altura em que vários responsáveis europeus se deslocam à Grécia para iniciar conversas com o novo governo grego, os socialistas pedem à Europa calma e confiança. Ou, nas palavras do secretário-nacional do partido João Galamba, um “desanuviamento do ambiente político”.

O governo grego está há três dias a aplicar medidas de reversão da austeridade e por cá, os socialistas portugueses “saúdam” a eleição do governo de Alexis Tsipras e pedem à Europa “um clima de confiança” para que seja possível negociar com os gregos, pode ler-se no comunicado aprovado por unanimidade da comissão política. 
No que à Grécia diz respeito, o comunicado do partido diz ainda que “as decisões que, com espírito de negociação e num ambiente de compromisso, a Europa venha a encontrar para começar a resolver a gravíssima situação da Grécia são de especial interesse para Portugal – não apenas enquanto país onde as políticas de austeridade degradaram a capacidade de resposta do Estado social (…), mas também enquanto membro pleno da União Europeia, do euro e do projeto europeu, cujas políticas europeias dos últimos anos não têm sabido defender”.

Além disso, disse João Galamba, na sequência da visita do presidente do parlamento europeu, Martin Schulz, espera um “desanuviamento do ambiente político”. 
Já em relação à derrota do Pasok, o partido socialista grego, João Galamba voltou a frisar que “ao aliar-se à direita e a praticar a política de direita, teve os resultados que teve”.

A comissão política do PS reuniu esta quinta-feira pela primeira vez e os socialistas preferiram falar sobretudo de temas europeus, com a situação da Grécia à cabeça.

Além da situação da Grécia, o texto aprovado fala ainda da flexibilidade das regras europeias, de acordo com a leitura que os socialistas fazem da interpretação da Comissão Europeia e ainda do plano do Banco Central Europeu.

No final da reunião, João Galamba recusou que o PS esteja com falta de força na ação política: “Vamos continuar a nossa ação política. 
É o que temos feito até aqui. 
Daqui até às eleições há vários momentos e continuaremos a trabalhar neles como temos feito”.

Na reunião dos socialistas, houve ainda outro tema que foi lançado: a eurodeputada Ana Gomes lançou o nome de Maria de Belém como possível candidata a Presidente da República, caso António Guterres não avance.

Nas questões internas, os socialistas aprovaram ainda a realização de eleições primárias para a escolha de deputados, mas em casos pontuais e o lançamento do gabinete de estudos.

Presidente do Eurogrupo em Atenas para se inteirar das propostas gregas

Jeroen Dijsselbloem vai a Grécia para se inteirar do programa económico do novo Governo
30/1/2015, 8:42
AGÊNCIA LUSA

O presidente do Eurogrupo chega a Atenas para se inteirar das linhas mestras do programa económico do novo Governo grego, liderado pelo primeiro-ministro Alexis Tsipras, para sair da crise.

Dijsselbloem vai ser recebido ao meio-dia por Tsipras e, posteriormente, pelo ministro das Finanças grego, Yanis Varufakis, e pelo vice-primeiro-ministro, Yanis Dragasakis. 
A visita de Dijsselbloem é a segunda de um representante europeu a Atenas depois da de quinta-feira pelo presidente do Parlamento Europeu, Martin Schulz.

A decisão do presidente do Eurogrupo de se deslocar a Atenas foi iniciativa sua, não tendo sido concertada com os outros ministros europeus, informou ontem o Wall Street Journal. De acordo com as fontes desse jornal, Dijsselbloem, que é socialista, não tem mandato para este encontro, sendo que alguns dos seus colegas conservadores preferiam esperar pelas propostas do novo governo grego.  

Na cerimónia de tomada de posse, Yanis Varufakis afirmou constatar na Europa “um espírito de negociação” e que o próprio Dijsselbloem – numa conversa telefónica há uns dias – lhe manifestou estar seguro de que se chegará a um acordo.

Segundo a agência Efe, o Efymerida ton Syntakton, jornal próximo do partido de esquerda Syriza, Varufakis pretende propor ao presidente do Eurogrupo designadamente uma moratória do pagamento da dívida de cinco anos, bem como a convocatória de uma conferência internacional sobre a dívida helénica.

Na quinta-feira, antes de viajar para Atenas, Dijsselbloem deixou uma série de advertências. 
O também ministro das Finanças holandês afirmou, em Amesterdão, que se o novo Governo grego insistir em cumprir as suas promessas eleitorais, o orçamento público “vai derrapar muito em breve”.

O mesmo responsável ressalvou, porém, ser “demasiado cedo para julgar” o Governo de Tsipras.

O economista grego também defendeu, em declarações recentes, a necessidade de se sentar a falar com os credores (Comissão Europeia, Banco Central Europeu e Fundo Monetário Internacional) sobre “a melhor maneira de reorganizar o pagamento da dívida grega” e evitar um “foco de confrontação”.

Uma nave de loucos no meio da tempestade perfeita


Paulo Ferreira
pauloferreira1967@gmail.com
30/1/2015, 8:29    43184 PARTILHAS

ELEIÇÕES NA GRÉCIA

As sociedades que criam riqueza têm o que distribuir. 
As outras só distribuem pobreza. 
Podem ambicionar distribuir a riqueza que outros criam, mas depender dessa boa vontade alheia não é modo de vida.

As primeiras medidas tomadas pelo novo Governo grego são uma estranha forma de começar uma negociação. 
Rasgar unilateralmente alguns compromissos a que o país se tinha vinculado, antes mesmo de se sentar à mesa com os parceiros que financiam o país há cinco anos, não é um cartão de visita próprio de quem garante que quer negociar e não afrontar.

Mas desconte-se o facto porque estarmos na fase do “poker”. 
Entre o “bluff” e o jogo que temos na mão, estica-se a corda tentando perceber onde estão os limites do adversário. 
Em política, o que parece é. 
E o Syriza tinha que fazer a sua prova de vida, cravando a sua marca nas primeiras medidas, tomadas num Conselho de Ministros de estreia insolitamente transmitido em directo pela televisão estatal.

O que está em causa neste jogo é muito mais do que o futuro da Grécia e da sua dívida ou o sucesso ou fracasso do governo do Syriza. 
O braço-de-ferro que Atenas agora inicia com a União Europeia e outras capitais europeias pode, no limite, mudar radicalmente as regras do euro e alterar profundamente a forma como os países da moeda única se relacionam financeira e politicamente. 
Pode, a prazo, ser um acelerador da integração europeia a caminho de um modelo federalista ou, pelo contrário, ser a vacina que afasta esse caminho por várias décadas.

Sabemos desde Maastricht que a moeda única é uma construção a que falta um pilar essencial: uma verdadeira coordenação das políticas económicas e orçamentais e a existência de um generoso orçamento comunitário que faça as transferências necessárias para regiões – países – que não consigam acompanhar a passada ou onde ocorram choques assimétricos.

Como uma mesa quadrada que não tem uma perna, bastava que alguém mais distraído se apoiasse desse lado para a mesa que venha abaixo.

Mais tarde percebemos também que nem todos os que entraram estavam dispostos a fazer os trabalhos de casa e que, no jogo da partilha de soberania, estavam apenas interessados em sacar o almoço grátis que a moeda única proporcionava de imediato: juros baixos, moeda sólida e de aceitação global, credibilidade emprestada na política monetária e cambial. 
Não se preocuparam sequer em ajudar a pôr a mesa. 
Entretidos com o banquete de dívida barata e abundante que de repente tinham à sua frente, muito menos quiseram tomar consciência que em economia os almoços grátis costumam sair muito caros. 
Pode demorar algum tempo, mas a factura chega sempre.

Foi isso que aconteceu com Portugal e Espanha. 
Com a Irlanda também, embora com características diferentes – dívida sobretudo concentrada na banca, que financiou imobiliário dentro e fora do país. 
E, claro, com a Grécia, que beneficou da complacência europeia logo no momento da entrada, quando todos fecharam os olhos à manipulação das estatísticas que lhe deram acesso à moeda única.

Todos tomámos emprestada a reputação e a credibilidade económica e financeira de países como a Alemanha, a Holanda ou a Áustria, beneficiámos delas enquanto pudemos, mas não soubemos estar à altura delas. 
A crise da dívida que se desenhou há meia dúzia de anos foi apenas o balão que rebentou na cara dos que abusaram dessa reputação emprestada. 
E se a reputação é um bem precioso na vida, na economia ela vale milhares de milhões.

O que está em causa na batalha que agora se inicia tem sobretudo a ver com reputação e com a confiança que depositamos naqueles a quem damos o aval.

O problema da Grécia é que já mostrou por várias vezes não estar à altura dessa confiança. 
Porque mentiu nas estatísticas repetidamente, porque as suas elites não cuidaram devidamente do seu Estado e da sua economia, porque recebeu um primeiro empréstimo da troika de 110 mil milhões que afinal não foi suficiente, porque há três anos já teve um perdão de cerca de metade da sua dívida, porque o segundo empréstimo de 130 mil milhões também não está a ser suficiente, porque pelo meio os termos desses empréstimos já foram revistos em condições muito mais vantajosas para o país.

Também porque, é verdade, as medidas que lhe foram impostas como condição para os empréstimos não tiveram o efeito que se esperava e fizeram o país entrar numa espiral recessiva violenta com efeitos sociais devastadores. 
Mas, e isto não é um pormenor, essas medidas foram aceites e, melhor ou pior, executadas por governos democraticamente eleitos, tão legítimos e com capacidade para vincular o Estado como este que agora tomou posse.

Que o resgate da Grécia falhou é uma evidência. 
Mas se a Grécia tivesse sido deixada à sua sorte em 2010 o impacto económico e social seria muito pior. 
Em poucas semanas o Estado não teria dinheiro para pagar salários, a população sofreria o impacto de falências bancárias em série com a consequente perda de poupanças e muitas empresas seriam dizimadas.

Foi, nova evidência, a solidariedade europeia – suportada pelos países do euro na proporção directa do peso das respectivas economias, através de mecanismos não previstos criados em cima do joelho – que evitou na Grécia esse cenário dantesco. 
Porque, acreditem, por mais grave que seja hoje a crise humanitária na Grécia ela teria sido pior. 
Ela pode ainda vir a ser muito pior, dependendo do desenlace que este novo ciclo político venha agora a ter.

Não é honesto, por isso, pretender agora que a Europa – com a Alemanha à cabeça – não se chegou à frente quando o fogo começou na Acrópole. 
Ou que não voltou a ajudar uma e outra vez, quando a primeira ajuda não chegou e a segunda também não.

Ainda que a austeridade seja, por vezes, um imperativo de responsabilidade, ninguém gosta de a praticar. 
É contra a natureza humana e mais ainda contra a natureza dos políticos, quase sempre mais interessados em governar a pensar na próxima eleição do que na próxima geração.

Para um governo radical que acaba de ser eleito com a bandeira “anti-austeridade”, num momento de forte clivagem ideológica e num país em emergência social, o caso fica ainda mais bicudo. 
Para complicar mais a equação, sabemos que o dinheiro que esse governo tem à disposição é de outros países, emprestado por governos com igual legitimidade democrática que têm de prestar contas aos seus contribuintes. 
E se pensarmos que esses credores têm uma legitimidade financeira e moral que a Grécia não tem, temos então a tempestade perfeita.

É um erro reduzir a questão ao simplismo ideológico usado com cegueira clubística, da esquerda contra a direita, dos alegados defensores do Estado Social contra os supostos neoliberais, dos que fazem juras de amor ao povo contra outros acusados de odiar o povo.

As sociedades que criam riqueza têm alguma coisa para distribuir. 
As outras só podem distribuir pobreza. 
Podem ambicionar distribuir a riqueza que outros criam mas depender dessa boa vontade alheia não é modo de vida para ninguém.

A questão que agora se coloca é “até quando”. 
Ou “até quanto”.

A União Europeia, a Alemanha e os países do “núcleo duro” do euro jogam aqui a sua reputação e a da moeda única.

Uma cedência à Grécia sem condições duras que a acompanhem abre uma caixa de Pandora de consequências imprevisíveis. 
Nenhum Governo alemão, holandês ou finlandês, no seu perfeito juízo, aceitará continuar nesta nave de loucos. 
Porque hoje é Atenas. 
Amanhã poderá ser Lisboa. 
Depois Madrid e, quem sabe, Roma. 
O “prémio” dado a este governo grego incentivaria o fortalecimento de outras propostas radicais por essa Europa fora, à esquerda e à direita.

Mais depressa a União Económica e Monetária, já fragilizada com esta crise das dívidas, será repensada de raiz, com o estabelecimento de regras claras de partilha de responsabilidade que não foram previstas em Maastricht nem nos vários tratados, pactos e acordos que se lhe seguiram. 
É esse desenho que está em causa na crise grega.

pauloferreira1967@gmail.com

E se Portugal ameaçar alugar as Lajes aos russos?


JOSE MILHAZES
30/1/2015, 12:25    734 PARTILHAS
ELEIÇÕES NA GRÉCIA
Depois da vitória do Syriza, a Rússia parece ter-se tornado uma moeda de troca nas relações entre Atenas e Bruxelas. 
Há alguns que falam já do aparecimento de um “Cavalo de Tróia” de Putin na UE.

A vitória de um partido da extrema-esquerda, que na Rússia teria grandes problemas para trabalhar legalmente, foi recebida com grande euforia em Moscovo. 
A agência Ria-Novosti, um dos mais fortes reprodutores da propaganda do Kremlin, informou, citando “órgãos de informação ocidentais”: “as novas autoridades gregas deram claramente a entender aos burocratas europeus que podem bloquear o aumento das sanções contra a Rússia e, além disso, estabelecer interacção estreita com a Rússia, não obstante o descontentamento da UE”.

Segundo os analistas “patrióticos”, “a Grécia começa a dar uma grande volta para a Rússia. O Syriza quer retirar a Grécia da NATO, fechando todas as bases estrangeiras no país”.

O governo russo, pela voz dos seus ministros, tenta alimentar esses sonhos. 
Nikolai Fiodorov, ministro da Agricultura, promete levantar a proibição da entrada de produtos alimentares gregos no mercado russo se a Grécia abandonar a UE. Anton Siluanov, ministro das Finanças, também não descarta a possibilidade de ajudar financeiramente esse país caso ele faça esse pedido.

É contudo difícil conceber onde é que o Kremlin vai buscar meios financeiros para desempenhar o papel de salvador “dos irmãos gregos ortodoxos” numa altura em que se encontra numa profunda crise económica, crise essa que a obriga a cortar nas despesas e a obrigar os russos a “apertarem o cinto”.

Talvez Vladimir Putin pudesse conseguir meios para a Grécia, mas o problema é que a política externa russa já é demasiado dispendiosa para o poderio económico da Rússia. Não obstante todas as juras de que o Kremlin não envia militares e armamentos para a Ucrânia, a realidade é que a guerra no país vizinho lhe está a sair muito cara.

Além disso, o caudal de entrada de moeda estrangeira no país diminui a olhos vistos devido à queda do preço dos combustíveis nos mercados internacionais.

Os bancos russos tiveram alguns milhões de euros para “emprestar” à Frente Nacional de Marine Le Pen e ainda poderão ter mais algumas reservas para apoiar partidos da extrema-esquerda e da extrema-direita na Europa a fim de rebentar com a União Europeia, mas o Kremlin faz “bluff” ao apresentar-se como o salvador das “ovelhas ranhosas” da UE.

A não ser que os dirigentes europeus se revelem completamente impotentes e incompetentes para responderem a esse desafio. 
Se for o caso, então o melhor é as autoridades portuguesas começarem a analisar a possibilidade de  chantagear Bruxelas: ou perdoam a dívida lusa, ou arrendamos a base das Lajes aos russos, ou o aeroporto de Beja, que continua “às moscas”. 
Se o governo português não for a tempo, pode ver-se ultrapassado por algum movimento tipo “Podemos”, “Conseguimos”, ou “Partido Nacional Qualquer Coisa”.

Der Spiegel: Alemanha apoia cautelar se a Grécia aceitar programa e supervisão da troika

Revista alemã diz que a estimativa inicial para um programa cautelar passou de 10 para 20 mil milhões de euros
30/1/2015, 17:58n   125 PARTILHAS
NUNO ANDRÉ MARTINS

Revista alemã diz que o Governo alemão estará disposto a apoiar a Grécia com mais 20 mil milhões de euros, mas para isso Tsipras tem de aceitar programa e supervisão da troika.

A Alemanha estará pronta a apoiar um programa cautelar com um empréstimo de 20 mil milhões de euros à Grécia, se o primeiro-ministro Alexis Tsipras aceitar um programa e que a Grécia seja supervisionada pela troika, noticia a revista alemã Der Spiegel, citando fontes do Governo alemão. 
O Ministério das Finanças já veio desmentir a notícia e diz que os números são pura especulação.

A revista alemã diz que a estimativa inicial para um programa cautelar, que suportaria as necessidades de financiamento da Grécia durante um ano, passou de 10 para 20 mil milhões de euros devido a uma queda nas receitas fiscais previstas e à não concretização de algumas privatizações planeadas.

No entanto, para que o programa cautelar – que seria gerido pelo Mecanismo Europeu de Estabilidade – ser aprovado, seria necessário que Alexis Tsipras aceitasse um programa semelhante ao que recusa agora e que aceitasse também a supervisão da troika, algo que vai contra as declarações do ministro das Finanças grego ainda hoje, após uma reunião com o presidente do Eurogrupo.

A revista, que cita fontes do Governo não identificadas, cita também o ministro das Finanças da Baviera a dizer que uma saída da Grécia da zona euro seria “menos problemática do que uma flexibilização dos critérios” para todos os membros da zona euro. Segundo a revista, o comissário europeu alemão Günter Oettinger diz também que, apesar de ninguém querer expulsar a Grécia da zona euro, a União Europeia já está a preparar-se para os piores cenários.

O Ministério das Finanças da Alemanha já desmentiu a notícia e diz que os valores envolvidos são pura especulação.

O socialismo europeu e o Syriza


André Azevedo Alves

31/1/2015, 7:44      129 PARTILHAS
Professor do Instituto de Estudos Políticos da Universidade Católica Portuguesa

ELEIÇÕES NA GRÉCIA
O PS, tal como os partidos socialistas europeus, enfrenta uma escolha inevitável: ou está com o Syriza e a ruptura institucional ou se apresenta como alternativa política dentro do quadro estabelecido

Face às sondagens, a vitória confortável do Syriza não surpreendeu, mas nem por isso deixa de constituir um evento marcante na política europeia. 
De facto, há meia dúzia de anos atrás, muito poucos admitiriam como plausível a possibilidade de uma coligação de pequenos partidos de extrema-esquerda, com uma agenda assumidamente radical, chegar ao poder num país da União Europeia. 
É certo que a boa imagem e o carisma do Eng. Alexis Tsipras, assim como a indisfarçável simpatia para com o Syriza por parte da maioria dos jornalistas, ajudaram a essa vitória, mas seria um erro não ir além desses factores na análise do fenómeno.

Qualquer que seja o rumo futuro da Grécia, esta eleição marca já o fracasso da política europeia assente no dogma de maior integração a qualquer custo. 
O desígnio de manter a Grécia na zona euro contra todas as evidências gerou uma montanha de dívida de cobrança (muito) duvidosa e uma situação interna explosiva no país. 
Cabe agora aos líderes europeus não fecharem os olhos e assumirem a necessidade de dar um passo atrás, mesmo que tal implique aceitar perdas significativas e a saída da Grécia da zona euro, onde provavelmente nunca deveria ter entrado.

As ondas de choque após a vitória eleitoral não se fizeram esperar. 
A primeira foi a opção de Tsipras ao escolher para parceiro de governação um partido nacionalista que, se não fosse parceiro do Syriza, seria amplamente acusado de ser de extrema-direita. 
Felizmente para Tsipras, a extrema-esquerda lava mesmo mais branco
Com a escolha dos ministros, veio o segundo choque: zero mulheres, provavelmente para marcar simbolicamente a distância face a “austeritaristas” como Angela Merkel (que é mulher, mas não conta). 
O ruidoso silêncio da generalidade dos habituais defensores da “igualdade de género” fica registado.

Mais significativamente, Tsipras foi rápido no cumprimento de algumas das promessas eleitorais. 
O leque incluiu o aumento substancial do salário mínimo e a suspensão de privatizações, entre outras medidas que empurram a Grécia para um cenário de incumprimento. 
Com o risco de ruptura a aumentar de dia para dia, o desafio que se coloca aos socialistas europeus não pode ser ignorado. 
Neste contexto, as reacções em Portugal foram, no mínimo, estranhas.

A auto-congratulação do PCP é difícil de compreender quando, na Grécia, o seu equivalente KKE teve um resultado medíocre e, adicionalmente, excluiu a possibilidade de se coligar com o Syriza. 
Mas verdadeiramente bizarra foi a reacção do PS liderado por António Costa. 
Como bem apontou João Cardoso Rosas : “O líder do PS mostrou-se vagamente contente (ele mostra-se sempre “vagamente qualquer coisa”) e não esboçou sequer uma crítica às propostas de Tsipras e à ruína do seu partido-irmão na Grécia, o PASOK. 
Se Costa está contente com o Syriza, por que não vota no BE?”.

Poder-se-ia dizer apenas que, com partidos amigos destes, os partidos da Internacional Socialista não precisam de inimigos, mas a situação levanta um problema mais profundo: o da necessidade de definição interna nos partidos socialistas europeus em geral, e no PS em particular. 
A estranha reacção de António Costa pode ser, é certo, atribuída à inabilidade de um novo líder partidário que tarda em apresentar ideias concretas e parece incapaz de se distanciar dos aspectos mais negros do passado governativo do PS. 
Mas o mesmo não pode ser dito de outras vozes que apoiaram o Syriza e que estão entre os mais promissores e influentes líderes intelectuais do novo PS, como João Galamba ou Tiago Barbosa Ribeiro. 
Ora, esta linha dificilmente poderá ser compatibilizada com o discurso mais institucional e realista de figuras como Jaime Gama ou Manuel Caldeira Cabral.

O PS, tal como os restantes partidos socialistas europeus, enfrenta uma escolha inevitável: ou está com o Syriza – com tudo o que isso implica do ponto de vista de uma potencial ruptura institucional – ou se apresenta como uma alternativa política dentro do quadro institucional estabelecido. 
No fundo, como realça Rui Ramos, trata-se de saber se a esquerda radical substituirá ou não a esquerda social-democrata. 
Uma boa parte do futuro político da Europa dependerá da resposta a esta questão.

Professor do Instituto de Estudos Políticos da Universidade Católica Portugueses

Chanceler alemã contra redução da dívida da Grécia

31/1/2015, 8:29
AGÊNCIA LUSA

A chanceler alemã manifestou-se contra um alívio da dívida da Grécia, como defende o novo primeiro-ministro grego, Alexis Tsipras, numa entrevista publicada hoje pelo jornal Hamburger Abendblatt.

A chanceler alemã, Angela Merkel, manifestou-se contra um alívio da dívida da Grécia, como defende o novo primeiro-ministro grego, Alexis Tsipras, numa entrevista publicada este sábado pelo jornal Hamburger Abendblatt.

“Já houve um perdão voluntário da dívida por parte dos credores privados, os bancos já cortaram a dívida da Grécia em milhares de milhões”, argumentou Angela Merkel, realçando: “Eu não equaciono um novo cancelamento da dívida”.

A dívida é uma questão essencial para o novo governo da Grécia, eleito no passado domingo, figurando no centro das negociações com os parceiros europeus, principais credores de Atenas.

A dívida helénica eleva-se a mais de 315 mil milhões de euros. 
O Eurostat fala em 315,5 mil milhões de euros no final de setembro de 2014, enquanto o Fundo Europeu de Estabilização Financeira (FEEF) indica, por seu lado, 324 mil milhões de euros.

No início de 2012, os credores privados da Grécia aceitaram fazer uma substituição dos títulos na sua posse por outros menos rentáveis, o que levou a uma supressão de dívida no valor de 100 milhões de euros. 
Na altura, os credores públicos também consentiram que houvesse um alívio dos juros e um prolongamento dos prazos.

“A Europa vai continuar a demonstrar a solidariedade para com a Grécia como aos outros países particularmente afetados pela crise se empreenderem reformas e medidas económicas”, afirmou a chanceler alemã, adepta das políticas de austeridade rejeitadas pelos novos dirigentes de Atenas.

Questionada sobre os primeiros anúncios do Governo liderado por Tsipras, como o aumento do salário mínimo, Angela Merkel sublinhou: “Nós, ou seja, a Alemanha e os outros parceiros europeus, estamos à espera de ver de que forma é que o novo governo grego nos vai abordar”.

Governo grego: “Não se serve o povo grego ao jantar”


Tspiras garante ser fiel às promessas eleitorais
AGÊNCIA LUSA 
O primeiro-ministro grego, Alexis Tsipras, afirmou que se mantém firme com os seus compromissos eleitorais, depois de uma reunião de crise com a sua equipa económica.

O primeiro-ministro grego, Alexis Tsipras, afirmou que se mantém firme com os seus compromissos eleitorais, depois de uma reunião de crise com a sua equipa económica, divulgou este sábado a agência de notícias espanhola EFE.

A reunião terá acontecido para avaliar a visita a Atenas do presidente do parlamento europeu, Martin Schulz, e do líder do Eurogrupo, Jeroen Dijsselbloem.

O presidente do Parlamento Europeu deslocou-se a Atenas na quinta-feira e Dijsselbloem esteve no país na sexta-feira.

Segundo fontes governamentais, citadas pela imprensa grega, Tsipras confirmou que o Governo mantém a intenção de renegociar o plano de resgate e as condições da dívida com a troika (Comissão Europeia/CE, Banco Central Europeu/BCE e o Fundo Monetário Internacional/FMI).

“Os meus predecessores fizeram outras coisas depois das eleições. 
Perderam o apoio do povo e caíram. 
Creio que tenho de ser fiel e coerente com os meus compromissos”, disse Tsipras durante o encontro que manteve na sexta-feira com o ministro das Finanças, Ianis Varufakis, e o vice-primeiro-ministro, Ianis Dragasakis.

Segundo estas mesmas fontes, o primeiro-ministro haveria mostrado a sua determinação de aplicar, apesar das pressões, o chamado “Programa de Salónica”, um plano de medidas para ajudar os mais necessitados e reativar a economia.

“Desejamos um bom jantar à senhora Merkel, mas não se vai comer o povo grego. 
Não se serve o povo grego ao jantar”, assegurou aos media gregos o ministro de Estado, Nikos Pappás, em referência ao jantar de sexta-feira entre a chanceler alemã, Angela Merkel, o Presidente francês, François Hollande, e Martin Schulz, para avaliarem a situação grega.

A visita de Dijsselbloem deixou um grande mal-estar para o chefe do Eurogrupo, como ele mesmo deixou transparecer no final da reunião com Varufakis, de quem se despediu com uma breve saudação e visivelmente contrariado pelas últimas declarações do governante grego.

O ministro das Finanças grego mostrou a Dijsselbloem que o Governo não reconhece a troika de credores como um organismo legítimo para renegociar o programa de resgate do país.

O Governo grego anunciou que seguirá adiante com a paralisação do plano de privatizações das entidades públicas, como as companhias de eletricidade, iniciado pelo anterior Executivo, e na sexta-feira deu ordens para dissolver a empresa encarregada de gerir este programa de privatizações (conhecida como Taiped).

O ministro Paulo Macedo e o Syriza



José Manuel Fernandes

31/1/2015, 13:26
ELEIÇÕES NA GRÉCIA
Que significa a "vontade democrática do eleitorado" num país que abdicou de muita da sua soberania? 
E como é que se vai conseguir crescer em sociedades envelhecidas e demasiado dependentes do Estado?

O que é que a discussão sobre as responsabilidades de Paulo Macedo nos tempos de espera tanto de um grande hospital como de um pequeno centro hospitalar de província tem a ver com as eleições gregas e com as primeiras decisões do Syriza?

A pergunta pode parecer disparatada, mas mais disparatada é a resposta que certamente virá à cabeça de alguns: o que une as duas situações é a austeridade, ou se preferirem diferentes respostas à austeridade.

Na verdade o que une as duas situações é algo mais complexo e mais profundo: as dificuldades das democracias contemporâneas, os limites das formas de governo que fomos construindo nos últimos dois séculos. 
O que ambos estes casos nos mostram é que estamos a chegar ao fim de um tempo e a entrar em território desconhecido.

Comecemos pelo caso da discussão sobre o que se passa nas urgências, mas poderíamos também dar inúmeros outros exemplos. 
A tentação é responsabilizar sempre o ministro. 
Isso ocorre porque é o mais fácil para os partidos da oposição, ocorre porque em Portugal é sempre o governo (qualquer governo em qualquer época) o culpado ou o herói, mas ocorre sobretudo porque o ministro é o “patrão” de facto dos hospitais e os utentes nunca pensam que são, ao mesmo tempo, os seus “accionistas”. 
Por isso o caminho da discussão é sempre o mesmo: se algo não funciona é porque “faltam meios”. 
Nunca é porque houve falhas de gestão, mau trabalho dos funcionários, falta de empenho ou simples incompetência. 
Aparentemente o ministro até tem de saber se as escalas de férias e folgas dos médicos estão bem feitas, e se estiverem mal feitas, apenas lhe cabe… contratar mais médicos.

Com este ou com qualquer outro governo teremos sempre discussões destas. 
Num tempo em que o Estado tende a ocupar-se dos cidadãos desde o momento em que eles nascem até àquele em que eles morrem, não apenas regulando a sua vida ao mais ínfimo detalhe – da quantidade de sal nos alimentos ao diâmetro das laranjas, passando pelos nomes que se pode dar a um filho ou pela distância a que um interruptor está do chão –, mas também tratando directamente das suas necessidades elementares, é natural que tudo o que nos corre mal acabe sempre na culpa de um qualquer ministro.

Em sociedades muito dependentes do Estado – em sociedades onde o partido-Estado, para utilizar uma expressão cunhada por Medina Carreira, é largamente maioritário – é natural que olhemos para os governos como responsáveis e responsabilizáveis por tudo. 
E que queiramos que os governos atendam às nossas mínimas necessidades, algo que os políticos também apreciam, pois quase sempre fazem a sua carreira de promessas de sempre mais e melhores serviços públicos.

Ao mesmo tempo que ocorre esta evolução, assistimos também à forma como os Estados foram perdendo soberania. 
O caso grego ilustra bem as contradições a que essa evolução conduziu. 
Por um lado, por estar num mundo globalizado, por ter integrado a União Europeia, por ter adoptado a moeda única, por se ter endividado e ficado à mercê dos credores, a Grécia é hoje um Estado de soberania limitada. 
Por outro lado, quando os seus eleitores vão às urnas como fizeram no passado domingo, votam como se tivessem na mão o seu destino. 
E, claro, partindo do pressuposto que a sua decisão democrática será respeitada. 
O facto de essa escolha democrática chocar com as escolhas democráticas de muitos outros povos europeus – para não dizer da maioria dos outros povos europeus – parece não fazer parte nem da sua equação, e seguramente não está a constrangir o seu novo governo.

O que estes dois casos ilustram é o paradoxal da situação que vivemos: por um lado, Estados com cada vez mais responsabilidades na vida dos cidadãos e de quem os cidadãos esperam cada vez mais coisas; por outro lado, Estados que perderam soberania e capacidade para actuar em função única e exclusivamente da vontade dos seus cidadãos. 
É uma contradição que não pode conduzir a nada de bom.

Chegámos a este ponto por vários caminhos. 
Um deles foi a orientação que demos aos nossos sistemas de governo, no fundo aos nossos Estados. 
Num livro recente e muito interessante, The Fourth Revolution, escrito por dois responsáveis da Economist, argumenta-se que o sucesso do modo de governo ocidental se baseou em três revoluções que reinventaram o Estado: o nascimento do Estado-Nação com Thomas Hobbes, a evolução para um Estado liberal com John Stuart Mill e o desenvolvimento do Estado-Providência cumprindo o sonho de Beatrice Webb.

Desde há sensivelmente quatro décadas que os limites e os defeitos do Estado social estão identificados, mas mesmo governantes como Thatcher ou Reagan não o conseguiram fazer recuar, apenas limitaram o seu crescimento (a despesa social com a dama-de-ferro estava em 22,9% do PIB em 1979 e ficou em 22,2% em 1990, quando saiu do poder). 
Como aqui referi recentemente, em todo o mundo ocidental, com poucas excepções como a Suécia, a tendência nas últimas décadas tem sido para esse peso do Estado crescer, apesar de todas as diatribes contra o “consenso de Washington” e as ladainhas sobre o “Estado mínimo”.

Hoje os Estados pesam nas economias valores inimagináveis (e considerados incomportáveis) mesmo por figuras muito associadas à necessidade de activismo dos governos, como Keynes ou Beveridge. 
Pior: Estados demasiado presentes e demasiado protectores acabam também por criar populações acomodadas, quando não dependentes, avessas ao risco e descrentes da iniciativa individual.

Ao mesmo tempo que os nossos modelos de Governo têm vindo a perder eficiência, nomeadamente quando comparados com modelos orientais menos democráticos, a globalização está a proceder a uma rearrumação da riqueza impensável há apenas 10 ou 15 anos. 
Se na viragem do século havia motins à porta do G8 contra uma globalização que supostamente espoliava os pobres do mundo, hoje há motins por a globalização ter arruinado as perspectivas de prosperidade do mundo desenvolvido.

Mas a globalização não tem apenas consequências económicas, tem também consequências políticas, pois também ela condiciona o poder efectivo dos governos. 
Basta pensar que, se os países e os consumidores querem beneficiar dos mercados que lhes permitem comprar televisores ou telemóveis fabricados na Ásia a uma pequena fracção do preço do que se fossem fabricados na Europa, isso obriga-os a abrir as fronteiras e deixa-os nas mãos dos mercados – os famosos e malvados mercados. 
De certa forma é aí que começa a perda de soberania, sobretudo quando a cultura dominante é a de um Estado muito protector e regulador.

No caso europeu, essa perda de soberania acentuou-se com a construção da União Europeia e, sobretudo, com a adopção da moeda única. 
Há quem argumente a favor de um tempo pós-soberano (como, por exemplo, Paulo Rangel, que até já chamou à soberania "a cadela de um cego"), mas a verdade é que ainda não se inventaram democracias “pós-soberanas”. 
Apenas há burocracias “pós-soberanas”.

O condimento final para agravar ainda mais a contradição entre governos de quem se espera tudo numa altura em que na prática perdem poderes é o facto de, no Ocidente, também estarmos a viver um outro momento crítico: o fim da certeza do crescimento económico. 
Há mais de duzentos que nos habituámos a um vigoroso – em termos históricos – crescimento económico, e esse tempo está a acabar, não apenas pela dificuldade de realizar reformas que tornem as economias mais competitivas e inovadoras, mas também porque sociedades mais envelhecidas como as nossas são, necessariamente, sociedades menos capazes de gerar crescimento.

São muitas nuvens que se têm vindo a acumular no horizonte e quase todos pedem mais do mesmo: mais Estado social, mais integração supra-nacional e menos soberania. 
Não é por aí. 
O caminho não é por aí.

Se queremos ter uma esperança de salvar a nossa forma democrática de escolher o nosso futuro (e não apenas votar em eleições que pouco efeito têm), se queremos voltar a ter algum dinamismo nas nossas sociedades (e não toda a gente encostada ao Estado), então temos de devolver poder aos cidadãos e à sociedade civil, mesmo que à custa de mais risco e menos proteção. 
Tal como temos de devolver aos Estados nacionais poderes que eles perderam, mesmo que à custa do sacrifício de sonhos de grandeza supra-nacionais.


Creio por isso que a crise grega é apenas a primeira de várias que se seguirão. 
Crises que talvez sejam mais políticas do que económicas ou financeiras, e por isso mesmo mais perigosas. 
Veremos.