Powered By Blogger

quarta-feira, 30 de agosto de 2017

Produção parou na Autoeuropa

RTP Economia
30 Ago, 2017, 20:39 / atualizado em 30 Ago, 2017, 20:39

A administração anunciou uma adesão de 41% dos trabalhadores, mas foi o suficiente para parar as linhas de produção pela primeira vez na história da fábrica.

A administração marcou uma nova reunião com os sindicatos na próxima semana.

O antigo coordenador da Comissão de Trabalhadores disse que a fábrica foi tomada de assalto pelos sindicatos afetos à CGTP, com ligações ao Partido Comunista.

Reunião entre Administração e sindicatos da Autoeuropa deixa trabalhadores satisfeitos

RTP   Economia
30 Ago, 2017, 20:46 / atualizado em 30 Ago, 2017, 22:11

A greve na Autoeuropa levou ao anúncio por parte da Administração que se vai juntar em reunião com o sindicato no próximo dia 7 de setembro. A notícia deixou os trabalhadores aliviados, após horas de tensão, pelo medo de a Administração da empresa não abrir portas ao diálogo.

Os sindicatos esperam que da reunião surjam soluções que correspondam às expectativas dos empregados e dizem que apesar dos números revelados pela Autoeuropa, nenhum veículo foi produzido esta quarta-feira.

Para perceber a greve na Autoeuropa: Derrapagem à esquerda

ECONOMIA
30.08.2017 às 12h01
ALEXANDRA CORREIA

Jornalista

O conflito entre os trabalhadores e a administração, na altura em que se inicia a produção do novo modelo T-Roc, tem um “gato” muito pouco escondido: as guerras sindicais entre o Partido Comunista e o Bloco de Esquerda vêm de longe e não há “geringonça governativa” que as trave. Quer saber porquê? Este artigo da VISÃO de 10 de agosto explica

A Autoeuropa, a fábrica da Volkswagen em Portugal, é a terceira maior empresa exportadora do nosso país. Emprega 3 300 trabalhadores, produziu 85 mil unidades em 2016 e tem vendas no valor de 1,5 mil milhões de euros. É um colosso e, sozinha, representa 1% do Produto Interno Bruto nacional.

É importante para a economia nacional? Poucos discordarão. Mas é também uma das empresas-chave do sindicalismo português – pelo seu tamanho e simbolismo, mas sobretudo por ser um caso exemplar de negociação entre trabalhadores e entidade patronal.

Os acordos que assinam, tendo por base a flexibilidade e a adaptabilidade dos tempos de trabalho consoante o aumento ou a diminuição da produção (e em troca de mais direitos como maior retribuição ou dias de férias) são ainda algo de extraordinário no panorama laboral português. Mas esta “paz social” não surge sem luta.

Não admira, pois, que as eleições para a Comissão de Trabalhadores (CT) sejam tão disputadas, com várias listas a jogo. “A Autoeuropa foi, e continua a ser, palco de uma guerra entre o PCP e o BE”, afirma Carlos Trindade, dirigente histórico da CGTP, rosto da corrente socialista da central sindical.

No fundo, uma “guerra” de David contra Golias, em que o Bloco pouco ou nada é, sindicalmente falando, e o PCP “tem décadas e décadas de investimento no movimento sindical, como instrumento privilegiado da luta de classes, como é assumida pelo partido”, continua Trindade.

Mas o Bloco teve António Chora, seu ex-deputado e, até se reformar este ano, coordenador da CT da Autoeuropa. Chora, “homem de grande prestígio entre a massa operária”, conseguia votações acima dos 75% para a sua lista e fazia as pontes. Às vezes a corda bem esticava, mas não partia.

Até agora. Acontece que os trabalhadores chumbaram um pré-acordo entre a administração da Autoeuropa e a Comissão de Trabalhadores. Esta demitiu-se. O seu coordenador (Fernando Sequeira, que já foi candidato do Bloco de Esquerda) insurge-se contra o sindicato (SITE Sul, da CGTP). E há uma greve marcada para o dia 30 de agosto, já com a produção do T-Roc em andamento.

O ministro do Trabalho, Vieira da Silva, tenta mediar o conflito. Mas esta luta está para lá dos entendimentos governamentais da “geringonça”. Porque o poder que PCP e BE terão no terreno é aquele que levarão para a mesa das negociações com o Governo de António Costa. E o poder sindical é um daqueles que pode alterar o rumo de muitas políticas.

CADA PARTIDO NO SEU GALHO
“O poder sindical é do PCP e é isso que o partido leva para a mesa das negociações [dentro da ‘geringonça’]”, refere João Proença, presidente do Centro de Relações Laborais e antigo secretário-geral da UGT. O politólogo António Costa Pinto concorda: “O PCP e o BE convergem no que diz respeito à revisão da legislação laboral [que está em andamento], mas essa convergência tem um problema – nesta área o PCP é dominante e o BE é fraco”.

Perante a mesa de negociações da“geringonça”, a força do BE está “no Parlamento, na sua mediatização e na sua própria agenda, embora as questões fraturantes estejam praticamente esgotadas”, continua o professor da Universidade de Lisboa. “Já o PCP coloca em cima da mesa o seu poder sindical, até mais do que o autárquico. O PCP conseguiu reinventar-se nos novos movimentos sociais, ocupando o seu espaço e aliando-os ao sindicalismo tradicional, e isso foi bem visível durante as manifestações contra a crise financeira”, acrescenta Costa Pinto.
Mas em questões de reinvenção, o sindicalismo tradicional tem um longo caminho a percorrer, na opinião de Carlos Trindade. “A CGTP nunca negociou nenhum acordo com este Governo e atrevo-me a dizer que não irá assinar. É da sua natureza. Mas qualquer partido precisa de ter uma base social forte para negociar a nível superior. O PCP tem os sindicatos e as autarquias; o BE os deputados no Parlamento e uma certa força simbólica. Portanto, na Autoeuropa, a luta vai ser de morte. E o ambiente lá dentro está de cortar à faca”, acrescenta.

“Os sindicatos ainda são totalmente contra a flexibilidade e a adaptabilidade dos horários de trabalho. Ora, a Autoeuropa sempre sustentou as negociações com os trabalhadores na adaptabilidade”, sublinha João Proença.

No fundo, a empresa de Palmela está também a ser palco de duas formas de encarar o sindicalismo, dando primazia à negociação em vez da “permanente obstrução”, como lhe chama Carlos Trindade. Resta saber se a negociação consegue, afinal, proteger também os trabalhadores.

O QUE ESTÁ EM CAUSA
“Sempre que se coloca a vinda de um novo modelo para Palmela, lá temos a chantagem da administração para fazer com que os trabalhadores reduzam ou mesmo suprimam os seus direitos. Aconteceu que, desta vez, os trabalhadores disseram ‘Basta!’”, afirma Rogério Silva, coordenador da Fiequimetal (Federação Intersindical das Indústrias Metalúrgicas, Químicas, Elétricas, Farmacêutica, Celulose, Papel, Gráfica, Imprensa, Energia e Minas) e dirigente da CGTP.

Com a vinda do T-Roc, a Comissão de Trabalhadores assinou um pré-acordo com a administração. E pela primeira vez, em muitos anos, a grande maioria dos trabalhadores (cerca de 75%) chumbou esse pré-acordo em plenário, fazendo cair a CT, que agora aguarda novas eleições em setembro.

Para conseguir produzir os 240 mil veículos por ano, a administração propôs aos trabalhadores um terceiro turno de laboração e a contratação de mais 2 mil pessoas. Haveria também um aumento salarial, das férias e do subsídio de turno. No entanto, os trabalhadores só teriam o sábado e o domingo como dias de descanso uma vez por mês. De resto, trabalhariam obrigatoriamente ao sábado, gozando sempre o domingo e um outro dia da semana, sendo este rotativo.

TRABALHO AO SÁBADO
“A grande divergência é a obrigatoriedade do trabalho ao sábado. Porque as pessoas vão ter a sua vida virada do avesso, pondo em causa a vida familiar e a própria saúde. Quem está no turno da noite, não tendo dois dias seguidos de descanso, não chega a descansar efetivamente. E ainda há a questão dos casais que lá trabalham: quem lhes fica com os filhos ao sábado?”, explica Esmeralda Marques, dirigente do SITE Sul (Sindicato dos Trabalhadores das Indústrias Transformadoras, Energia e Atividades do Ambiente do Sul) e ex-membro do Comité Central do PCP. Para o sindicato, o trabalho deveria ser feito de segunda a sexta, sendo a laboração de sábado paga como trabalho extraordinário, como manda a lei, sem que o trabalhador seja obrigado a trabalhar nesse dia.

Como a Comissão de Trabalhadores é eleita pelo método de Hondt, a atual CT da Autoeuropa tem três elementos do sindicato, o mesmo que o coordenador da CT, eleito por outra lista, contesta. Ao diário digital Rostos, Sequeira fala em “assalto ao castelo”, acusando o SITE Sul de “nada ter aprendido com a Opel [que fechou em 2006, na Azambuja, deixando mais de mil pessoas no desemprego]”.

A VISÃO tentou falar com Fernando Sequeira (assim como com Catarina Martins e Jerónimo de Sousa, líderes do BE e do PCP, respetivamente), mas não obteve resposta até ao fecho desta edição. Os sindicalistas Rogério Silva e Esmeralda Marques recusam a existência de qualquer conflito entre trabalhadores, sublinhando sempre que o alvo é a administração.

Já Francisco Alves, dirigente da Fiequimetal e associado à corrente bloquista da CGTP, reconhece que há “contornos político-sindicais” na questão da Autoeuropa, mas preferindo falar em “visões diferentes” e “confrontos de ideias” no que diz respeito aos trabalhadores. De resto… “Não mando mais achas para a fogueira”, remata. Aguardemos para ver até onde arde.

Artigo publicado na VISÃO 1275 de 10 de agosto

“Falta de sentido de Estado”: Socialistas lamentam palavras de Cavaco

Jornal Económico com agências
17:34
Susana Amador considerou a intervenção do ex-presidente da República, na escola de Verão do PSD, "grave".

O PS já reagiu à intervenção de Cavaco Silva e acusou o ex-presidente da República de ter falta de sentido de Estado.

“Eu gostaria que durante o tempo em que esteve na Presidência da República tivesse piado mais, ou seja, tivesse agido mais na defesa dos portugueses”, disse a deputada socialista Susana Amador, em declarações aos jornalistas, citada pela Lusa.

A socialista frisou que “o PS não podia deixar de lamentar estas intervenções, pela falta de sentido de Estado que as mesmas revelam, pela gravidade das mesmas e por não corresponderem à realidade”.

“O professor Cavaco Silva ao longo das políticas do Governo PSD e CDS, que foram as políticas de retirada de direitos, de compressão das garantias dos portugueses, fez uma gestão de silêncios”, acrescentou, realçando que esses “silêncios ensurdecedores” valeu a intervenção do Tribunal Constitucional na defesa da Lei Fundamental e dos direitos dos portugueses.

Para Susana Amador, o ex-presidente falou “de censura, quando ela tem uma grande carga histórica tão negativa para tantos portugueses, e no contexto atual, que é um contexto de democracia, de liberdades e de defesa da Constituição”, é “uma posição que surpreende pela falta de sentido, pela gravidade”.

Cavaco diz que "perderam o pio" os que quiseram realizar a revolução socialista nos governos

POLÍTICA
RTP 30 Ago, 2017, 11:47 / atualiz 30 Ago, 2017, 13:29

O ex-Presidente da República Cavaco Silva defendeu hoje que, na zona euro, "a realidade acaba sempre por derrotar a ideologia" e os que, nos governos, querem realizar a revolução socialista "acabam por perder o pio ou fingem que piam".

Numa aula na Universidade de Verão do PSD, Cavaco Silva afirmou que hoje "é corrente apresentarem-se três casos" de países onde a realidade tirou o tapete à ideologia, enumerando França e Grécia mas sem se referir explicitamente ao caso de Portugal.

"Os governos dos países da zona euro, ao chegarem ao poder, podem começar com alguns devaneios revolucionários mas acabam por perceber que a realidade tem uma tal força que, ou através do aumento de impostos indiretos que anestesiam os cidadãos, cortes nas despesas públicas de investimento, medidas pontuais extraordinárias e cativações das despesas correntes e consequente deterioração serviços públicos ou contabilidade criativa, acabam sempre por conformar-se com as regras europeias de disciplina orçamental", afirmou.

Para o ex-chefe de Estado, esta projeção da realidade "tem uma tal força contra a retórica dos que, no governo, querem realizar a revolução socialista, que eles acabam por perder o pio ou fingem apenas que piam, mas são pios que não têm qualquer realidade e refletem meras jogadas partidárias".

"Aqueles que ainda piam, fingem que piam mas não atribuam a esses pios qualquer credibilidade porque não são mais do que jogadas partidárias", defendeu.
Cavaco critica "verborreia frenética" da maioria dos políticos e fala em regresso da censura
O ex-Presidente da República criticou hoje "verborreia frenética" da maioria dos políticos europeus, elogiando a exceção de Macron, e pediu aos jovens "força e coragem para combaterem o regresso da censura".

Cavaco dedicou uma parte da sua intervenção de 50 minutos a elogiar a estratégia comunicacional do atual chefe de Estado francês, Emmanuel Macron, dizendo ver semelhanças com a que adotou quando exerceu cargos de poder e que passa por recusar qualquer "promiscuidade com jornalistas".

"Em França, não passa pela cabeça de ninguém que Macron telefone a um jornalista para lhe passar uma notícia ou uma informação", afirmou.


Cavaco destacou que Macron entende que "a palavra presidencial deve ser escassa", uma estratégia que "contrasta com a verborreia frenética da maioria dos políticos europeus dos nossos dias, ainda que não digam nada de relevante".
"Eu continuo a pensar que a independência em relação aos jornalistas é um principio básico. A atitude que melhor serve o interesse do país e também o interesse pessoal dos políticos é o respeito pelos profissionais de comunicação social mas mantendo distanciamento e não negociando o que publicam ou deixam de publicar", defendeu.

O tema da censura foi introduzido por Cavaco Silva na parte final da sua intervenção na Universidade de Verão do PSD e quando falava das eleições autárquicas que se realizam a 01 de outubro, onde pediu inspiração para os candidatos do PSD.

"Apesar das coisas estranhas que têm acontecido no nosso país, apesar de vozes credíveis afirmarem que censura está de volta, estou convencido que portugueses ainda valorizam a verdade, a honestidade, a competência, o trabalho sério, a dedicação a servirem as populações", disse.

O ex-Presidente e antigo primeiro-ministro terminou a sua aula com um apelo direto aos jovens participantes nesta iniciativa para não lhes falte "a força e a coragem para combaterem o regresso da censura", sem explicitar a que se referia e aconselhando-os a ler um artigo que Maria João Avillez escreveu na segunda-feira no Observador.

Nesse artigo, a jornalista defende, entre outras ideias, que "desde 1974 que a media ignora, despreza ou suporta mal a ideia de direita ou mesmo de centro-direita, troçando ou destruindo os seus líderes e ajudando a acabar com eles, mesmo que o voto os legitime".

(Com Lusa)

PS gostava que Cavaco Silva tivesse "piado mais" em defesa dos portugueses

POLÍTICA
RTP 30 Ago, 2017, 17:16 / atualiz 30 Ago, 2017, 17:42  
O PS acusou esta quarta-feira o ex-Presidente da República, Cavaco Silva, de falta de sentido de Estado e lamentou que quando estava em Belém não tivesse "piado mais" na defesa dos portugueses. É a resposta socialista à aula proferida pelo ex-Presidente da República na Universidade de Verão do PSD.

"Eu gostaria que durante o tempo em que esteve na Presidência da República tivesse piado mais, ou seja, tivesse agido mais na defesa dos portugueses", afirmou a deputada e dirigente socialista Susana Amador.

Em declarações aos jornalistas no parlamento, Susana Amador sublinhou que "o PS não podia deixar de lamentar estas intervenções, pela falta de sentido de Estado que as mesmas revelam, pela gravidade das mesmas e por não corresponderem de todo à realidade".

Para o PS, a "aula" dada por Cavaco Silva na Universidade de Verão da PSD demonstra "desconforto com a política de devolver rendimentos e a repor às pessoas mais qualidade de vida, bem-estar, e coesão social" do atual executivo.

"O professor Cavaco Silva ao longo das políticas do Governo PSD e CDS, que foram as políticas de retirada de direitos, de compressão das garantias dos portugueses, fez uma gestão de silêncios", argumentou, considerando que, contra esses "silêncios ensurdecedores" valeu a intervenção do Tribunal Constitucional na defesa da Lei Fundamental e dos direitos dos portugueses.

Por outro lado, Susana Amador defendeu que na mesma intervenção do ex-Presidente "falar de censura, quando ela tem uma grande carga histórica tão negativa para tantos portugueses, e no contexto atual, que é um contexto de democracia, de liberdades e de defesa da Constituição", é "uma posição que surpreende pela falta de sentido, pela gravidade".
O ex-Presidente da República, Cavaco Silva, defendeu esta quarta-feira que, na zona euro, "a realidade acaba sempre por derrotar a ideologia" e os que, nos governos, querem realizar a revolução socialista "acabam por perder o pio ou fingem que piam".

Na aula que proferiu na Universidade de Verão do PSD, Cavaco Silva afirmou que hoje "é corrente apresentarem-se três casos" de países onde a realidade tirou o tapete à ideologia, enumerando França e Grécia mas sem se referir explicitamente ao caso de Portugal.

c/ Lusa

Cavaco arrasa Governo e faz críticas veladas a Marcelo

CONFERÊNCIA
30 DE AGOSTO DE 2017 11:36
João Pedro Henriques

O antigo Presidente da República voltou hoje à política com uma intervenção de fundo na Universidade de Verão do PSD

A forma como o Governo vetou três indicações do Banco de Portugal e do Tribunal de Contas para o Conselho de Finanças Públicas (CFP) foi esta manhã um dos aspectos sublinhados por Cavaco Silva numa conferência devastadora, em vários ângulos, para com António Costa, a esquerda anti-euro - mas também, implicitamente, com Marcelo Rebelo de Sousa.

No caso do CFP, está em causa, disse, um "retrocesso da transparência da nossa democracia" se "o poder político conseguir controlar estas entidadades" - e até já há "vozes credíveis" que dizem que "a censura está de volta".

Ou seja, "a qualidade da nossa democracia depende muito do respeito do Governo pela independência" entidades como o CFP, a CRESAP, o Conselho Nacional de Educação, o Banco de Portugal e, em geral, organismos de supervisão e regulação, sendo que ele, Cavaco, sempre pensou que "o Governo, qualquer que ele fosse, não quereria ser acusado de pôr em causa a independência" destes órgãos.

Na questão da CFP - cujas análises económicas reputou serem de qualidade (como as do Banco de Portugal e as da Universidade Católica) - Cavaco Silva recordou ter sido por proposta sua que o Governo de Passos Coelho acolheu a ideia de os dirigentes daquele organismo serem nomeados pelo Conselho de Ministro por proposta do Banco de Portugal e do Tribunal de Contas e não por estes dois organismos diretamente, como tinha sido acordado com o PS.

Daí a surpresa com o veto do atual Governo aos nomes propostos por estas duas entidades: "Confesso que nunca imaginei que as propostas do Banco de Portugal e do Tribunal de Contas pudessem não ser aceites pelo Governo de Portugal."

O Governo foi alvo de Cavaco mas não só. Embora sem o nomear, o atual Presidente da República também esteve na mira do seu antecessor. Para isso, Cavaco Silva recorreu a fortes elogios à política de comunicação do Presidente francês, Emanuel Macron.

Ele, explicou, "cortou o acesso generosos dos jornalistas políticos ao Eliseu", disse "não à promiscuidade no relacionamento com jornalistas", recusando fazer deles os seus "confessores".
A nota que Cavaco Silva escreveu no livro de honra do Hotel Sol e Serra, em Castelo de Vide, onde foi participar na conferência da Universidade de Verão do PSD

Naquilo que pode ser visto como um autorretrato da forma como ele próprio exerceu o cargo de Presidente - Cavaco Silva disse que num Chefe do Estado a palavra deve ser "rara" - deve comportar-se como Júpiter, "um Deus de palavra rara no seu Olimpo".

"A sua estratégia [de Macron] contrasta com a verborreia frenética da maioria dos políticos europeus dos nossos dias, ainda que não digam nada de relevante"; disse ainda, recordando que o Presidente francês já afirmou que quando fala é só sobre os assuntos que ele escolhe e não "sobre a atividade política". "Quantos em Portugal teriam coragem para coragem para dizer isto?", perguntou.

Numa frase que só pode ser entendida como dirigida a Marcelo, acrescentou que "não passa pela cabeça de ninguém que Macron telefone a um jornalista para lhe passar uma notícia ou uma informação". A frase surgiu vários parágrafos depois de ter teorizado sobre as "fakenews" - fenómeno que afirmou também existir em Portugal - e denunciado ele próprio já foi "vítima" dessas notícias falsas, quando um "jornal de referência" noticiou que ele, Cavaco, num Conselho de Estado já na presidência de Marcelo, tinha "estragado" a "unanimidade sobre sanções da UE" a Portugal, matéria sobre a qual, segundo garantiu, "não pronunciara uma única palavra" nessa reunião.

O tema geral da intervenção do ex-PR foi sobre como a realidade trata de desfazer a retórica ideológica. "De facto, meus caros jovens, a realidade acaba sempre por derrotar a ideologia."

Cavaco Silva começou por dar o exemplo grego: "Alexis Tsipras, depois de uma certa bazófia inicial, correu com Varoufakis [o seu primeiro ministro das Finanças], pôs a ideologia na gaveta e aceitou negociar um terceiro resgate ainda mais duro" do que os anteriores.

Isto é: "Quando Alexis Tsipras ascendeu a primeiro-ministro surgiram noticias a dizer que as políticas de contenção iriam desaparecer" e nessa altura "o nível de ignorância patente no que foi escrito ou dito ultrapassou tudo o que se poderia imaginar" porque "se cada um dos 19 países do euro conduzisse a sua política orçamental isso teria uma grande efeito desestabilizador". "A indisciplina orçamental de um Estado influencia negativamente os outros" e "um país que deixa derrapar as suas contas públicas, mais cedo ou mais tarde terá de as pôr em ordem, e com custos." Até França, concluiu, "não teve outro remédio senão curvar-se".

Daqui passou ao Executivo português e a solução política que o apoia (chamando-lhe "coligação"): "Os governos podem começar a sua vida com alguns devaneios revolucionários". Mas depois, medidas como "aumento de impostos indiretos", "cortes nas despesas públicas de investimento", "cativações" ou mesmo "contabilidade criativa" tornam-se "exemplos em que a realidade tirou o tapete à ideologia" e provam que estes governos "acabam sempre por conformar-se com regras europeias de contenção orçamental". "Aqueles que no Governo querem têm a retórica da revolução socialista acabam por perder o pio ou fingem apenas que piam" e "aqueles que piam não têm credibilidade porque são apenas jogos partidários", "não atribuam a esses pios importância".

O ex-PR aproveitou ainda para aconselhar os jovens que o ouviam a que "não percam tempo com a conversa da saída de Portugal do euro". "Acontecem coisas esquisitas em Portugal mas não prevejo que Portugal enlouqueça", ironizou. "Portugal nunca sairá do euro enquanto houver euro."

Traçando um retrato hiper negro do que aconteceria a Portugal caso saísse do euro - "falências em muitas centenas de empresas, brutal delapidação da riqueza nacional, perda das poupanças, corrida aos bancos, fuga de capitais, provável colapso do sistema financeiro, falta de moeda externa para fazer a importações dos produtos que Portugal precisa" - Cavaco disse ser esta "a realidade que derrota a ignorância e o delírio dos que defendem a saída do euro".

Falando explicitamente do BE e do PCP, concluiu: "Se vocês perguntassem aos partidos da coligação que defendem a saída de Portugal do euro para qual galáxia iria Portugal depois, eles provavelmente responderiam que seria para a galáxia onde se encontra, agora, a Venezuela."

Deu também conselhos à sua audiência sobre carreiras políticas ("é um erro um jovem abandonar os estudos em troca de um lugar político" porque isso lhe condiciona a independência e nunca se deve esperar "gratidão") e falou na necessidade imperiosa de se saber "identificar o que é relevante na informação". "Há muita coisa melhor na vida para fazer do que perder tempo com informação inútil" e é decisivo saber-se distinguir-se informação relevante de "informação política irrelevante" e "efémera". Já quanto aos "comentadores" tem uma certeza: "Os que valem a pena não esgotam os dedos de uma mão."

Depois analisou a questão do peso do Estado na despesa pública, dizendo que "é muito provável" que "seja excessiva". "O Estado português não só é indisciplinado como também demasiado gordo" e "a redução do monstro requer de um Governo muita vontade reformista".

Para o problema do Estado, disse ainda, contribui, no seu entender, um "sistema fiscal que perdeu lógica e coerência", com mudanças a serem "feitas sem qualquer estudo sobre a sua incidência", com a "exceção", salientou, da reforma do IRC conduzida pelo Governo de Passos Coelho. Fora isso, reforçou, "o que domina é a arbitrariedade e não a equidade ou a eficiência" e, além do mais, "Portugal não é competitivo na UE em termos fiscais".

Sorrindo, Cavaco encerrou esta sua conferência - à qual compareceu, de surpresa, Pedro Passos Coelho - recomendando um artigo recente de Maria João Avillez no Observador (intitulado "O meu mundo não é deste reino"). E despediu-se: "Fico-me por aqui. Não vos quero maçar mais."

terça-feira, 29 de agosto de 2017

Ativista escreve a Marcelo para criticar felicitação ao MPLA

MUNDO
Angola
28 DE AGOSTO DE 2017 11:14
DN/Lusa

O investigador universitário angolano Nuno Dala, um dos 17 ativistas condenado a prisão pelo tribunal de Luanda, criticou a mensagem de felicitação pela eleição enviada pelo Presidente português a João Lourenço, por nenhum candidato ter ainda sido declarado vencedor.

Numa carta aberta dirigida a Marcelo Rebelo de Sousa, divulgada hoje, Nuno Dala critica a "incompreensível mensagem congratulatória" do Presidente português a João Lourenço, candidato do MPLA nas eleições de 23 de agosto, que afirma ser "totalmente infeliz".

"A Comissão Nacional Eleitoral [CNE] da República de Angola ainda não declarou vencedor nenhum dos candidatos e os respetivos partidos pelos quais concorreram às eleições de 23 de agosto do ano em curso", refere o ativista e investigador universitário.

Além disso, acrescenta na carta que o processo de escrutínio dos votos só foi iniciado pelos centros provinciais de escrutínio da CNE a 25 de agosto, "depois de essa instituição se ter visto obrigada a assim proceder".

"Pois, violando escandalosamente a Lei Eleitoral vigente em Angola e a ética eleitoral, tinha dado início a 24 de agosto ao anúncio de resultados totalmente forjados, na medida em que, tal como demonstrado por um grupo de comissários da CNE, os dados anunciados não eram originários dos centros provinciais de escrutínio", refere ainda.

Os resultados provisórios divulgados pela CNE na sexta-feira apontam a vitória do MPLA nas eleições de 23 de agosto, com 61% dos votos, e a eleição de João Lourenço como próximo Presidente da República de Angola.

Em simultâneo, os principais partidos da oposição, UNITA e CASA-CE, já anunciaram que estão a fazer contagem paralela e que os dados apontam, até ao momento, para resultados diferentes dos divulgados pela CNE.

No sábado, o Presidente português, Marcelo Rebelo de Sousa, felicitou o Presidente eleito de Angola, João Lourenço (MPLA), numa mensagem publicada no sítio da Presidência na internet.

Nas felicitações ao Presidente angolano eleito, o chefe de Estado português sublinhou os laços fraternais que unem os dois países e os dois povos.

"Durante os 374 dias em que estive preso, junto com outros companheiros do célebre processo 15+2 (...), calaram-me no fundo da alma as incontáveis manifestações de solidariedade do Povo Português, que muito se bateu pela nossa libertação. Constituiu para mim uma aziaga surpresa o facto de Sua Excelência ter felicitado não apenas um falso vencedor como, também, de ter legitimado a fraude que o regime do MPLA está a forjar", lê-se na carta de Nuno Dala.

Na mensagem dirigida a Marcelo Rebelo de Sousa, o ativista angolano acrescenta ainda que o "facto de existirem centros de escrutínio paralelos", montados pela oposição, será "seguramente estranho a países como Portugal", Estados democráticos de Direito, "onde os processos eleitorais são credíveis, porque as respetivas instituições de administração eleitoral são sérias e fortes".

"Em Angola, os processos eleitorais não são credíveis. Daí a criação e funcionamento de centros de escrutínio paralelos, graças aos quais os partidos na oposição têm conseguido refutar a falsa estatística apresentada pela CNE, uma instituição que não tem poder real, não passando de instrumento de implementação da engenharia da fraude", afirma.

Por esse motivo, o ativista dirige-se a Marcelo Rebelo de Sousa referindo que as felicitações transmitidas ao MPLA representam "um grave erro político, que põe seriamente em causa a sua idoneidade tanto de académico, como de especialista em Direito".

Este domingo, foi publicado no portal Maka Angola, dirigido pelo jornalista Rafael Marques, um texto intitulado Marcelo Rebelo de Sousa rejeita direito dos angolanos à democracia, em que a atitude do presidente e professor de direito também é criticada.

"O gesto do presidente da República de Portugal não é neutro nem inocente, e representa o culminar do processo internacional de legitimação da ditadura angolana comandado por Portugal", lê-se no artigo.

UNITA pede à CNE que cesse divulgação de resultados provisórios

MUNDO
Angola
28 DE AGOSTO DE 2017 10:19
Lusa

A UNITA pediu à Comissão Nacional Eleitoral (CNE) angolana que "cesse a divulgação dos resultados provisórios" das eleições gerais "até que sejam sanadas as irregularidades constatadas", segundo uma reclamação ao plenário a que a Lusa teve hoje acesso.

A reclamação foi apresentada no domingo, pelo mandatário do partido, Estevão Kachiungo, depois de a CNE ter divulgado resultados provisórios das eleições realizadas na quarta-feira que colocam o MPLA à frente da contagem, com 61% dos votos, elegendo João Lourenço como próximo Presidente da República.

Nestes resultados provisórios - que antecedem a divulgação dos dados finais, a partir de 06 de setembro -, a UNITA surge na segunda posição, com 26,7% dos votos, mas a contagem está a ser contestada pelos partidos da oposição que, com base nas atas síntese enviadas pelos delegados de lista às mais de 25.000 mesas de voto, afirmam ter números diferentes.

Na reclamação da União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA) para o plenário da CNE, é requerido que aquele órgão "cesse a divulgação dos resultados provisórios até que sejam sanadas as irregularidades constatadas" pelos representantes do partido e "que se abram os centros provinciais de escrutínio" aos mandatários das candidaturas "para presenciarem o apuramento", conforme decorre da lei.

Também se solicita que a comissão nacional, que "hipoteticamente dispõe no Centro de Escrutínio de atas síntese arquivadas por municípios e províncias, se digne colocá-las à disposição", para que as "possa comparar", na presença de todos os mandatários".

Na queixa apresentada, a UNITA diz que "constatou que os resultados divulgados pela CNE não têm como base as atas sínteses enviadas das assembleias de voto, porque elas não existem no Centro de Escrutínio em Talatona".

Acrescenta que os resultados provisórios, "ao não terem como base as atas síntese enviadas das assembleias de voto", resultam de uma violação à lei eleitoral.

A queixa da UNITA refere igualmente que, "apesar de se terem fixado no ponto de receção de faxes no Centro de Escrutínio em Talatona", os mandatários do partido "não assistiram à chegada de nenhum fluxo de faxes com atas síntese das assembleias de voto que pudessem servir de base ao apuramento provisório", anunciado na quinta e sexta-feira pela CNE.

O presidente e cabeça-de-lista da UNITA às eleições gerais angolanas, Isaías Samakuva, disse no sábado não reconhecer validade aos resultados provisórios divulgados pela CNE, com o partido a garantir que vai divulgar a partir desta semana dados da contagem paralela que está a realizar.

"O país ainda não tem resultados eleitorais válidos. O país ainda não tem um Presidente eleito nos termos da lei", afirmou Isaías Samakuva, acrescentando que o partido só se vai pronunciar nesta matéria quando a CNE anunciar os resultados definitivos.

Estes resultados, defendeu Samakuva, "devem ser produzidos pelos órgãos locais da CNE a partir das atas verdadeiras das operações eleitorais elaboradas em cada mesa de voto, nos termos da lei".

De acordo com o líder do partido do 'galo negro', a origem dos dados utilizados na projeção da CNE é desconhecida dos partidos da oposição e respetivos comissários, desde logo tendo em conta, disse, que os centros de escrutínio provincial só no sábado iniciaram as operações, e não logo após o fecho da votação, como decorre da lei.

No centro de escrutínio nacional da UNITA, em Viana, Luanda, o partido afirma já ter recebido praticamente a totalidade das atas síntese e atas de operação, de todas as 12.512 assembleias de voto, que incluem 25.873 mesas de voto, enviadas pelos delegados de lista.

CNE vai abrir inquérito para avaliar conduta desviante de comissários

MUNDO
Angola
29 DE AGOSTO DE 2017 16:18
Lusa

Comissários nacionais eleitorais representantes da UNITA e CASA-CE demarcaram-se dos resultados provisórios divulgados pela CNE, que dão vitória ao MPLA

A Comissão Nacional Eleitoral (CNE) vai instaurar um inquérito para analisar o comportamento de alguns comissários nacionais e provinciais, que nos últimos dias, têm assumido "uma conduta desviante" dos princípios reitores do órgão eleitoral.

A posição foi hoje expressa pela porta-voz da CNE, Júlia Ferreira, no final da reunião plenária que analisou entre outros assuntos essa questão.

Um grupo de comissários nacionais eleitorais representantes dos partidos UNITA e CASA-CE anunciaram um dia depois das eleições de 23 de agosto, que se demarcavam dos resultados provisórios divulgados pela CNE, que dão vitória ao MPLA.

Segundo Júlia Ferreira, a questão foi amplamente debatida no plenário de hoje, tendo sido tomada a decisão no sentido de que assim que estejam concluídas todas as etapas inerentes ao processo eleitoral seja instaurado "um inquérito para se aferir sobre estes comportamentos que foram assumidos quer por alguns comissários ao nível da CNE como também em relação a alguns comissários ao nível das comissões provinciais eleitorais".

Em conferência de imprensa, o grupo de comissários assumiu que não se reviam na comunicação da CNE, porque não teria sido feita "com base nos termos legais".

"Nenhuma comissão provincial eleitoral, de Cabinda ao Cunene, se reuniu para produzir-se os resultados que foram anunciados. Aqui estão membros que fazem parte da coordenação técnica do centro de escrutínio, igualmente eles não participaram na produção daqueles resultados", acusaram na altura aqueles comissários.

Também ao nível das províncias, alguns comissários têm assumido a mesma posição, que a CNE acusa estarem a ser instruídos pelas direções dos seus partidos.

Os resultados provisórios das eleições gerais de 23 de agosto divulgados pela CNE não são reconhecidos pela União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA), Convergência Ampla de Salvação de Angola - Coligação Eleitoral (CASA-CE) e pelo Partido de Renovação Social (PRS), dão vitória ao Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA), com 61% dos votos e uma projeção de 150 deputados (maioria qualificada), além da eleição de João Lourenço como próximo Presidente da República.

Aquelas forças políticas concorrentes não reconhecem os resultados eleitorais provisórios, alegando que a contagem paralela que estão a realizar, com base nas atas sínteses das mesas de voto, aponta para dados diferentes.

Angola realizou a 23 de agosto as quartas eleições, às quais concorreram o MPLA, UNITA, CASA-CE, PRS, Frente Nacional para a Libertação de Angola (FNLA) e Aliança Patriótica Nacional (APN).

CASA-CE anuncia que vai impugnar resultados das eleições em Angola

MUNDO
Angola
27 DE AGOSTO DE 2017  16:44
Lusa
Abel Chivukuvuku, o candidato do CASA-CE às eleições

Dados da Comissão Nacional Eleitoral de Angola deram vitória ao MPLA com 61% dos votos

A Convergência Ampla de Salvação de Angola - Coligação Eleitoral (CASA-CE) anunciou hoje que vai impugnar judicialmente os resultados eleitorais divulgados pela Comissão Nacional Eleitoral (CNE), que dão vitória ao MPLA, com 61% dos votos, invocando a sua nulidade.

A posição foi expressa em conferência de imprensa pelo vice-presidente da CASA-CE, André Mendes de Carvalho "Miau", coligação que, segundo os dados provisórios da CNE, terá ficado em terceiro lugar nas eleições gerais de 23 de agosto, com 9,5% dos votos.

O dirigente da CASA-CE referiu que, além das denúncias feitas até agora, sobre a forma "ilegal" como decorreu o escrutínio para o apuramento dos resultados provisórios, aquela formação política vai "intentar uma ação contra a CNE junto das instâncias judiciais sobre o modo como esse processo provisório foi conduzido".

"Neste momento, nós estamos vigilantes (...) sobre o modo como está a decorrer o apuramento provincial", disse.

A UNITA, segundo maior partido em Angola, anunciou no sábado que não reconhece validade aos resultados provisórios anunciados pela CNE e, tal como a CASA-CE, está a realizar uma contagem paralela, com recurso às atas síntese das assembleias de voto.

Segundo André Mendes de Carvalho "Miau", que concorria pela CASA-CE para vice-Presidente da República, nestas eleições, o apuramento provincial, nos termos da lei, deve iniciar imediatamente quando os primeiros resultados das assembleias chegam às províncias, e deve decorrer de maneira ininterrupta até o termo dos trabalhos.

André Mendes de Carvalho "Miau" disse que a informação em posse da coligação é que, até às 09:00 de hoje, as províncias do Cuando Cubango, Cunene, Luanda, Lunda Norte, Lunda Sul, Malanje e Moxico não iniciaram ainda o escrutínio provincial.

Já nas províncias de Benguela e Cabinda o escrutínio está suspenso pelos órgãos eleitorais locais, de acordo ainda com o vice-presidente da CASA-CE, "pelo facto de, em Benguela, se pretender escrutinar apenas os votos brancos e nulos e em Cabinda se pretender um escrutínio com base em atas síntese, em violação flagrante da lei em ambos os casos".

Relativamente ao restante do país, a informação é de que as províncias do Huambo e Huíla estão em fase embrionária de escrutínio, observando-se, entretanto, "a existência de muitas urnas violadas", enquanto no Bengo, Bié, Cuanza Norte, Cuanza Sul, Namibe, Uíge e Zaire o escrutínio decorre "com normalidade e de acordo com o padrão legal".

"A CASA-CE não vai aceitar que o processo decorra sem lisura, exigindo assim que, a todos os níveis, as instituições encarregadas do escrutínio e apuramento exerçam a sua função no estrito cumprimento da lei e com a máxima responsabilidade", refere.

A coligação liderada por Abel Chivukuvuku desqualificou também as posições assumidas por alguns observadores internacionais que, de forma "turística", visitaram esparsas mesas de voto, alegadamente não se preocupando com o ambiente político geral, bem como com a natureza global do processo eleitoral.

"Fizeram tábua rasa às violações dos procedimentos legais que enformam o escrutínio provisório, consagrando precipitadamente uma força vitoriosa no esteio da posição musculada do partido da situação e evitaram, sintomaticamente, acompanhar o escrutínio definitivo, único que tem efetiva força mandatória", salientou.

Aos angolanos, a coligação exortou com "veemência" a manterem a serenidade, vigilância e firmeza, bem como a confiança no trabalho da CASA-CE, para que "a verdade eleitoral seja defendida até ao fim".

A terceira maior força política de Angola deplorou "o clima de manipulação e intimidação que pretende instalar o medo no espírito dos cidadãos, através de boatos sobre supostos atos de desordem protagonizados pelos membros dos partidos da oposição".

OPOSIÇÃO: CNE E MPLA INVENTAM RESULTADOS ELEITORAIS

Em defesa da democracia, contra a corrupção
24 de Agosto de 2017 - Rafael Marques de Morais




















A CNE iniciou ao fim desta tarde a divulgação preliminar dos resultados eleitorais, sem que as províncias tenham feito o apuramento dos resultados, quer a nível local, quer no Centro Nacional de Escrutínio. De acordo os números apresentados, o MPLA vence com uma maioria de 64.57%, seguido pela UNITA, com menos de metade dos votos, alcançando apenas 24.4%, e em terceiro lugar a CASA-CE, com 8.56%.

“Esses resultados divulgados pela CNE são completamente falsos. Nem nas províncias nem em Luanda houve apuramento dos resultados pela CNE. Esses resultados são completamente inventados”, denuncia o presidente do Partido de Renovação Social (PRS), Benedito Daniel.

Contrariamente às eleições passadas, desta vez não houve projecções de resultados. A porta-voz da CNE, Júlia Ferreira, leu os resultados a partir de folhas soltas numa capa. Não respondeu às perguntas. “Leu o que lhe deram para ler”, comenta um jornalista.

A leitura foi feita na Escola Nacional de Administração Pública, no Morro Bento, apesar de o Centro Nacional de Escrutínio se situar no Centro de Convenções de Talatona, a poucos quilómetros de distância. Basicamente, a conferência de imprensa serviu para afastar os jornalistas do centro de escrutínio.

Nas eleições de 1992, 2008 e 2012, os resultados foram projectados em ecrãs montados pela CNE, e a sua actualização podia ser acompanhada pelas televisões e outros órgãos de informação. O Centro Nacional de Escrutínio está mais bem equipado do que das vezes anteriores e tem esses meios à sua disposição.

Os mandatários e comissários dos partidos políticos estiveram no centro de escrutínio até às 2h00 e retiraram-se apenas por poucas horas. Durante todo o dia, não notaram quaisquer movimentações de apuramento de resultados no Centro Nacional de Escrutínio.

Um alto funcionário da CNE, que prefere não ser identificado, confirma ao Maka Angola o que se passa no Centro Nacional de Escrutínios, onde estão centenas de operadores. “Eu ainda não vi chegar um único fax ao centro. Desde que aqui estou, só vi testes de envio e recepção de faxes anteriores às eleições. Oiço agora dizer que estão a chegar alguns faxes lentamente, mas não confirmo ter visto nenhum. Também não vi lá nenhuma acta [de mesa, ou síntese de assembleia de voto]”, garante o alto funcionário. “Esteve aqui uma delegação norte-americana a visitar, com autorização de um oficial do Serviço de Inteligência colocado aqui no centro, para impressionar. De resto, não temos mais informações”, revela o mesmo interlocutor.

“Ainda não assistimos a nenhuma contagem no centro de escrutínio. Estamos aqui desde ontem. Não vimos nenhum fax a chegar e agora temos projecções da CNE. Como?”, interroga-se o mandatário da UNITA, José Pedro Katchiungo.

Na hipótese de se usar o argumento da dificuldade de comunicação entre a CNE e o resto do país, vejamos o que se passa em Luanda, no Centro Provincial de Escrutínio. A CNE garante ter já escrutinado 63.74% dos votos.

“Estamos desde ontem (23 de Agosto) de manhã na sala paralela à do escrutínio e até a esta hora nenhum comissário eleitoral teve acesso ao apuramento de dados”, revela um dos comissários.

“Nós estamos desde ontem sentados a olhar para um mapa que nos dá apenas zero de resultados. Estamos a ouvir a projecção da CNE, que parece ter sido transmitida de outra galáxia. É inacreditável”, refere.

Segundo o referido oficial, “nós [comissários] tínhamos de confirmar os resultados, em função da verificação das actas e ratificá-los com as nossas assinaturas. Só assim poderiam ser divulgados os resultados”, esclarece o membro da CNE.


Oposição mais bem preparada

Desta vez, a oposição, apesar dos fracos meios e da escassa organização de que dispõe, tem conseguido apresentar uma contagem de votos alternativa à que o MPLA e a CNE divulgaram à imprensa nacional e estrangeira sem apresentarem factos de suporte.

Segundo a contagem paralela que efectuou a partir das actas-síntese recolhidas à boca das urnas, a UNITA reclama que o MPLA tem apenas uma ligeira vantagem sobre si.

De mais de um milhão e 200 mil votos – apurados através das referidas actas-síntese, produzidas pela CNE e assinadas pelos delegados de lista dos partidos concorrentes –, o MPLA leva vantagem com 47.6% do total dos votos contabilizados. Segue-se a UNITA, com 40.2% e, em terceiro lugar, a CASA-CE, com 9.15%. Em quarta posição está o PRS, com 1.55%, seguido pela FNLA, com 1.10% e, por último, com 0.40%, a APN.

Em Luanda, num universo de cerca de meio milhão de eleitores, a UNITA e o MPLA disputam a vitória com 42.48% e 42.08%, respectivamente.

Essa contagem assustou o MPLA. Na realidade, embora apontasse para uma maioria relativa do MPLA (isto é, em primeiro lugar mas sem maioria absoluta), o MPLA tinha a maioria absoluta em dúvida (isto é, mais de 50% dos votos) e certamente nunca alcançaria a maioria qualificada (isto é, mais de 66% dos votos). O problema é que só a maioria qualificada de 66% (dois terços dos assentos parlamentares) permite que o MPLA governe em ditadura, fingindo que está em democracia.

Por isso, vendo a ditadura chegar ao fim, o MPLA reagiu e anunciou, sem qualquer base real, essa maioria, colocando a CNE a divulgar resultados provisórios até ao momento “inventados”.

Antes disso, o secretário do Bureau Político e para os Assuntos Eleitorais, João Martins, anunciou, a partir da sede do seu partido, que o MPLA venceu com 65% dos votos. Uma hora depois deste anúncio, a própria porta-voz da CNE veio a público afirmar que os votos nem sequer ainda estavam a ser contados.

Por sua vez, o presidente do PRS, Benedito Daniel, afirma que o seu partido está a fazer a contagem paralela dos votos, de acordo com as actas operacionais das assembleias de voto na posse dos seus delegados de lista.

“A CNE não está a realizar o escrutínio das assembleias de voto e atribui-nos resultados inadmissíveis. A CNE tem de acabar com essa manipulação. Não são resultados que correspondam à verdade. Não são enviados pelas assembleias de voto e não sei onde isso vai acabar.”

Vigarice

Até ao momento, as províncias não fizeram o apuramento dos resultados locais e, consequentemente, não os comunicaram à CNE. Portanto, onde foi que a CNE obteve os dados? As informações dadas pela CNE não podem ser consideradas válidas sem o apuramento legal dos resultados e na presença dos membros dos partidos concorrentes, como estabelece a lei.

Acresce que, até a meio da tarde de hoje, as Comissões Municipais Eleitorais não tinham enviado quaisquer dados ao Centro Nacional de Escrutínio, em Luanda.

Sabe-se que, ontem, a CNE suspendeu os trabalhos de escrutínio por ordens políticas do poder, quando as previsões se começaram a manifestar contrárias aos planos do MPLA.

Um pouco por todo o país, verificaram-se situações bizarras durante o processo de votação.

Por exemplo, conforme denuncia o comissário eleitoral Muanauta, na comuna de Camaxilo, município de Caungula, os agentes eleitorais iniciaram os trabalhos depois das 18h00, pelo que a população local (oito bairros) se recusou a votar às escuras.

Em Cafunfo, o ex-administrador da comuna do Luremo e secretário local do MPLA removeu as urnas das assembleias de voto 7809 e 7813, sem que ninguém o impedisse, e transportou-as para outra localidade.

Como quer que seja, as vestes de legitimidade democrática do MPLA caíram logo que se sentiu assustado com a previsão de resultados. Por isso, mandou parar a contagem e anunciou uma vitória com maioria “qualificada”. Só se for qualificada na fraude!

“Os angolanos votaram com serenidade e civilidade. Vamos confrontar a CNE, para que nos explique como chegou a estes resultados. Ninguém deve criar distúrbios, para não dar pretexto ao MPLA de se escapar pela violência”, defende o mandatário da UNITA José Pedro Katchiungo.