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segunda-feira, 13 de janeiro de 2014

As contas demonstram: é impossível pagarmos a Dívida Púiblica

O Economista Português
Um blog de Economia Política e de Económica Económica
Publicado em Janeiro 13.2014

Lavra grande alacridade entre os comentadores financeiros por o empréstimo público a cinco anos, lançado há dias, ter sido subscrito. Álacres estão mesmo os comentadores que sabem que pagamos de juros vários pontos percentuais acima da Irlanda ou da Espanha. Essa alacridade tem razão de ser? Não, não tem. É melhor o empréstimo ter sido subscrito do que não o ter sido, pelo menos a curto prazo. A longo prazo, porém, é pior pois alimenta a convicção errada que temos condições para pagar a dívida pública. Não temos. Para isso, O Economista Português mandou o Excel fazer umas contas de trazer por casa que, apesar de algumas simplificações, serão suficientes para evidenciar esta realidade aos leitores - realidade que mostra a fantasia triste em que CDS/PP, PSD e PS têm vivido..

O governo Passos Coelho/Paulo Portas insiste em pagar a dívida cortando a despesa pública, o que significa de momento diminuir os vencimentos dos funcionários públicos. Por isso, a primeira simulação consistirá em supor que as despesas públicas diminuem todos os anos em 4%. As taxas dos impostos não aumentam e mantêm-se sempre em 40% do PIB. No ano zero, essa economia tem um PIB de 160 biliões de euros, uma dívida de 127% do PIB; o saldo primário inicial é -10,9% do PIB. O saldo primário é a diferença entre as receitas e as despesas do Estado excluindo o pagamento dos juros. Supusemos que, devido à diminuição da despesa, o PIB decrescia 2% ao ano, pois ela é mais de 40% do PIB; o que aliás é mais favorável do que supor que se mantém estável a relação PIB/despesas públicas+receitas públicas; supusemos, portanto, que haveria algum aumento da procura externa. Dados os valores e os volumes em causa, é irrealista supor que esta pode aumentar ao ponto de gerar um excedente que financie a amortização acelerada da dívida. O gráfico seguinte sumaria a evolução do programa de «ajustamento» com cortes na despesa, do género do que nos tem vindo a ser ministrado, por acordo entre a troika externa e a troika nacional (CDS, PSD, PS). O gráfico está em números-índices. As contas do programa de corte a dez anos vão no final do presente post.

O resultado da política de corte da despesa é a diminuição drástica do PIB e o aumento da dívida quer em valor absoluto quer em percentagem do PIB. Ou seja: alcança resultados opostos aos pretendidos, pois, como o leitor se lembra, pretendia pagar a dívida. Falha porquê? Porque só no nono ano do programa foi possível atingir um saldo primário positivo, mas demasiado reduzido. Um saldo primário positivo é uma condição necessária para diminuir a dívida; mas não é uma condição suficiente: tem que haver crescimento do PIB. Se o PIB não crescer, o saldo primário é tão reduzido que não permite amortizar a dívida, isto é, não permite pagá-la no sentido de a diminuir (a dívida é paga sempre que é reciclada ou renovada voluntariamente pelo credor, a pedido do devedor). Se o saldo primário não crescer mais depressa do que a dívida, ela nunca será reembolsada e a situação financeira agravar-se-á. Aliás, o saldo global do Estado, incluindo o pagamento de juros, e por força dele, continua em défice crescente até ao fim do programa. O modelo ficaria mais perfeito se diminuíssemos a taxa de juro quando emerge o saldo primário positivo, mas esse aperfeiçoamento não alteraria as realidades básicas (nem seria certo que ele ocorresse na realidade, dado o mau comportamento do PIB).

O Economista Português tem pregado o crescimento económico como solução para os problemas nacionais. Por isso, produziu outro modelo prevendo um crescimento anual de 4%, sem corte nas despesas públicas. Os impostos rendem mais 40% devido aos 4% de crescimento do PIB; este coeficiente é discutível; nos Estados Unidos, este aumento do rendimento fiscal em função do crescimento do PIB rondaria os 30%. Os restantes coeficientes são iguais aos do modelo de corte da despesa. O resultado sobre a dívida é bastante melhor do que no modelo dos cortes da despesa, sobretudo em termos relativos, pois ela diminui em percentagem do PIB; mas continua a aumentar em valores absolutos, embora a um ritmo menor do que no modelo de corte de despesas. Mas a dívida não desaparece: há crescimento económico mas não há saldo primário positivo. Para que a dívida fosse paga mais depressa, seria necessário um ritmo de crescimento maior e uma maior capacidade extrativa do Estado (capacidade cobrar mais impostos) ou combinar 0 aumento da receita fiscal com a diminuição da despesa do Estado (mas esta só diminui sem afetar o crescimento do PIB se aumentar a procura privada interna ou externa). Apesar de não ser perfeito, os custos sociais deste programa são muito menores do que no do corte da despesa. Os principais resultados estão no gráfico seguinte. As contas vão no fim.


O CDS/PP, o PSD e o pS estão enganados quando acreditam na eficácia das medidas da troika. A única solução para o nosso país é haver em Portugal um governo com coragem para dizer aos nossos credores: «não podemos pagar a dívida pública e é nessa base que têm de negociar connosco».


Resumo das Contas



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