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sexta-feira, 17 de janeiro de 2014

Europa acolhe bem propostas de Hollande, os franceses desconfiam

O Presidente Hollande foi elogiado na Alemanha PHILIPPE WOJAZER/REUTERS
CLARA BARATA /http:// www.publico.pt/autor/clara-barata) 15/01/2014   -  17:59

Nunca um governante socialista francês se afirmou social-democrata. Escolher essa via trará dificuldades ao Presidente

Em Berlim e em Bruxelas, a intenção anunciada por François Hollande de dar novo impulso à economia francesa através de cortes na despesa pública e de medidas que estimulem a competitividade das empresas caíram bem. “É uma clara mudança de paradigma. Durante a sua campanha eleitoral, posicionou-se contra a política de estabilidade conduzida pelo Governo alemão e contra a política de austeridade, que é uma palavra feia em França”, comentou Andreas Schockenhoff, vice-presidente do grupo parlamentar da CDU, o partido da chanceler alemã, Angela Merkel. “Resta ver como tudo isto será posto em prática.”

O pacto de responsabilidade ”estabelecer entre o Estado e as empresas francesas (http://acto de empresas francesas) proposto por Hollande prevê um alívio nos impostos cobrados às empresas e aos trabalhadores independentes no valor de 30 mil milhões de euros, e economias de 50 mil milhões de euros na despesa pública até 2017 - objectivos considerados “um passo na direcção correcta” pelo porta-voz da Comissão Europeia, Olivier Bailly.

Bruxelas tem manifestado preocupação por Paris não estar a seguir com sucesso a rota da redução do défice e das reformas estruturais, considerada a única via possível para recuperar competitividade. França tem estado a ser apontada para o título do “homem doente da Europa”, com perspectivas de crescimento de para este ano, numa altura em que a retoma económica está a chegar à UE, e uma taxa de desemprego de 11%. O anúncio de Hollande de que a França está disposta a seguir por um caminho de impostos mais baixos e despesa mais reduzida é, por isso, uma boa notícia para a Comissão. “Os objectivos do pacto de responsabilidade estão em linha com as recomendações que fizemos no ano passado. A Comissão vai analisar em profundidade estes elementos, que serão levados em conta nas previsões económicas de Inverno”, adiantou Bailly.

Em Berlim, há esperança de que esta viragem possa ser algo semelhante às reformas empreendidas pelo chanceler social-democrata Gerhard Schröder, o antecessor de Merkel. “A Alemanha também levou o seu tempo e teve de ultrapassar alguns obstáculos antes de conseguir fazer reformas económicas e do mercado de trabalho que prometiam melhorar a situação da economia”, comentou o ministro dos Negócios Estrangeiros Frank-Walter Steinmeier, do Partido Social Democrata e ex-chefe de gabinete de Schröder. “O que Hollande fez é, antes de mais, corajoso.”

Mas afirmar-se “social-democrata” num país onde esta palavra era até há pouco tempo um insulto para um militante socialista é perigoso para Hollande, tanto pela esquerda como pela direita. “Nunca um presidente socialista ou um socialista no poder assumiu ser social-democrata de uma forma tão clara”, afirmou o politólogo Stéphane Rozes, em declarações à AFP.

O ministro da Economia até se viu na obrigação de dar um pequeno esclarecimento na televisão. “A social-democracia é à esquerda”, afirmou na LCI Pierre Moscovici quando lhe perguntaram se o Presidente, que na campanha eleitoral tinha dito que o mundo da alta finança era o seu inimigo, tinha virado a casaca.

Pierre Gattaz, o presidente da Medef, a confederação patronal francesa, saudou o discurso de Hollande, dizendo que “vai no bom caminho”. Mas Marine Le Pen, a líder do partido de extrema-direita Frente Nacional - muito bem cotada nas sondagens para as eleições europeias de Maio -, acusou o Presidente de estar a “germanizar” a França e de “se ter convertido à economia ultraliberal”. Já os sindicatos reagiram às propostas de Hollande como “uma vitória para patronato”. O caminho para a desejada reforma francesa é ainda longo.

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