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domingo, 5 de janeiro de 2014

CAVACO APOSTA NO CAUTELAR

CAVACO APOSTA NO CAUTELAR

Posição Governo fala em saída à irlandesa do programa da troika, Cavaco não acredita. PS diz que cautelar será derrota Presidente discorda do PS

Surgiram sinais que nos permitem encarar 2014 com mais esperança
O acesso aos mercados de financiamento externo, a taxas de juro razoáveis, exige que a conclusão do programa de ajustamento seja feita com sucesso» Este é um objetivo fulcral, que tem no OE para 2014 um instrumento da maior relevância.
Há razões para crer que Portugal não necessitará de um segundo resgate

“O que mais choca na intervenção do PR é a insensibilidade com que fala dos sacrifícios por que passam os portugueses, ao afirmar que ainda mantemos a liberdade a os direitos de cidadania”
José Junqueiro Dirigente do PS

“O discurso foi adequado, na medida em que 2014 será o primeiro ano em que poderemos falar eventualmente em Portugal sem troika, se cumprirmos o programa como está previsto”
Nuno Melo CDS

“Cavaco mostrou-se um apoiante do OE-2014, sabendo que ele tem cortes brutais nos salários da administração pública e vai implicar medidas adicionais sobre os pensionistas”
Luís Fazenda Deputado do Bloco de Esquerda

“Enquanto referencial de estabilidade, o Presidente tem habituado os portugueses a sucessivos apelos aos partidos, no sentido de assumirem as suas responsabilidades”
Matos Rosa PSD

“Discordamos profundamente da perspetiva que o PR deu em relação a 2014. O OE não aponta para a melhoria das condições de vida dos portugueses, mas, pelo contrário, para o agravamento da situação”
Armindo Miranda Dirigente do PCP

“Lamentamos a demissão do Presidente da República no que respeita à defesa da Constituição que jurou defender e fazer cumprir”
APRE (Aposentados, Pensionistas e Reformados)

PR não acredita em saída à irlandesa
LUÍSA MEIRELES

O Presidente da República não embandeira em arco com os aparentes sucessos da economia em 2013 e considera "ir­realista” a possibilidade de Portugal entrar nos mercados sem o auxílio de um programa caute­lar, como tem sido sugerido pelos meios do Governo.
Na sua mensagem de ano novo, Cavaco Silva foi omisso em relação à possibilidade de uma “saída à irlandesa” (“clean exit”), como tem sido qualificada a entrada nos mercados sem apoio ex­terno, mas foi suficientemente claro ao afirmar que, quanto a um programa cautelar, há “razões para contar com o apoio dos nossos parceiros europeus no acesso aos mercados financeiros". Por outro lado, descarta a possibilidade de um segundo resgate, visto como um risco de regressão a “uma situação ain­da mais gravosa" do que a atual.
“Perante os elementos disponíveis atualmente e apesar dos sinais positivos da economia que o Presidente aponta» seria preciso que as coisas melhorassem muito para se chegar ao ponto de dizer que Portugal pode ir sozinho aos mercados", comentava uma fonte bem colocada. “Ê uma questão de realismo".
Para Cavaco Silva, os “sinais positivos” não são bastantes para garantir que as dificuldades estão ultrapassadas ou que, tal como refere, “a economia tenha ganho a dinâmica de crescimen­to sustentado que desejamos alcançar".
Aparentemente, segundo o raciocínio do Presidente, a situação que motivou a “saída limpa” da Irlanda tem muito de irrepetível, na medida em que não só correspondeu à vontade deste país perante as exigências» que lhe foram co­locadas, como da própria Europa e da Alemanha em particular, então enreda­da nas discussões da coligação governa­mental.
A situação em Portugal será totalmen­te diferente. Se a Irlanda colocou o país perante o desconhecido ninguém sa­be agora qual será o conteúdo de um “programa cautelar" - a situação euro­peia poderá até ser um fator favorável.
É certo que o programa será negocia­do em circunstâncias de necessidade e terá exigências duras, mas em Belém também se pensa que a situação euro­peia será diversa: o novo Governo ale­mão já estará em funções, haverá elei­ções na Europa e as negociações serão feitas com uma Comissão em rota de saí­da, quase em funções de gestão.
O que resultará de tudo isto é uma in­cógnita. Não é, pois, por acaso que Cava­co dá um puxão de orelhas ao Governo, ao exigir que para esta negociação se exi­ge “a máxima ponderação e bom senso, um sentido patriótico de responsabilidade”. Se o Presidente contraria a tese do PS, afirmando que um programa cautelar é “uma realidade diferente” do se­gundo resgate, também chama á pedra o primeiro-ministro, que rejeitou liminarmente a assinatura do PS num even­tual programa cautelar. 'Devemos preparar-nos seriamente para o período pós-troika’, declarou Cavaco, numa es­pécie de admoestação colectiva.

“O ano decisivo"
Para o Presidente, é mais do que eviden­te que 2014 é o ano decisivo, "aquele que irá condicionar o nosso futuro du­rante muitos anos", em que finda o pro­grama de ajustamento, Todo o discurso de Cavaco gira em torno desta premis­sa. A maneira como, melhor ou pior, Portugal sair do programa, determina­rá em grande parte a solução do pós-troika. É isto que, em suma, diz o Presidente. É o orçamento "é um instrumento da maior relevância” para se con­cluir o programa com sucesso.
É por causa dessa premissa que o Pre­sidente não abordou o tema constitucio­nal, preferindo fazê-lo em nota à parte no dia seguinte, justificando o não en­vio do orçamento para o Tribunal Cons­titucional como reclamava a oposição (ver texto nestas paginas). Além da pon­deração jurídica que alega (a jurispru­dência do tribunal), Cavaco fez também o juízo político do que representava externamente «este momento o ato presidencial de enviar por duas vezes sucessivos diplomas de carácter orçamentai para o TC. E sobretudo depois do "pesado chumbo” da lei da conver­gência de pensões, que deixou o Governo a braços com a tarefa de encontrar verbas que o substituam.
É também por causa dessa premissa que Cavaco volta a insistir na tese do compromisso nacional, perante o pas­mo do Partido Socialista, que ouviu com desagrado um discurso onde nem quer é mencionado o acordo sobre o ÍRC e onde, ainda por cima, se minoram os efeitos da política de austeridade a menção de que a ‘liberdade e os direitos à cidadania não foram postos em causa" —  uma frase dirigida mais a Má­rio Soares do que a António Seguro, ao que apurou o Expresso.
Cavaco não desconhece que qualquer consenso será tanto mais difícil de obter quanto mais próximo estiverem as elei­ções. "É uma impossibilidade", comen­tava na “Quadratura do Círculo” António Costa, ao referir-se à "armadilha" em que o PR se terá colocado depois da crise de Julho, continuando a reclamar um compromisso depois de retirar a possibilidade de eleições antecipadas, como aliás repete no discurso. "As instituições dispõem de uma plena legitimi­dade democrática (...) que lhes advêm do voto do povo, expresso em eleições livres", reiterou Cavaco.
Mas o Presidente quer fazer desse ape­lo uma linha constante, confiante de que, á medida que se aproximarem as eleições legislativas, o PS será obrigado a ponderar de outro modo as medidas que eventualmente terá de tomar. Um compromisso sobre “políticas públicas essenciais", como reclamou o PR em nome do interesse nacional, beneficiá­ria todas as pares, no seu entender. Ca­vaco sabe que nenhum entendimento pode ser feito á força e sem ser por von­tade dos partidos. O que resta saber é se ainda consegue convencê-los.
lmeireles@expresso.impresa.pt


As condições de vida no pós-troikâ beneficiariam de forma decisiva se fosse estabelecido um compromisso de médio prazo
Portugal é um dos países europeus onde o diálogo e o consenso entre os partidos tem sido mais difícil
Orgulhamo-nos de viver numa democracia consolidada e estável


25 DE ABRIL
Cavaco faz conferência para assinalar a revolução
Há 40 anos o lema eram os três D — Democratizar, Descolonizar. Desenvolver - agora, segundo anunciou Cavaco Silva, será DCD; espirito da Democracia, cultura do Compromisso e desafios do Desenvolvimento. Serão estes os temas de uma conferência internacional que a Presidência da República organizará por ocasião do 40.º aniversário do 25 de abril e que Cavaco quer que seja celebrado "com sentido de futuro”. Para o Presidente, os portugueses triunfaram sempre que foram capazes de estabelecer compromissos e de se unir. “Este é um património coletivo que não podemos pender por causa de querelas conjunturais”, afirmou na sua mensagem de ano novo.


OUTRAS MENSAGENS OE CAVACO SILVA
Nos últimos anos, várias mensagens, discursos e intervenções de Cavaco Silva marcaram a agenda política

21 DE JULHO DE 2013
Depois da saída de Gaspar e da quase saída de Portas, que ia deitando abaixo o Governo. Cavaco teve duas intervenções decisivas. Uma primeira, a 10 de Julho, em que exigiu que os três maiores partidos se sentassem à mesa e tentassem um acordo para o pós-troika. Mas PS, PSD e CDS não se entenderam. Onze dias depois, o Presidente diria aos portugueses: "Estou certo de que foram lançadas sementes e que essas sementes irão frutificar no futuro. Mais cedo ou mais tarde, um compromisso interpartidário alargado será imposto pela evolução da realidade política" Depois de dizer isto, revelou que não ia convocar eleições antecipadas,

1 DE JANEIRO DE 2013
Na sua intervenção de ano novo do ano passado, o Presidente revelava que o Orçamento do Estado que promulgara ia ser, por sua iniciativa, alvo de fiscalização sucessiva por parte do Tribunal Constitucional. A sua intervenção incluiu a célebre frase “temos urgentemente de pôr cobro a esta espiral recessiva, em que a redução drástica da procura leva ao encerramento de empresas e ao agravamento do desemprego”. Um ano depois, a expressão parece ter desaparecido do léxico.

1 DE JANEIRO DE 2012
No primeiro discurso de ano novo com Passos Coelho como primeiro-ministro, Cavaco Silva diria que Portugal "não pode deixar de cumprir os objetivos fixados no Programa de Assistência Financeira”, mas já alertava para a necessidade de se olhar para lá das finanças "Sem uma agenda orientada para o crescimento da economia e do emprego a situação social poderá tornar-se insustentável e não será possível recuperar a confiança e a credibilidade externa do pais”. Ao mesmo tempo, lançava ainda uma farpa ao consulado de Sócrates: "Durante muito tempo vivemos a ilusão do consumismo fácil, o Estado gastou e desperdiçou demasiados recursos, endividámo-nos muito para lá do que era razoável e chegámos a uma situação explosiva', como lhe chamei há precisamente, dois anos"

       1 DE JANEIRO DE 2011

A poucas semanas da sua reeleição presidencial, e ainda com o Governo de José Sócrates em São Bento, Cavaco falava já na crise em que o país estava mergulhado: "A partir do segundo semestre de 2010 já ninguém pode negar que o país atravessa uma situação de grave crise económica e financeira, a qual tem efeitos negativos no plano social. Aquilo que para alguns era já uma evidência, para a qual na devida altura alertaram os portugueses, foi finalmente reconhecido por todos, a começar pelos decisores políticos. Não iludir a realidade é um sinal positivo". Uma das frases que marcaram a intervenção nessa data foi sobre o crescimento dos problemas sociais. "Não podemos deixar para trás os que mais precisam: os jovens que buscam emprego, os desempregados de longa duração, os idosos mais carenciados, os que sofrem a pobreza e a exclusão, as crianças em risco, os deficientes, as famílias que enfrentam grandes privações", afirmava o chefe do Estado aos portugueses.

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