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sábado, 4 de janeiro de 2014

“0 CDS falhou no Governo”

Filipe Anacoreta Correia
“0 CDS falhou no Governo”

Num partido que Portas tem dominado qual Rei-Sol, ele é dos poucos a fazer oposição declarada. Assume que está aberto o processo de sucessão e acredita que é possível fazer muito mais e me­lhor do que a atual liderança.

Que vai dizer no congresso? R Esta reunião marca o início do processo de sucessão de Paulo Portas. Durante muitos anos o CDS viveu a achar que ele seria eterno e de repente a crise de Ju­lho tornou evidente que isso não era assim. E hoje, pelas circunstâncias políticas e até pela própria motivação dele, tudo indica que es­te congresso marca o início do pro­cesso de sucessão. E a minha leitu­ra é que Paulo Portas está a que­rer condicionar a sua sucessão e que no fundo escolhe a dedo a sua linhagem. Isso acho que é um er­ro grave. E uma tentação comum mas em geral dá mau resultado. O que se devia fazer agora em reforçar a instituição, assegurando as condições para a mudança.
E quando deve ser a saída de Portas, antes ou depois das pró­ximas legislativas?
R É muito difícil de dizer. A novi­dade em relação aos congressos anteriores é que este tópico está em cima da mesa, e vem de próprio portismo. Agora, quando vai ocorrer... Será um processo difícil porque o partido está mui­tíssimo identificado com a liderança de Portas. Mas o que me parece mais grave é a tentativa de condicionar essa sucessão, que acaba por remeter á menoridade aqueles que teriam condições para muito mais. Isso não é desejável para eles nem para o partido.
Está a falar-me de nomes como João Almeida ou Nuno Melo?
Hoje a primeira linha política do partido está toda ela bastante comprometida com esta liderança. Repare que Portas está a   convidar para a apresentação da sua moção pessoas que são subscritoras de outra moção, como Mesquita Nunes, Diogo Feio, João Almeida. Eles nem se dão conta do ridículo que isto é,
O ciclo de Portas na liderança do CDS é vitorioso, concorda?
Tem coisas boas e coisas más. Mas o partido tem 40 anos e antes do portismo foi maior e foi menor. E vai permanecer independente dele.
Portas é líder, há década e meia, com uma interrupção. A identificação do partido com ele é normal...
R Mas o meu dever é chamar a atenção para o erro de se querer condicionar a sucesso. O partido é muito maior do que uma qualquer pessoa.
Em que é que o CDS não está a agir como devia hoje em dia?
R A minha avaliação nesta passagem pelo Governo é que o CDS tem dado contributos positivos mas no essencial falhou. Portas representava a aspiração de uma nova direita, desempoeirada, livre, inteligente. E se no finai do I Governo não tivermos ido mais longe em temas e desafios como a reforma do Estado, a redução da despesa estrutural, a consolidação da segurança social, uma economia menos assente no Estado. Paulo Portas arrisca-se a ser não apenas a desilusão do ano, mas a desilusão de uma geração.
O CDS tem-se esforçado por mostrar que o que de bom acon­tece no Governo tem o seu dedo.
Há essa leitura e até tem algu­ma razão de ser. Mas o que vejo é o CDS pouco comprometido com grandes temas. A questão da reforma do Estado não é coi­sa pouca para o CDS.
A oposição diz muito que este Governo é muito liberal e tira o Estado da economia. Na soa ótica, isso seria positivo…
R Uma coisa é a avaliação do Governo, outra o que o CDS está a fazer no Governo. E há claramen­te um antes e um depois da crise de Julho. Mas vê muito mais uma voz reativa do que ativa do CDS.
O CDS desiludiu quem votou nele?
R Acho que sim, há falta do com­bate político no melhor sentido da palavra. Portas e o portismo são animais de poder, extraordinaria­mente eficientes na conquista e manutenção do poder, mas sem que isso se reflita num empenho concreto com os políticos que são necessários em Portugal.
Porque defende que o CDS não vá coligado com o PSD nas europeias?
R As autárquicas demonstra­ram que ir juntos não reforça o projeto governativo e a estabilidade. Em Lisboa foram juntos e foi péssimo. Indo coligados haverá uma tendência maior de fazer das europeias uma ava­liação do Governo e isso não é bom para o projeto governativo. Depois, o CDS tradicional­mente é um partido mais caute­loso em matérias europeias e com um posicionamento dife­rente do PSD. E com uma coli­gação estamos a prescindir de parte do nosso eleitorado.
A coligação é uma espécie de prova de lealdade na coligação. 
R Isso não me convence, até porque é contraditório com o que a moção de Portas diz so­bre a possibilidade de uma coli­gação nas legislativas. Não faz sentido afirmarmos a lealdade com a coligação nas europeias e não o fazermos para as elei­ções legislativas. Afirma-se uma coisa e o seu contrário. Além disso, uma candidatura autónoma permitiria a existência de momentos eleitorais que não são protagonizados por Portas. É importante essa capa­cidade de renovação no CDS.
A sua pretensão é apresentar uma candidatura à liderança?
R A nossa intervenção é pelo de­sejo de mudança e contra o conformismo. Estamos mais empe­nhados em ver sinais de abertu­ra no partido a essa mudança do que em estarmos a introduzir a questão da liderança no momen­to em que o pais se encontra.
Mas o que defende em relação à sucessão?
R É possível fazer mais e me­lhor que Portas. As nossas propostas vão nesse sentido. E ire­mos a votos com a nossa moção.
Portas e a direção deixaram de ter capacidade de iniciativa?

R Onde está aquela irreverência, a vontade de romper e afir­mar uma nova direita? Parece que há qualquer coisa que desa­pareceu, que falta. Há qualquer coisa que já não o anima. Parece que Portas desistiu. M.S.

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