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quarta-feira, 28 de janeiro de 2015

Marina Litvinenko. "Putin tem responsabilidades na morte do meu marido"

Marina Litvinenko, viúva do ex-agente do KGB Alexander Litvinenko, à saída do tribunal em Londres. Esta terça-feira 
Manuela Goucha Soares 
21:55 Terça feira, 27 de janeiro de 2015
O ex-agente russo Alexander Litvinenko tinha 44 anos quando morreu envenenado com Polónio 210, no dia 23 de Novembro de 2006. 
O Expresso disponibiliza online uma entrevista feita à sua viúva quando esta veio a Lisboa protestar contra a visita oficial de Putin a Portugal. 
A entrevista foi originalmente publicada a 27 de outubro de 2007.

Marina Litvinenko conheceu Alexander - Sasha para os amigos - no dia do seu 31º aniversário. 
A professora de danças de salão deixou-se conquistar pela tranquilidade de Sasha e nunca imaginou que o promissor funcionário dos FSB (Serviços de Segurança da Federação Russa), ex-KGB, haveria de morrer envenenado com Polónio 210, a 23 de Novembro de 2006, com 44 anos.

Na noite de 1 de Novembro de 2006 Litvinenko foi hospitalizado com sintomas daquilo que os médicos pensaram ser uma intoxicação alimentar. 
Dias mais tarde concluíram que tinha sido exposto a uma substância radioactiva muito forte. 
Morre no dia 23 e o diagnóstico de intoxicação com Polónio 210 só é feito depois da sua morte. 
No dia 1 Alexander encontrara-se com Lugovoy, principal suspeito da sua morte, no bar de um hotel em Londres.

EXP - Quando é que decidiu escrever a 'Morte de um Dissidente', onde conta como ocorreu a morte do seu marido?

Não foi uma decisão minha, mas antes uma resposta ao desafio de um agente literário. Chegámos a pensar num livro meu e num outro escrito pelo Alex Goldfarb, mas acabámos por decidir escrever apenas um, em conjunto. 
Neste processo, o Alex funcionou como as minhas próprias mãos. 
Tivemos pouco tempo, já que a proposta nos chegou em Dezembro e entregámos o texto em Maio.

EXP - A escrita foi dolorosa?

No princípio achei que não iria ser capaz. 
Mas quando começaram a aparecer notícias que acusavam o meu marido de ser espião - coisa que ele nunca foi - achei que tinha obrigação de repor a verdade. 
E a escrita ajudou-me a fazer o luto. 
Tinha tanta coisa cá dentro que precisava de fazer sair... 
Além disso, foi uma maneira de me proteger das perguntas dos jornalistas, porque enquanto estive a trabalhar no livro tinha uma justificação para não falar com ninguém.

EXP - Como é que a Marina e o seu filho - de 12 anos - viveram os últimos dias de Alexander?

No início, tínhamos muita esperança, não sabíamos do que se tratava. 
O Tolik ia visitar o pai todos os dias e fazia muitas brincadeiras para o animar. 
Quando o Sasha foi transferido do primeiro hospital onde esteve para o segundo, disse-me para não voltar a levar o Tolik, porque achava que um hospital não era local para crianças.

EXP - A agonia do seu marido durou 22 dias. Ele sabia que ia morrer?

Teve sempre muita força e nunca acreditou que ia morrer. 
Em muitos momentos, ao pensar na força dele, senti-me envergonhada por fraquejar, nomeadamente quando lhe ligaram a máquina de respiração assistida. 
Nessa altura não se sabia que a substância que tinha no corpo era radioactiva. 
Se soubessem tinham proibido as visitas.

EXP - Como soube da morte dele?

Já era de noite quando me telefonaram do hospital a dizer para ir até lá. 
O meu filho também quis ir. 
Mas quando chegámos, o Sasha já tinha morrido.

EXP - O seu marido converteu-se ao Islão pouco antes de morrer?

O Sasha era cristão. 
Não era praticante mas tinha uma relação com Deus. 
Quando foi internado tirei-lhe a cruz que usava ao peito por causa das radiografias. 
Anos antes, quando viveu na Tchetchénia, criou uma grande amizade com Achmed Zakaev, que o visitou quase todos os dias no hospital e lhe deu muita força durante o internamento. 
Um dia, em que já não tinha a cruz, perguntou a Zakaev como é que os muçulmanos falavam com Deus. 
Ele disse umas palavras em árabe, e Sasha repetiu-as. 
Foi isto que aconteceu.

EXP - Acha que Putin mandou matar o seu marido?

Não posso fazer essa afirmação. 
Mas posso perguntar porque é que Putin não extradita Andrei Lugovoi, o principal suspeito das autoridades britânicas. 
E porque é que Lugovoi se candidata a deputado nas próximas eleições de Dezembro. 
E como é que Sasha foi envenenado em Londres, com uma substância radioactiva, de acesso restrito, que não é vendida no mercado negro nem nunca deveria ter saído da Rússia. 
O Presidente Putin tem necessariamente responsabilidades sobre o paradeiro e o uso de substâncias tão perigosas como o Polónio 210. 
E também tem responsabilidades na decisão de não extraditar Lugovoi. 
E foi Putin quem disse pela primeira vez que a morte de Sasha não poderia ser transformada num jogo político.

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