Powered By Blogger

quinta-feira, 8 de janeiro de 2015

Há motivos para temer um governo do Syriza?

ALEXIS TSIPRAS
Líder do Syriza
GRÉCIA TESTA SOLIDEZ DA ZONA EURO
NUNO MARTINS
Terça-feira, 6 de Janeiro de 2015

Nos últimos anos, não é possível dis­cutir o futuro da Grécia sem falar do programa económico do Syriza.
Uma coligação vista por alguma esquerda como o farol para fugir à tormenta da austeridade e pelas instituições europeias e mercados financeiros com a or­ganização que vai empurrar a Grécia para fora da moeda única.
Um partido que se assume “radical”, mas que as­susta cada vez menos os investidores.

As sondagens continuam a colo­car o Syriza - acrónimo de Coligação da Esquerda Radical - à frente das in­tenções de voto para as eleições legis­lativas de 25 de Janeiro.
Caso se con­firme um cenário de vitória, o que aconteceria no dia seguinte?

O coração do programa da coliga­ção liderada por Alexis Tsipras é a re­negociação da dívida pública e do me­morando assinado com a troika.
O Syriza quer obter um perdão significa­tivo da dívida pública, colocando-a no caminho da sustentabilidade.
O rema­nescente deve ser financiado com cres­cimento económico (não com exce­dentes orçamentais).
Medidas que de­vem ser acompanhadas por alterações a nível europeu: investimento público fora das restrições do Pacto de Estabi­lidade e Crescimento; e compra direc­ta de dívida soberana pelo BCE.

Embora estes temas sejam os mais centrais para a discussão europeia, o programa do Syriza não se esgota aí.
No seu conjunto, “o programa de Salónica” deverá custar 11,4 mil milhões de euros e colocar, pela primeira vez, um Estado-membro em clara rota de colisão com as autoridades europeias.

Como já sucedeu no passado, a pressão sobre o eleitorado grego é enorme, com a previsão de cenários catastrofistas caso a coligação de es­querda vença.
Antecipa-se que seja en­cerrada a torneira de financiamento comunitário e temem-se fugas de ca­pitais do país e corridas aos bancos.

Tsipras tem-se esforçado para desdramatizar, apresentando um discur­so mais moderado, em que continua a manifestar a vontade de continuar no euro.
Embora sublinhe a necessidade de uma reestruturação da dívida, nos seus discursos já não há ameaças a fazê-lo unilateralmente.

Haverá negociações, haverá acordo e o memorando pertencerá ao passado, não só na Grécia, mas em toda a Europa

No final do ano passado, o Syriza enviou alguns dos seus economistas a Londres para explicarem o seu plano a representantes dos bancos da City.
Alguns mantiveram a sua postura crí­tica, mas outros estão hoje mais des­cansados.
Segundo o Financial Times, o Syriza “já não aterroriza alguns in­vestidores”.
“Acreditamos que Tsipras será mais pragmático do que a retóri­ca anterior do Syriza sugeria.
Abriu ca­nais diplomáticos com Berlim, Paris e Frankfurt e tem todos os incentivos para tentar negociar alterações relati­vamente cosméticas ao programa grego e cavalgar o início da recuperação, em vez de a fazer descarrilar”, disse ao Krishna Guha, do banco de investimento Evercore, àquele jornal.

Sábado, Tsipras prometeu nego­ciações “realistas” com as instituições comunitárias, mas sem se desviar do seu programa.
“Haverá negociações, haverá acordo e o memorando perten­cerá ao passado, não só na Grécia, mas em toda a Europa” À BBC, Nikos Samanidis, fundador do Syriza, admitia: “As elites, os mercados, os muito ricos, os 10% do topo, sim, esses têm razões para estarem preocupados.”

Mesmo que não seja o Syriza a es­ticar a corda, Bruxelas e a Alemanha podem reagir de forma violenta a estas pretensões.
A Der Spiegel noticiava do­mingo que Berlim considera pratica­mente inevitável a saída da Grécia do euro, caso o Syriza vença as eleições, abandone o compromisso de austeri­dade e insista em reestruturar a dívida

Sobre o programa económico, o actual Governo considera-o uma ilu­são por subestimar em muito o cus­to das medidas, antecipando um re­gresso a uma situação de crise orça­mental.
Outros dizem que a postura do Syriza é enganadora para os elei­tores, ao prometer “o melhor de dois mundos”: a recusa da austeridade em confronto com a Europa, dizendo, ao mesmo tempo, que ficará no euro.  NUNO AGUIAR
  
PROGRAMA DE SALÓNICA
Os quatro pilares do plano do Syriza

LIDAR COM A CRISE HUMANITÁRIA
O Syriza quer responder a situações de emergência e propõe, entre outras medidas, electricidade grátis e subsídios alimentares para 300 mil famílias abaixo da linha da pobreza, assim como a restituição do subsídio de Natal e medicamentos grátis para desempregados.
Pilar custaria 1,8 mil milhões de euros.

ESTIMULAR A ACTIVIDADE ECONÓMICA
Eliminação do imposto agregado sobre a propriedade e criação de um outro sobre grandes propriedades, reestruturação de dívidas privadas aos bancos, subida do salário mínimo para 751 euros e do limite de isenção de IRS para os 12 mil euros/ano.
Medidas devem custar 6,5 mil milhões de euros.

RECUPERAÇÃO DO EMPREGO
A coligação de esquerda promete implementar um programa de recuperação do emprego com o objectivo de criar 300 mil postos de trabalho, recuos nas medidas de liberalização do mercado de trabalho, no sentido de maior protecção dos trabalhadores.
Este pilar deverá custar 3 mil milhões de euros.

APROFUNDAR A DEMOCRACIA
São quatro passos:
organização regional do Estado, com mais autonomia para regiões e municípios;
maior estímulo à participação dos cidadãos através de novos instrumentos de poder popular;
limitação da imunidade dos deputados;
e regulação do sector de rádio e televisão.
Custos: zero euros.

Sem comentários:

Enviar um comentário