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quinta-feira, 8 de janeiro de 2015

Grécia fora do euro custa agora menos a Portugal

Receioscom saída da Grécia do eurovoltaram a agitar os mercados.
As bolsas afundaram, mas na dívida o stress foi reduzido
GRÉCIA TESTA SOLIDEZ DA ZONA EURO
ANDRE TANQUE JESUS
Terça-feira, 6 de Janeiro de 2015
Os receios de que a Grécia possa sair da Zona Euro pairam de novo sobre os mercados. As bolsas voltaram a ser agitadas mas, dizem os analistas, os abalos já não são como antigamente. Reformas de Portugal deverão manter o país a salvo.

As praças europeias vestiram-se de negro.
Numa sessão marcada pelos receios de que a Grécia venha a abandonar o euro, os mercados accionistas foram mesmo
os mais penalizados.
As principais bolsas europeias registaram fortes quedas, o euro afundou, ao passo que o efeito nos juros da dívida foi mais limitado.
Os mecanismos construídos pela Zona Euro, por um lado, e as melhorias registadas pelos restantes países da periferia, por outro, diminuíram o efeito de contágio que caracterizava a Grécia, dizemos analistas.
Já as agências de “rating” poderão adiar melhorias nas avaliações.

Os mercados até começaram bem o ano.
A sessão de sexta-feira, 2 de Janeiro, foi marcada por valoriza­ções, numa tendência sem continui­dade.
No passado domingo, a revista alemã Der Spiegel citava fontes anó­nimas do governo de Angela Merkel que apontavam para um maior desin­teresse em relação a uma possível saí­da da Grécia da Zona Euro.
O debate foi, assim, relançado e o pânico instalou-se nos mercados.
O euro recuou para mínimos de 2006.

As bolsas afundaram por toda a Europa, lideradas pela Grécia que caiu 5,70%.
Mas também o índice ita­liano recuou em força, ao perder 4,92%, enquanto o PSI-20 caiu 3,13%.
Mas também o mercado de dívida foi afectado, com os juros gregos a 10 anos a subirem 40,5 pontos base para 9,656%, ao passo que a “yield” portu­guesa avançou 10,7 pontos base para 2,525%.
Um impacto longe das ante­riores turbulências, quando os juros da dívida nacional chegaram a subir mais de 20 pontos base.


“A Grécia, por si só, tem pouco impacto.
Vale apenas 2% do PIB da Zona Euro e, de qualquer forma, tem estado em crise nos últimos cinco anos”, atira Christian Schulz.
Para o economista sénior do Berenberg, “é óbvio que, se a Grécia sair da Zona Euro de forma desordenada, os mer­cados ficarão agitados por algum tem­po noutros países vulneráveis”.
“Con­tudo, a Zona Euro tem em prática uma máquina de resgate bem olea­da”, defende, destacando que “o Me­canismo Europeu de Estabilidade, o programa de Operações Monetárias Directas do BCE e a provável compra de dívida soberana deverão ser sufi­cientes para proteger até as maiores economias” da região.

A Grécia, por si só, tem pouco impacto.
Vale apenas 2% do PIB da Zona Euro e, de qualquer forma, tem estado em crise nos últimos cinco anos.
CHRISTIAN SCHULZ
Economista sénior do Berenberg

“E justo dizer que Portugal está mais exposto [à turbulência grega] do que outros países”, aponta Robert Carnell, salientando que, “ainda as­sim, está numa posição bem melhor do que a Grécia”.
Para o director de economia global do ING, os países da periferia “têm feito progressos muito mais significativos para restaurar o equilíbrio orçamental e estrutural.
Por isso, diz, “a comparação já não faz sentido”.
E atira: “Os países da periferia parecem mais dinâmicos do que o do centro da Europa, como França”.

“Ratings” à espera

Numa altura em que os mercados sofrem pelos abalos gregos, o foco recai também sobre a nova temporada das agências de notação financeira.
Com Portugal na agenda da Moody’s para uma possível revisão, esta sexta-feira, 9 de Janeiro, Robert Camell acredita que, os problemas da Grécia só a esta pertencem e, por isso “qualquer subida do ‘rating’ do actual ‘lixo’ não deverá ser atrasada por muito tempo”.
Já Christian Schulz aponta que uma saída da Grécia poderá levar as agências a “hesitarem”.
Contudo, diz, "enquanto Portugal continuar com as reformas, a Grécia não deverá ter muito impacto”.


CONTÁGIO
Porque é que o cenário da saída da Grécia do euro não apavora?

É precipitado assumir que uma Grécia governada pela extrema-esquerda e eventualmente excluída do euro não tenha impacto noutros países.
Mas a avaliar pelo comportamento dos mercados de dívida pública, esse cenário está, por ora, a penalizar apenas próprio país.
Porquê?

DÍVIDA GREGA ESTÁ QUASE TODA EM MÃOS “OFICIAIS”. EXPOSIÇÃO DO SECTOR PRIVADO É MAIS LIMITADA
Ao contrário do que sucedeu em 2010, quando foi negociado o primeiro resgate à Grécia, a maior parte da dívida pública do país está agora em mãos “oficiais”, ou seja, de Estados membros do FMI e, essencialmente, também da Zona Euro. Isto sucede depois de em 2012 (quando foi acorda­do o segundo resgate) ter sido imposto aos privados (fundamentalmente bancos) que perdoassem cerca de dois terços da dívida da Grécia.
Se um novo governo em Atenas renunciar ao pagamento de parte da enorme dí­vida que ainda acumula (mais de 170% do seu PIB) isso afectará directamente os orçamentos públicos de outros Estados, sobretudo o alemão e o francês, maiores fiadores dos empréstimos europeus - no caso de Portu­gal, estão em causa cerca de 750 milhões de euros.
Os canais de contágio ao sector privado - em particular à banca - são, ao invés, agora mais limi­tados e, logo, são menores os riscos de derrocadas na banca com impac­tos negativos nos fluxos de crédito às empresas e famílias, que afectam mais directamente a economia real.

ZONA EURO TEM AGORA UM FUNDO DE SOCORRO PARA APOIAR PAÍSES QUE PERCAM ACESSO AOS MERCADOS FINANCEIROS
Em 2010, a Zona Euro estava tão despreparada que o primeiro resgate à Grécia foi montado com base em empréstimos bilaterais dos países euro­peus.
Neste momento, dispõe de um fundo de resgate permanente - o Me­canismo Europeu de Estabilidade (MEE) - com capacidade de emprestar até 700 mil milhões de euros a países que se vejam impossibilitados de aceder aos mercados financeiros em virtude de uma escalada das taxas de juro.
O acesso a esse fundo exige, porém, a negociação prévia de um pro­grama de assistência no quadro de um memorando em que será envolvi­do o FMI - o que pressupõe negociações políticas sempre complexas.
Por outro lado, os fundos disponíveis poderão revelar-se insuficientes se os mercados se fecharem a um dos “grandes” do euro - uma Itália ou França.

BCE TEM UM PROGRAMA DE COMPRA DE DÍVIDA, MAS QUE NUNCA FOI TESTADO E QUE PODE SER ILEGAL
Numa segunda linha de apoio a países com dificuldade de acesso aos mer­cados financeiros, o BCE criou o programa de compra de dívida pública nos mercados primário e secundário (OMT, na sigla inglesa), cuja activação exi­girá igualmente a negociação prévia de um memorando, no quadro de um empréstimo do MEE.
O programa nunca foi testado e a sua legalidade foi inclusive contestada pelo tribunal constitucional alemão que o enviou, para escrutínio final, para o tribunal europeu de justiça, onde permanece.

BANCA ESTÁ MAIS PROTEGIDA DE FALÊNCIAS COM IMPACTO SISTÉMICO
A união bancária é ainda um estaleiro, mas de pé está o pilar da supervi­são centralizada no BCE; todos os países estão a criar fundos de resolução financiados pelo sector para acudir a falências de um dos seus congéne­res; e os investimentos dos bancos em dívida pública passaram a ter de ser actualizados em função da variação do seu valor de mercado. eva gaspar 


PÓS-ELEIÇÕES
Três cenários que pairam sobre a Grécia


Os cenários possíveis no pós-eleições dependem do formato da nova coligação e de quem a lide­rar.
Vão do “status quo” a uma re­núncia unilateral da dívida públi­ca.
Os cenários prováveis encai­xam-se espectro mais curto.

PACTO COM REFORMAS. TROIKA MANTÉM FLUXO
O cenário que garantirá maior esta­bilidade passa por um compromis­so que dê continuidade às reformas que têm sido executadas no país.
Desta forma, as exigências dos cre­dores continuavam a ser cumpridas e, por isso, a Grécia manteria a aju­da externa, sob a forma de financia­mento.
Contudo, se este é o cenário ideal para mercados financeiros, será também o menos provável.
O Syriza, actualmente à frente das in­tenções de voto para as eleições, re­jeita veemente esta possibilidade.

REESTRUTURAÇÃO NEGOCIADA
Em cima da mesa há outro cenário que possivelmente não teria fortes repercussões.
Um acordo entre o novo Governo helénico e os credo­res internacionais com vista a uma redução dos juros e a um alargamento das maturidades satisfaria, em parte, as intenções de Alexis Tsipras e afastaria os receios de que o país sairia da Zona Euro.
Esta é a hi­pótese talvez mais verosímil, embo­ra geradora de tensão.

PERDÃO DA DÍVIDA SÓ “IN EXTREMIS”
Mais difícil e, por isso, muito pouco provável, seria a Europa e o FMI res­ponderem afirmativamente à exi­gência de um corte substancial na dívida do país, como diz querer o Syriza.
Esta possibilidade seria ino­vadora na história do FMI e acarre­taria transferir a responsabilidade da dívida grega para os contribuin­tes dos países credores. ATG

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