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sábado, 29 de setembro de 2018

Justiça angolana vai começar a responsabilizar criminalmente os corruptos

ANGOLA
Ana Gomes Ferreira
13 de Setembro de 2018, 17:45 

Manuel Vicente foi vice-presidente de Angola
Que relação há entre as mudanças nos órgãos de cúpula do MPLA e o início da campanha iniciada por João Lourenço que visa levar à Justiça os responsáveis corruptos? 
Manuel Vicente foi um dos que saíram e o seu envolvimento na Operação Fizz já está nas mãos da Justiça de Luanda.

Não se fala em nomes. 
Nem em cargos. 
Apenas que a Justiça angolana vai começar a responsabilizar “criminalmente os corruptos”, segundo a edição desta quinta-feira do Jornal de Angola, considerado o órgão oficial do Governo.

No artigo, que faz a manchete da edição online do jornal, é explicado que as acções vão ter como base “auditorias internas ou externas”, que se destinam a identificar “falhas no cumprimento da lei das boas práticas e princípios da boa governação”. 
Estas auditorias já decorrem “num ritmo satisfatório”.

No sábado, a encerrar o congresso extraordinário do MPLA (partido no poder em Angola desde a independência, em 1975), o Presidente, João Lourenço, disse que uma das prioridades do país e do partido é a luta contra “a corrupção, o nepotismo, a bajulação e a impunidade que se implantaram nos últimos anos e que muitos danos causam à economia e à credibilidade do país”. 
Acrescentou que essa luta seria travada contra qualquer infractor — “mesmo que os primeiros a tombar sejam altos militantes e altos dirigentes do partido".

Segundo o Jornal de Angola, a identificação das falhas vai começar já em Outubro e é a segunda fase de um processo. 
A primeira, em período de conclusão, arrancou em Maio com a formação dos funcionários do Ministério da Justiça e dos Direitos Humanos, de forma a dar-lhes ferramentas para identificarem crimes de corrupção e para agirem na sua prevenção. 
A data do arranque da terceira fase, a criminalização, não é avançada no artigo.

Fazendo eco das palavras do Presidente, o procurador-geral da República, Hélder Pitta Grós, comparou a corrupção a um cancro, pelos prejuízos que causa ao desenvolvimento económico e alertou para o facto de “um poder que se serve, em vez de servir, ser um poder que não serve”.

O procurador alertou para o facto de a guerra contra a corrupção poder encontrar na Justiça um obstáculo. 
Francisco Queiroz, ministro da Justiça e dos Direitos Humanos, reconheceu que dirige um sector afectado pela corrupção, segundo o Jornal de Angola. 
Para a extirpar, defendeu, é “urgente a promoção dos valores da transparência, da lealdade e rigor”. 

Do bureau político, e segundo o diário angolano Novo Jornal, saíram quase metade dos 52 elementos que o compõem, incluindo alguns “históricos”, como o ex-vice-presidente Roberto de Almeida — que desde 2015 pedia a sua saída da política activa por motivos de saúde, segundo o site de informação Club K —, os generais António França “Ndalau” e Francisco Magalhões N’Vunda, antes muito influentes, e três dos seis governadores que já nesta semana foram exonerados (os do Cunene, Huambo e Huíla). 
Alguns dos que saíram foram substituídos por actuais membros do executivo (oito ministros e quatro governadores). 

No mesmo artigo em que dava conta destas mudanças, o Novo Jornal falava da criminalização dos actos de corrupção: “Cresce a expectativa sobre a relação entre as mudanças anunciadas e uma eventual responsabilização penal de figuras destacadas do MPLA que enfrentam suspeitas de vários crimes.” 
Ambos saíram do bureau político do MPLA.

Outra saída é a de Manuel Vicente, o antigo vice-presidente na origem da deterioração das relações entre Angola e Portugal devido à Operação Fizz, em que se questionou a origem de 3,8 milhões de euros que pagou por um apartamento de luxo no Estoril.

Vicente sai da cena política angolana depois de Luanda ter conseguido que a parte do processo Fizz que lhe diz respeito transitasse para a Justiça angolana — resta saber que andamento terá à luz da notícia do Jornal de Angola.

Figueira primeiro e, depois, outro colega arquivaram o caso. 
Mas o negócio voltou a ser investigado e a primeira sentença da Operação Fizz está marcada para 8 de Outubro. 

Sobre o andamento do caso em Angola nada se sabe. 
Mas a separação dos processos — ou seja, a transição da parte sobre Vicente para a Justiça angolana — permitiu a pacificação das relações diplomáticas e o anúncio da visita, já na segunda-feira, do primeiro-ministro português, António Costa, a Angola. 
João Lourenço visita Portugal a 23 e 24 de Novembro.

ana.gomes.ferreira@publico.pt

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