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quarta-feira, 10 de dezembro de 2014

Os próximos avanços do comércio

As notícias económicas são sombrias em todo o mundo. 
Este ano, o crescimento da economia tem sido decepcionante, e o Fundo Monetário Internacional espera apenas uma ligeira melhoria em 2015. 
A Europa poderá cair de novo numa recessão, e até mesmo a economia alemã, outrora robusta, está à beira do desastre. 
A China está a desacelerar, e o Brasil, Rússia e Índia estão a lutar contra a estagnação.


MICHAEL BOSKI
09 Dezembro 2014, 10:02 por Michael Boskin



Por isso, é uma pena que três oportunidades importantes para o crescimento – a ronda de Doha da Organização Mundial do Comércio, a Parceria Trans-Pacífico (TPP, na sigla inglesa) na região da Ásia-Pacífico, e a Parceria de Comércio e Investimento Transatlântico (TTIP, na sigla inglesa) entre os Estados Unidos e a Europa – estejam a ser negligenciadas. 
Se projectadas correctamente, as três têm potencial para impulsionar o crescimento global. Através da redução de barreiras tarifárias e não-tarifárias, da protecção da propriedade intelectual, bem como da harmonização de regulamentos, podiam ser gerados centenas de milhares de milhões de dólares - e milhões de empregos com melhor remuneração.

Esta é a lição do Acordo de Livre Comércio da América do Norte (NAFTA, na sigla inglesa), que celebra o seu 20º aniversário este ano. 
Em "NAFTA at 20", um livro que editei, políticos e estudiosos explicam como o tratado de comércio exemplifica os benefícios da liberalização do comércio - e por que os líderes políticos devem segui-lo.

A eliminação de tarifas entre o Canadá, o México e os Estados Unidos foi inovadora, arriscada, e controversa. 
O NAFTA tornou-se um foco de queixas sobre a globalização, o capitalismo, e o declínio do trabalho organizado. 
Muitos defenderam que o tratado iria diminuir os salários, destruir postos de trabalho, e devastar a indústria agrícola nos Estados Unidos. 
Em vez disso, o NAFTA impulsionou as economias dos três signatários e tornou-se no modelo de centenas de acordos de livre comércio subsequentes.

O NAFTA ajudou a abrir o que o ex-ministro do Comércio mexicano Jaime Serra Puche descreveu como "uma economia altamente proteccionista durante cinco ou seis décadas". As exportações agrícolas norte-americanas ameaçaram alguns agricultores mexicanos, mas outros foram capazes de aumentar as suas exportações para os Estados Unidos – e os seus lucros. 
Ao mesmo tempo, os consumidores do país, especialmente a classe urbana mais pobre, beneficiaram de preços mais baixos dos alimentos. 
De acordo com Stephen Haber, meu colega na Hoover Institution, da Universidade de Stanford, "depois do NAFTA, e em grande medida por causa dele, a economia mexicana e o processo político tornaram-se muito mais competitivos".

O Canadá também teve benefícios. 
As empresas e os trabalhadores do país aumentaram a sua produtividade em 14%, o equivalente a uma década de melhoria nos padrões de vida, como explicou o economista da Universidade de Toronto Daniel Trefler. 
Já o ex-ministro das Finanças do país, Michael Wilson, refere: "O Canadá ... é hoje uma economia muito mais moderna do que teria sido".
Ao mesmo tempo, Canadá e México tornaram-se nos dois principais mercados de exportação dos Estados Unidos, responsáveis por 625 mil milhões de dólares em 2013, mais do que os dez maiores mercados seguintes, no seu conjunto. 
Antes do NAFTA, as exportações para o México igualavam as exportações para o Reino Unido e cerca de metade das do Japão. 
Além disso, este aumento do comércio criou numerosos empregos bem remunerados.

O NAFTA produziu algo muito diferente da terceirização que os seus opositores previram. Cerca de 40% do que os Estados Unidos importam do México, tem, na verdade, origem nos Estados Unidos. 
Em relação ao Canadá, essa percentagem é de 25%. 
Para a China, por outro lado, a percentagem é de apenas 4%. 
"Nós não estamos apenas a vender coisas um para o outro", explica Serra Puche. 
"Agora, estamos a produzir coisas em conjunto".

De acordo com Lorenzo Caliendo, economista da Yale School of Management, o crescimento do comércio transfronteiriço e o aumento dos salários reais (ajustados à inflação) nos três países podem ser atribuídos ao NAFTA – mesmo tendo em consideração outros factores como a abertura da China, a crise do peso, a bolha tecnológica e a Grande Recessão. 
Em suma, como o ex-secretário de Estado norte-americano George Shultz observou, "o NAFTA transformou a região".

Hoje, o NAFTA pode continuar a servir de modelo para as negociações comerciais em curso. 
Um NAFTA 2.0 poderia centrar-se em áreas que foram originalmente excluídas, tais como a mobilidade laboral e a energia. 
O desenvolvimento das areias petrolífera do Canadá, a revolução do gás de xisto nos Estados Unidos, bem como a abertura do sector petrolífero do México ao investimento estrangeiro implicam a maior mudança geopolítica desde o colapso do comunismo.

Além disso, a finalização da TPP ou da TTIP poderia estimular avanços na ronda de Doha da OMC. 
"Não há dúvidas de que um grande acordo de qualidade, agora, como foi o NAFTA em 1994, poderia significar um grande avanço para o multilateralismo", assinala a ex-representante comercial dos Estados Unidos, Carla A. Hills.

A liberalização do comércio tem estado paralisada há demasiado tempo. 
Desde o fim da Segunda Guerra Mundial, os presidentes americanos, democratas e republicanos, têm promovido o livre comércio como um dos principais pilares do crescimento. 
John F. Kennedy lançou o que se viria a tornar a Ronda Kennedy do Acordo Geral sobre Tarifas Aduaneiras e Comércio, e Bill Clinton ajudou a garantir a aprovação do Nafta no Congresso, assim como da Ronda Uruguai de negociações comerciais, que foram iniciadas e negociadas durante os mandatos dos presidentes George H.W. Bush e Ronald Reagan.

O presidente Barack Obama tem promovido a Parceria Trans-Pacífico na Ásia, mas só recentemente pediu ao Congresso autoridade para negociar por uma via rápida (possibilidade para solicitar um voto de aprovação ou rejeição, sem emendas). 
O pedido de Obama foi rejeitado pelo líder da maioria democrata no Senado, Harry Reid. 
O novo Senado, controlado pelos republicanos, deve agir rapidamente para aprová-lo. 
"Não poderíamos ter terminado as negociações do NAFTA sem a via rápida", defende Hills.

Ninguém vai negociar de forma séria com os Estados Unidos se o Congresso puder fazer as alterações que quiser. 
O ex-representante comercial dos Estados Unidos, Mickey Kantor, recorda as negociatas de Clinton com os democratas no Congresso para se unirem aos republicanos com o objectivo de superar as alas proteccionistas de ambos os partidos e aprovar o NAFTA. Obama e a nova maioria republicana devem agora decidir se vão seguir os passos dos seus antecessores e desencadear uma nova era de crescimento económico.

Michael J. Boskin, professor de Economia na Universidade de Stanford e membro sénior da Hoover Institution, foi presidente do Conselho de Assessores Económicos de George H. W. Bush de 1989 a 1993.

Direitos de Autor: Project Syndicate, 2014.
Tradução: Rita Faria

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