Powered By Blogger

segunda-feira, 30 de dezembro de 2013

«0s idosos não estão representados»

«0s idosos não estão representados»

Manuel Villaverde Cabral
Diretor do Instituto do Envelhecimento

Sociólogo reformado do instituto de Ciências Sociais (ICS) da Universidade de Lisboa, mas ainda no activo Manuel Villaverde Cabral dirige há três anos o Instituto do Envelhecimento, uma unida­de autónoma de investigação dedicada à faixa da população mais falada nos últi­mos tempos por causa da austeridade

P Os direitos dos idosos não estão bem representados em Portugal?
R Nem bem nem mal. Não estão representados.

P A APRE (Associação de Aposentados. Pensionistas e Reformados), criada já du­rante a crise, não os defende?
R É uma associação de pessoas com pen­sões ditas milionárias. São pessoas superqualificadas, bem colocadas no siste­ma social português e todas com acesso aos media. Dá-se o caso de eu estar na mesmíssima situação. Compreendo o problema deles, mas não sou membro dessa associação e não a considero minimamente representativa dos três mi­lhões de reformados e pensionistas.

P Só a elite de idosos está defendida?
R Sim, e porque lhes tocaram nas reformas. Essa é a posição da Dra. Ferreira Leite, por exemplo, que é inspiradora dessa ideologia.

P Manuela Ferreira Leite está a falar em causa própria?
R Única e exclusivamente.

P Com os níveis de desemprego atuais e com o aumento da idade de reforma, ha­verá mercado de trabalho para pessoas com mais de 60 anos?
R Os reformados e pensionistas portu­gueses são, em média, dos mais idosos na Europa. Os nossos funcionários públi­cos são dos que se reformam mais tarde. Porque não é tão mau quanto isso. Falo por experiência própria. Porque é que um professor não há de ficar até ao fim? Claro que se uma pessoa de 60 anos fica desempregada, é de pensar que não terá emprego. Por isso tem de haver um mecanismo de reforma antecipada, de pré-reforma.

P O Governo está a aumentar muito as penalizações para quem se reforma mais cedo.
R Mas ainda assim reformam-se. Por ou­tro lado, a poupança em Portugal voltou a aumentar.

P Como vê o grupo de investigação do Centro de Estudos Sociais da Universida­de de Coimbra dirigido por Carvalho da Silva, que tem estado a trabalhar para propor soluções concretas para a crise?
R Não costuma acontecer lá fora,
onde as pessoas que têm contributos a dar nesse campo vão trabalhar nesse cam­po. Lemos e discutimos esses papéis (do grupo de Carvalho da Silva). O Boaventura Sousa Santos (director do Cen­tro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra) é um grande sociólogo, mas não foi com papéis daqueles que ganhou o prestígio merecido que tem. Ou a ciência social tem obrigações me­todológicas ou foge de ser ciência social. E é ideologia. Pelo menos, neste caso concreto. Há uma ala de esquerda não partidarizada.

P Refere-se á ideia de unir as esquerdas para as eleições europeias em torno da figura de Carvalho da Silva?
R Claro. Neste momento há uma superelite que se recruta em grande parte na universidade e que sente haver, nesta si­tuação de crise, uma oportunidade. Uma oportunidade para essa elite.

P Para ascender ao poder?
R Para ter mais peso no exercício do po­der. O Rui Tavares é um antigo aluno do ICS. Inventou um partido para ver se é eleito. Não serei eu a votar nele. É um teste. Sabemos que o número de vo­tos necessários para eleger um deputa­do europeu é baixíssimo. Tanto mais baixo quando 60 a 70% da população se arrisca a não votar. Esse é o proble­ma que eles, como cientistas políticos e sociais, deviam enfrentar; por que ra­zão, quando as propostas políticas são mais do que muitas, a população não vota? Não é um sinal de debilidade da sociedade civil.

P Se a abstenção não é um sinal de debi­lidade da sociedade civil, é um sinal de quê?

R A maioria da população sofre de um problema identificado e estudado; dis­tância ao poder. E por isso retira-se. A propósito de uma crise parecida com es­ta que estamos a ter, de 1890, Salazar escreveu esta frase sinistra; “É verdade que o povo podia ter-se revoltado, mas preferiu votar os partidos ao mais pro­fundo desprezo’’. É terrível. Não é indi­ferença, é uma posição. Até por isso, as sondagens são muito difíceis de fazer. Há uma probabilidade grande de sur­presas. Depende imenso de quem se abs­tém. E é sabido que quem menos se abs­tém é a extrema-esquerda – e a extre­ma direita. São pessoas teimosas. Quando se lhes pergunta, elas respondem.

Sem comentários:

Enviar um comentário